sábado, 24 de setembro de 2011

Conselho n.º 4: fazer tudo à mão

O conselho que vou dar de seguida pode ser interpretado por alguns como uma bizarria ou uma excentricidade, mas estou plenamente convicto, pelo que a experiência me mostrou, da sua validade: usem a focagem manual. Não digo que a usem sempre, em todas as ocasiões, mas procurem usá-la sempre que for possível ou prático fazê-lo. Vão ficar surpreendidos com o que se pode aprender focando manualmente.
O domínio da focagem manual fez-me compreender melhor o uso da abertura e um conceito importantíssimo em fotografia: a profundidade de campo. Os mais afortunados de entre vós terão uma lente com um pequeno visor na base, ou mesmo com alguns algarismos e marcações junto ao anel de focagem; estas informações não estão ali apenas para dar um aspecto mais sofisticado e complexo à câmara: são escalas de distância. Servem para determinar (manualmente) a profundidade de campo ideal mediante uma dada abertura. Usando-as, é possível determinar a focagem mesmo sem olhar para o visor ou ecrã. Acreditem se quiserem: não há melhor maneira de aprender fotografia que usar a focagem manual.
Nem sempre o ideal é manter tudo em foco: por vezes é desejável usar uma focagem um pouco menos que perfeita para obter um determinado efeito, como na fotografia acima. Ora, o sistema de focagem da câmara tende a obter a maior nitidez possível ao longo da imagem, e só a focagem manual pode contrariar essa tendência irritante da câmara para nos mostrar que sabe mais do que nós sobre fotografia e ela é que decide como a focagem vai ficar. Aprender a focar manualmente é mais um passo na emancipação do fotógrafo em relação à autoridade do fotómetro...
Não é apenas para efeitos didácticos, nem para se dizer que se é um grande fotógrafo porque se sabe fazer tudo à mão, que é importante saber focar manualmente. Embora se possa sentir que a focagem manual é completamente desnecessária, uma vez que a câmara trata do assunto por nós, a verdade é que há casos em que a câmara não consegue focar automaticamente. Quando não há contraste suficiente no motivo, ou quando a luz é demasiado escassa, a focagem automática pode falhar rotundamente.
Talvez seja interessante saber como é que a câmara foca. Há dois sistemas de focagem automática: a detecção de fase e a detecção de contraste. Algumas DSLR têm os dois, usando a detecção de fase quando se visualiza a imagem pelo visor e a detecção de contraste quando a função mirror lock é accionada, mas as compactas e as câmaras mirrorless apenas focam por detecção de contraste. Até há pouco, a detecção de fase era mais rápida, embora menos precisa, mas algumas mirrorless já conseguem velocidades de focagem comparáveis ou superiores. A detecção de fase é processada separando e analisando a luz que penetra na lente, através de dois captadores que comparam cada um dos fluxos de luz que detectam e estabelecem a focagem de acordo com a diferença de fase entre os dois feixes de luz comparados. A detecção de contraste é feita pelo fotómetro, que selecciona um ponto da imagem na qual exista um contraste nítido (ponto que pode ser determinado pelo fotógrafo ou pela própria câmara). Ora, nos casos em que não existam diferenças notórias de fase entre os feixes analisados, ou quando o motivo não tem contraste suficiente, a câmara não consegue focar: a lente fica a mover-se para trás e para a frente à procura de um ponto onde possa focar, para depois desistir de focar e recusar-se teimosamente a fotografar, apesar da nossa insistência. Isto pode ser frustrante. Neste tipo de casos, se estivermos mesmo com vontade do fotografar o que a câmara não consegue captar, há um truque que vem nos manuais e que pode ser usado: apontar a um motivo fora do enquadramento que a câmara aceite focar, carregar no botão de disparo até meio para obter a confirmação da focagem e depois mover a câmara de novo para o enquadramento e disparar. Na teoria funciona, mas a exposição pode resultar completamente diferente daquilo que queríamos, por vezes com resultados decepcionantes. Se não queremos desistir daquele motivo (por ex. uma ave branca na água cheia de reflexos do sol, ou um motivo negro sobre um fundo também negro), a única solução que nos resta é a focagem manual.
Aprender a focar manualmente não é difícil: basta rodar o anel de focagem até a imagem surgir nítida. Algumas câmaras têm até uma função que amplia uma porção da imagem, para que a focagem seja precisa. Focar manualmente apenas requer um pouco de tempo e de prática. No fim, quando dominarem a técnica, pode até acontecer-vos o mesmo que a mim: depois de ter aprendido a focar manualmente, não quero outra coisa!

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