segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Conselho n.º 1: o equipamento

Um principiante a dar conselhos a outros principiantes pode ser o caminho para um desastre; o que vou escrever nos próximos textos é apenas um conjunto de sugestões baseadas na minha própria experiência, que não é necessariamente idêntica à dos leitores ou à de outros fotógrafos, pelo que deve ser lido com um grão de sal. Cum grano salis, como diziam os antigos. Não tenho a experiência de um fotógrafo com décadas de fotografia e material de ponta, nem sequer tenho um curso de fotografia; o que vou escrever é mais uma forma de evitar que os leitores caiam nos meus erros, e de partilhar os conhecimentos em que me sinto seguro, do que uma tentativa de escrever um manual de fotografia.
A primeira coisa que nos devemos certificar, antes de tomarmos a decisão de adquirir uma câmara, é se temos jeito para fotografar. Se não tivermos, gastar dinheiro em material de qualidade não será mais que um desperdício. Seria como comprar um Steinway quando só sabemos tocar os Martelinhos e não temos intenção de aprender mais. O que vou escrever de seguida apenas se aplica a quem tiver um interesse verdadeiramente sério pela fotografia e tenha vontade de desenvolver a percepção visual dos objectos que o rodeiam; para os demais, o telemóvel é mais que suficiente. Desculpem se pareço presunçoso, mas as coisas são mesmo assim. Ninguém compra um Ferrari para ir de casa para o trabalho (e vice-versa) e levar os miúdos à escola: tal seria um desperdício estúpido.
Depois desta introdução, o conselho com que quero começar é o seguinte: COMPREM A MELHOR CÂMARA E LENTE QUE PUDEREM. (Não, não accionei o caps lock por engano: isto é mesmo importante.) Quando decidi começar a fotografar, em finais de Julho do ano passado, cometi um erro do qual me arrependi ao fim de apenas dois meses: comprei uma câmara compacta. Imaginei que deveria evoluir progressivamente, passando da compacta para uma câmara intermédia se sentisse essa necessidade, para só mais tarde adquirir uma câmara de qualidade, quando confirmasse que era capaz de tirar boas fotografias. Foi um erro: ao fim de algum tempo a compacta já era um obstáculo. As compactas não são versáteis, apesar de anunciarem valores de zoom astronómicos e funções XPTO. A lente das compactas gera aberrações lamentáveis, como um nível assustador de distorção da imagem, e o sensor produz uma quantidade horrenda de ruído em imagens captadas com pouca luz. Acresce que a resolução das imagens destas câmaras é apenas sofrível, dependendo de condições de luz óptimas. Não se deixem enganar pelas bridge, aquelas câmaras de lente fixa que parecem DSLRs mas que são, na verdade, câmaras compactas que sofrem dos mesmos problemas. O melhor é começar com uma boa câmara e ir progressivamente aprendendo a tirar o melhor partido das suas funcionalidades. Sei que uma boa DSLR pode parecer intimidante, e de facto estas câmaras são de uma enorme complexidade técnica, mas a verdade é que muitas câmaras de acesso incluem aplicações que instruem o proprietário com indicações sobre a melhor exposição e quais as funções que pode usar para obter as fotografias que pretende. A Nikon D3100 e as Olympus Pen mais recentes têm estas aplicações, denominadas, respectivamente, Guide Mode e Live Guide. Esta é uma boa maneira de começar a perder o temor reverencial pela câmara.
As minhas sugestões para quem quiser comprar uma boa câmara:
  • Canon 1100D: boa qualidade de imagem, mas pouco ergonómica para quem tiver mãos grandes, o que pode ser inconveniente. Qualidade de construção melhorável;
  • Nikon D3100: ligeiramente inferior à Canon em qualidade da imagem; aconselhável apenas a quem se propuser usar o Photoshop;
  • Pentax K-r: uma excelente câmara que dá acesso às lendárias lentes Pentax SMC - desde que não se importem com o facto de ser alimentada por pilhas, e não por bateria;
  • Olympus Pen E-P3: cara - pelo menos por agora -, mas a melhor na sua categoria. Oferece virtualmente o mesmo que as anteriores, mas num corpo compacto. Não é a mais indicada para fotografia nocturna. 
