sábado, 17 de setembro de 2011

Conselho n.º 2: compreender a câmara (continuação)

4. O modo S

Os textos que aqui publico não têm a pretensão de formar um manual; muitos dos meus conhecimentos estão ainda incompletos, pelo que apenas me atrevo a escrever sobre aquilo que a minha curta experiência me diz ser correcto e cuja correcção pude comprovar repetidamente. No caso do modo S, de Shutter priority («prioridade ao disparador»), a minha experiência diz-me que este modo de exposição é apenas usado quando o motivo requer velocidades de disparo muito baixas ou muito altas, sendo pouco prático de usar em circunstâncias normais. Ao seleccionar S, estamos a deixar que a câmara escolha qual a abertura mais apropriada em função das condições de luz, bem como a sensibilidade ISO – se esta estiver programada para ser seleccionada automaticamente pelo fotómetro.
Vejamos o que se passa nestas circunstâncias: quando queremos fotografar à noite, ou ao lusco-fusco, importa que a exposição seja maior do que sob luz intensa. Quanto menos luz, menor deve ser a velocidade do disparo. Para que a exposição se prolongue, de maneira a que o sensor capte o máximo de luz possível, a velocidade de disparo deve ser reduzida, podendo ser necessário que a exposição dure alguns segundos. Há até um modo denominado Bulb, pelo qual o obturador permanece aberto durante períodos que podem ultrapassar os 30 segundos. O que pode levantar um problema se a intenção for captar objectos em movimento, caso em que não existe outra alternativa para além de aumentar a sensibilidade ISO - o que, como sabemos, tem um preço a pagar no incremento do ruído na imagem.
Já escrevi aqui sobre a fotografia nocturna, pelo que remeto para o respectivo texto. Além da necessidade de um tripé para fotografar à noite referida no texto anterior, importa ter em consideração a lente. Uma das maravilhas de ter uma DSLR ou uma câmara como as Olympus Pen (ditas «compactas de lentes intermutáveis») é a possibilidade de escolher a lente mais adequada para as condições em que se pretende fotografar. Para fotografar com pouca luz é fundamental que se usem lentes com aberturas grandes. Digamos qualquer coisa entre f2.0 - ou menos - e f3.5. Lentes com aberturas mínimas a partir de f3.5 são desaconselháveis, porque obrigam a que se empreguem velocidades de disparo demasiado lentas para compensar as fracas características de luminosidade da lente, o que pode não ser o mais adequado. O que significa, quase forçosamente, que se devem usar lentes grande-angulares, uma vez que as zoom tendem a ter aberturas reduzidas - e tanto mais quanto maior for a distância focal escolhida. Há excepções; há teleobjectivas com grandes aberturas, e outras cuja abertura é invariável seja qual for a distância focal, mas estas lentes são caríssimas.
O modo S não serve apenas para fotografar à noite: serve também para seleccionar velocidades de disparo altas em quaisquer outras condições de luminosidade, por exemplo para captar objectos em movimento. A velocidade escolhida deve ser directamente proporcional àquela com que o objecto se desloca. Nestas circunstâncias não é prático estar a seleccionar a melhor abertura, uma vez que se pode perder o momento ideal para fotografar; deixar a abertura ao critério da câmara é a melhor solução para obter bons resultados. Por outro lado, tentar fotografar estes objectos no modo P pode ser um fracasso, já que o fotómetro vai sempre demorar algum tempo a calcular a velocidade e a abertura ideais. Isto pode prejudicar a focagem, ou mesmo levar a que o objecto já não esteja lá quando a câmara finalmente se resolveu a disparar...
É possível fazer fotografias imensamente interessantes com recurso ao modo S: jogando com a velocidade do disparador, podemos obter fotografias em que se congela o motivo mas o plano de fundo é arrastado, parecendo estar em movimento, ou o efeito inverso. É também no modo S, escolhendo uma velocidade de disparo relativamente lenta e um valor ISO baixo, que se obtém o efeito de arrastamento dos motivos, que pode resultar em imagens espectaculares (ou, dependendo do ponto de vista, ser interpretado como inépcia do fotógrafo...). Este modo permite exercitar a criatividade do fotógrafo de uma maneira que é simplesmente impossível nos modos automáticos, que tendem sempre a escolher as regulações correctas para que a imagem resulte nítida. E a nitidez nem sempre é o que se pretende.

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