sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Conselho n.º 2: compreender a câmara (continuação)


3. O modo A

Por este comando, que nas Canon e Pentax é designado «Av» (Aperture value), o fotógrafo controla a abertura do diafragma e a câmara selecciona a velocidade de disparo mais adequada. A abertura é o modo de fazer variar a quantidade de luz que a lente deixa entrar no sensor. As lentes têm um diafragma, constituído por diversas lâminas, que controla a quantidade de luz captada contraindo ou expandindo as lâminas. A cada posição do diafragma corresponde um número designado por «número f». Quanto mais alto for este número, menor a abertura.
Uma vez que a fotografia é a captação de luz, a abertura é absolutamente determinante para a qualidade da imagem. É pelo controlo da abertura que se determina a quantidade de luz que chegará ao sensor, o que tem implicações não apenas na luminosidade da imagem, mas também na focagem e na profundidade de campo.
Determinar manualmente a abertura é algo que tem interesse em determinadas aplicações: podemos usá-la quando instalamos uma lente com comando manual da abertura, se quisermos que seja a câmara a decidir qual a velocidade do disparo mais adequada à abertura escolhida, ou quando pretendemos obter determinados efeitos jogando com a focagem.
Referi que a abertura tem implicações na focagem. Com efeito, a abertura determina-a da mesma maneira que nós usamos os olhos para ver objectos ao perto ou ao longe: abrimo-los o mais possível para ver nitidamente um objecto próximo e tendemos a semicerrá-los para observar algo distante. Com as lentes é a mesma coisa, uma vez que o diafragma simula a nossa íris, mas os efeitos de focagem e desfocagem são exacerbados, já que os nossos olhos tendem a ver com maior nitidez (pelo menos enquanto não perfizermos quarenta anos, altura em que começamos a frequentar o oftalmologista com mais assiduidade...).
Ora, quando conseguimos ver algo longínquo com nitidez, o que está entre os nossos olhos e o objecto tende a manter-se nítido; quando concentramos o olhar num objecto próximo, perdemos acuidade visual de tudo o que rodeia o objecto. A câmara e a lente comportam-se sensivelmente da mesma maneira. Se queremos manter tudo em foco, usamos uma abertura pequena e, se queremos focar apenas um determinado plano, escolhemos uma abertura maior. É isto que se designa por profundidade de campo.
Se repararem bem, as lentes contêm uma indicação quanto à distância coberta: por ex. 0.30-∞. Isto significa que a sua profundidade de campo vai da distância mínima em relação ao objecto (neste caso 30cm) até ao infinito, valor esse que se modifica conforme a abertura e a distância da lente em relação ao objecto. A profundidade de campo não é regulada por um comando - embora algumas lentes permitam calculá-la -, mas é determinada pela abertura e pela distância entre a câmara e o objecto. Uma profundidade de campo diminuta produz imagens desfocadas, ao passo que uma profundidade longa mantém todo o campo de visão nítido.
Exemplo de profundidade de campo reduzida: o fundo está, propositadamente, desfocado. A abertura usada para esta foto foi f4.2, próxima da abertura mínima da lente (4.0)
É o modo A que deve ser usado quando queremos usar a focagem selectiva, i. e. quando queremos destacar um objecto mantendo-o em foco e deixando que tudo o resto (não necessariamente apenas o plano de fundo) permaneça desfocado. Aquelas fotografias que vemos com um objecto perfeitamente em foco e o fundo desfocado são obtidas seleccionando uma grande abertura (a que corresponde um número f baixo), aproximando a câmara do objecto e focando sobre o motivo que se pretende manter nítido. É extremamente simples obter este efeito nos modos de exposição avançada, sendo os resultados superiores aos obtidos quando se selecciona o modo «Macro» da câmara.
Temos, deste modo, que a profundidade de campo depende do valor da abertura; daí que o controlo desta seja fundamental para obter a focagem desejada. Se optarmos por uma abertura ampla, a profundidade de campo reduz-se, ao passo que aberturas estreitas alongam a profundidade de campo.
Há algumas variáveis que importa considerar. Antes de mais, quanto menor a abertura, menor é a quantidade de luz, o que pode originar fotografias tremidas porque o fotómetro, para compensar a menor quantidade de luz captada, vai seleccionar uma velocidade de disparo reduzida. Aberturas estreitas podem tornar necessário o uso de um tripé.
Por outro lado, a resolução da imagem pode não ser a melhor quando se escolhem aberturas demasiado amplas ou diminutas. Por regra, a melhor resolução obtém-se nas aberturas intermédias (f5.6, f8, f11). Devem assim evitar-se os extremos mínimo e máximo da abertura.
Por fim, deve notar-se que existe uma relação proporcional entre a profundidade de campo e a distância focal da lente: quanto maior for esta, mais reduzida é a profundidade de campo. É mais simples obter nitidez ao longo de toda a imagem numa grande-angular de 50mm que numa teleobjectiva de 300mm. 

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