quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Fotografar na rua (continuação)

Uma vez conhecidos os requisitos técnicos, é altura de dar a conhecer os pontos de vista de um neófito (embora familiarizado com a obra dos melhores fotógrafos) quanto ao objecto da fotografia de rua. Há duas linhas de força essenciais nesta fotografia: o interesse intrínseco das imagens e a espontaneidade dos motivos.
A fotografia de rua é sinónimo de pessoas. Quer estas sejam o motivo directo, quer sejam figurantes na imagem da rua, a fotografia de rua caracteriza-se pela presença de pessoas. O que lhe garante, desde logo, algum interesse: as fotografias de pessoas, ou a sua presença na imagem, tendem a atrair mais o olhar de quem vê fotografia do que simples paisagens ou monumentos. Importa que se captem pessoas de modo original, quer pelas suas expressões, quer por gestos, pela peculiaridade da indumentária ou qualquer motivo que as faça sobressair. Mesmo uma fotografia de um motivo aparentemente banal, como duas pessoas a caminhar, pode resultar bem se houver um determinado enquadramento, ou outras circunstâncias que tornem a fotografia mais interessante. Por vezes não são as pessoas em si que conferem interesse à imagem, mas outros objectos, ou determinados ângulos e enquadramentos. Tudo depende da percepção do fotógrafo e da sua capacidade de traduzir o que viu numa imagem. Por vezes o uso de motivos implícitos produz resultados espantosos na fotografia de rua: a simples sugestão da presença de uma pessoa (por ex. uma sombra, ou umas pernas) confere um interesse acrescido à fotografia, sugerindo mais do que aquilo que se vê.
 A outra característica essencial da fotografia de rua é a espontaneidade. A fotografia de rua tem o objectivo de capturar instantes mais ou menos significativos (i. e. importantes) da vida das grandes cidades tal como eles acontecem e os vemos. é muito importante que as pessoas não se apercebam da presença do fotógrafo; não por voyeurismo, nem por agir como um paparazzo, mas para que as cenas não percam a espontaneidade. O fotógrafo deve permitir que a cena que quer captar se desenrole com normalidade; quando os intervenientes da cena se apercebem da presença de uma câmara, podem reagir mal ou, quando não se importam com o facto de serem fotografados, modificar o seu comportamento por pensarem que isso beneficia a fotografia. Nestas circunstâncias, o fotografado vai tender a posar para o fotógrafo a partir do momento em que vê a câmara. Quando isto acontece, existe o risco de a fotografia perder imediatamente a espontaneidade e, como tal, o interesse artístico. Há, naturalmente, excepções - penso que a fotografia ao lado é uma delas, porque há, apesar do olhar dirigido para a câmara, uma dose elevada de espontaneidade -, mas a regra é a fotografia de rua transformar-se em fotografia de retrato quando o sujeito posa deliberadamente para a câmara.
Uma última palavra quanto ao local mais apropriado para a fotografia de rua. Esta deve ser tomada em locais públicos, de maneira a não colidir com o direito à imagem das pessoas fotografadas (cf. o texto sobre aspectos legais da fotografia). Estes lugares devem ter gente neles, obviamente, ficando ao critério do fotógrafo decidir se quer fotografar em ruas muito povoadas - o que multiplicará as suas possibilidades de obter fotografias interessantes - ou pouco povoadas. Podem obter-se fotografias extremamente interessantes apenas com uma pessoa, mas a multiplicidade significa que existem centenas de pequenas histórias com valor fotográfico a acontecer debaixo dos nossos olhos.

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