A maior parte das opiniões que encontro sobre fotografia de rua diverge consideravelmente daquilo que a experiência me ensinou, especialmente quanto ao material a utilizar e às configurações da câmara. A fotografia de rua é uma modalidade extremamente exigente: requer um nível elevadíssimo de concentração e atenção e, acima de tudo, muita perspicácia e rapidez. Neste tipo de fotografia, câmara e fotógrafo têm de ser um só, com a primeira sempre pronta a disparar. Os instantes que vale a pena capturar são, por regra, extremamente fugidios e o fotógrafo tem de estar sempre preparado para captar súbitas mudanças de expressão e de posição e movimentos repentinos; na rua, o que nos surge como uma boa composição num segundo pode desaparecer no seguinte. Este é um tipo de fotografia que não se presta a alterações na configuração da câmara, muito menos a mudanças de lentes.
Quais são, então, os requisitos técnicos da fotografia de rua - dando por garantido que o fotógrafo tem a perspicácia e atenção necessárias para captar as pequenas histórias que se passam a cada segundo numa rua povoada?
Em primeiro lugar, coloca-se o problema da escolha da lente. O tipo de lente indicado é uma prime grande-angular. Não há grandes divergências quanto a isto. A dissensão acontece quando se aborda a distância focal mais indicada. Muitos, porventura demasiado apegados à tradição dos grandes mestres da fotografia de rua, entendem que o ideal é 35mm - ou equivalente -, tal como as lentes das Leicas de Cartier-Bresson ou Winogrand. As minhas experiências de fotografia de rua não me permitem subscrever esta opinião. Tenho uma lente de 17mm que, no formato Micro Quatro Terços, equivale a 34mm numa câmara de filme ou full frame. Com esta lente, tenho de me aproximar excessivamente do objecto a fotografar, caso contrário este surge minúsculo na imagem. E recortar a imagem na pós-produção pode não ser o mais indicado, uma vez que se reduz a resolução. O ideal é uma lente à volta dos 50mm - 25mm nos sistemas Micro Quatro Terços e algures entre os 30/40mm nas DSLR. Aproximarmo-nos demais de uma pessoa que queremos fotografar pode ser incómodo, e o fotógrafo de rua deve ter consciência de que há uma linha que separa a liberdade de fotografar em espaços públicos e a privacidade do fotografado, pelo que o ideal é usar uma lente com uma distância focal que dê alguma ampliação à imagem, de modo a podermos guardar alguma distância (embora se possa argumentar que a distância traz a sensação de se ser um voyeur). Essa lente deve, como disse, ser de distância focal fixa - uma prime. Porquê? Por um só motivo: enquanto rodamos o anel de zoom, podemos estar a perder uma oportunidade de fotografia irrepetível. E as prime são mais rápidas que as teleobjectivas.
Quanto à câmara, ela deve ser discreta e focar rapidamente. A fotografia digital foi uma bênção para os fotógrafos de rua ao trazer a focagem automática. Está completamente excluída a focagem manual, a menos que se tenha uma perícia tremenda na regulação do anel de focagem. A discrição, por seu turno, é importante: muitas pessoas não gostam de ser fotografadas, e ter uma DSLR apontada a elas provoca algum desconforto. Somos fotógrafos amadores, e não paparazzi! Câmaras como as Pen, as Leica M8/9 ou a Fuji X100 são preferíveis para fotografar na rua. São menos intimidantes para os transeuntes.
As configurações da câmara podem ser resumidas a uma simples letra: P. Apesar da minha preferência pelo modo de exposição manual, quando vou para a rua uso sempre o modo P. Não há tempo para fazer escolhas quanto à abertura ou a velocidade do disparo. Deve ser tudo automático, apenas deixando a compensação de exposição ao alcance do polegar e seleccionando uma sensibilidade ISO baixa. O equilíbrio dos brancos deve ser deixado ao critério da câmara, salvo em condições anómalas como um céu muito nublado ou abundância de sombras. A câmara deve ser configurada para entrar em stand by no tempo mais longo possível, já que o motivo que queríamos fotografar pode desaparecer enquanto a despertamos do letargo (já me aconteceu inúmeras vezes...) Deve também ter-se algum cuidado com a escolha do cartão de memória: este deve ser rápido a gravar as imagens, com um bom coeficiente de refrescamento - o tempo que decorre entre dois disparos deve ser o mais curto possível, pois pode aparecer-nos uma cena interessante imediatamente após a última fotografia tirada. E rapidez é tudo na fotografia de rua.
A fotografia digital criou condições excelentes para um género de fotografia que remonta à época pré-SLR e que caiu um pouco em desuso. Com ela podemos fotografar com muito maior rapidez e com a segurança de que, se uma fotografia de uma cena não nos saiu assim tão bem, podemos sempre tirar outra. E podemos tirar centenas de fotografias sem a maçada de trocar rolos.
As configurações da câmara podem ser resumidas a uma simples letra: P. Apesar da minha preferência pelo modo de exposição manual, quando vou para a rua uso sempre o modo P. Não há tempo para fazer escolhas quanto à abertura ou a velocidade do disparo. Deve ser tudo automático, apenas deixando a compensação de exposição ao alcance do polegar e seleccionando uma sensibilidade ISO baixa. O equilíbrio dos brancos deve ser deixado ao critério da câmara, salvo em condições anómalas como um céu muito nublado ou abundância de sombras. A câmara deve ser configurada para entrar em stand by no tempo mais longo possível, já que o motivo que queríamos fotografar pode desaparecer enquanto a despertamos do letargo (já me aconteceu inúmeras vezes...) Deve também ter-se algum cuidado com a escolha do cartão de memória: este deve ser rápido a gravar as imagens, com um bom coeficiente de refrescamento - o tempo que decorre entre dois disparos deve ser o mais curto possível, pois pode aparecer-nos uma cena interessante imediatamente após a última fotografia tirada. E rapidez é tudo na fotografia de rua.
A fotografia digital criou condições excelentes para um género de fotografia que remonta à época pré-SLR e que caiu um pouco em desuso. Com ela podemos fotografar com muito maior rapidez e com a segurança de que, se uma fotografia de uma cena não nos saiu assim tão bem, podemos sempre tirar outra. E podemos tirar centenas de fotografias sem a maçada de trocar rolos.
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