Qualquer destas câmaras assegurará uma excelente qualidade de imagem e o acesso a funções avançadas de controlo da exposição pelo fotógrafo, mas é possível - e preferível - adquirir câmaras de uma gama superior. Quanto melhor for a câmara, maior será a margem de progressão do fotógrafo.
E não se esqueçam de um princípio importante que vou enunciar: os corpos (i. e. as câmaras propriamente ditas) vão e vêm, as lentes permanecem. O fotógrafo experimentado constrói o seu sistema à volta da sua colecção de lentes, e não do corpo. Os corpos são compostos por elementos mecânicos e electrónicos sujeitos a avarias, enquanto as lentes tendem a durar décadas. É também importante que se tenha em mente que, por regra, as lentes de uma determinada marca não podem ser montadas em corpos de outras marcas, a não ser com recurso a adaptadores cuja aquisição, nesta fase, não se justifica. As Canon e as Nikon têm a vantagem de haver dezenas de fabricantes (Sigma, Tamron, etc.) a produzir lentes para as suas câmaras, que podem ser boas alternativas às lentes das próprias marcas. Os requisitos mínimos são uma lente grande-angular e uma teleobjectiva média; a grande-angular, a despeito da presença do adjectivo «grande», é uma lente que cobre distâncias focais curtas (grosso modo entre os 18 e os 50mm), e a teleobjectiva cobre uma gama de distâncias focais superior (acima dos 50mm). As diferenças entre as lentes foram tratadas neste blogue (aqui, aqui e aqui), pelo que não vale a pena prosseguir com a descrição das suas diferentes características e aplicações. Apenas deixo uma recomendação a quem adquirir uma Canon: uma das melhores lentes que podem adquirir é uma grande-angular de 50mm, que pode ser comprada por preços ridiculamente baixos - por volta dos €100. Diz quem sabe que esta lente é a pechincha do século.
Como habitualmente neste tipo de aquisições, é importante escolher onde comprar o material. Eu não aconselharia as grandes superfícies, e usaria da maior prudência nas aquisições online: as lojas especializadas têm a enorme vantagem de possuir pessoal qualificado que pode ajudar a resolver as dúvidas do potencial comprador, para além de uma assistência técnica mais confiável. A ideia de que os preços são mais altos nestas lojas é falsa. Exemplificando: o meu saco, comprado numa loja especializada, custou-me menos vinte euros do que o preço praticado numa grande superfície para o mesmo produto.
Por falar em sacos, esta é uma despesa que pode parecer vultosa, mas é absolutamente necessária. Aconselho os Lowepro pela sua versatilidade, pela modularidade do interior, que assegura possibilidades de arrumação quase infinitas, e pela resistência ao choque e robustez. Um bom saco é acolchoado, de maneira a amortecer os impactos causados por quedas ou choques. Não é fútil, nem redundante, adquirir um bom saco - é proteger um investimento.
Uma compra que é muito mais importante do que parece é o cartão de memória; este deve ter boa capacidade - não recomendo menos que 8GB - e deve ser rápido. A rapidez traduz-se na aptidão para gravar as imagens no menor espaço de tempo, o que é importante quando se pretende colher uma imagem imediatamente a seguir à anterior, ou no disparo sequencial. O leitor deve evitar cair no erro de pensar que todos os cartões de memória são iguais e fazem a mesma coisa, e devem também estar preparados para despender mais de €30 na sua aquisição; um preço destes poderá parecer um exagero, mas a verdade é que é uma despesa inteiramente justificada. Tomem cuidado, porém, com os cartões SanDisk: embora sejam muito bons (eu tenho um, de 8GB), há no mercado inúmeras falsificações. Outra alternativa de qualidade são os Lexar. Mais uma vez, recomendo que se aconselhem numa loja especializada.

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