sábado, 1 de outubro de 2011

Fotografando aves

Fotografar aves no seu habitat não é tão fácil como parece. Antes de mais, é extremamente difícil convencê-las a posar para nós. Geralmente estão de costas voltadas, ou numa posição que nos obriga a fotografar a contra-luz, e não têm a noção de que o lugar onde pousaram é péssimo como plano de fundo. Como modelos, as aves são um pesadelo. Ainda bem que não me dedico a fotografá-las. Daria em doido. Não é por acaso que os ornitólogos têm todos aspecto de excêntricos.
O facto de não me dedicar a este tipo de fotografia não significa que não o experimente. O facto de me faltar uma lente apropriada também não me demoveu de tentar algumas fotografias. Afinal de contas, basta-me caminhar meio quilómetro a partir de casa para estar num local conhecido pela diversidade da fauna - o estuário do Douro. Daí a querer tirar fotografias de aves foi um pequeno passo que transpus esta manhã.
A primeira desilusão, quando procurei as garças-reais mais fotogénicas, foi descobrir que a lente 40-150 não tem alcance suficiente para captar os motivos do modo como eu queria. Precisava, provavelmente, da superzoom 70-300 para ter mais ampliação e comprimir um pouco mais a perspectiva. (As fotografias que ilustram o texto são crops das fotografias originais.)
Outra curiosidade que aprendi nesta sessão foi a de que a focagem automática não funciona como deve ser. Pelo menos com esta lente. Este é um problema que já me tinha acontecido quando tinha a compacta: a imagem surge com uma espécie de halo à volta do motivo focado. Consegui resultados melhores com um modo misto de focagem manual e automática, em que foco a imagem manualmente e a câmara dispara em modo de focagem automática. (Este modo chama-se qualquer coisa como «MF+S-AF», ou coisa parecida.)
Depois desta primeira experiência, penso poder chegar às seguintes conclusões:
1. Equipamento: para fotografar aves é necessária uma lente com mais de 300mm de distância focal efectiva. As aves são, em geral, tímidas, e tendem a fugir se um ser humano se aproximar demasiado. Daí a necessidade de manter grandes distâncias e de usar lentes com um factor de ampliação (zoom) elevado. 
2. Configurações da câmara: as fotografias devem ser tiradas com um valor ISO da ordem dos 400 ou superior, de modo a poderem usar-se velocidades de disparo altas com aberturas estreitas. Se possível, deve ser usado um tripé - a menos, claro, que se queiram fotografar aves em pleno voo. Neste último caso, deve usar-se o disparo sequencial e a função que é activada por aquele botão misterioso com as letras AEL/AFL (AFL é as iniciais de Auto Focus Lock) ou o modo de focagem contínua.
3. Local: qualquer local com muita passarada. A menos que se seja um ornitólogo consumado, daqueles que sabem que nos bosques de árvores X há mais abundância de pássaros Y que nos bosques onde prevalecem árvores Z, convém escolher locais onde se saiba que existe grande diversidade de aves. Os estuários dos rios costumam obedecer a este requisito.
4. Altura do ano: os meses de Outubro a Maio são os mais interessantes. Portugal é um país com um clima que atrai muitas aves de arribação, pelo que é fácil encontrar espécies relativamente raras: garças-reais, corvos-marinhos, flamingos, etc.
5. Altura do dia: fica ao critério do fotógrafo captar as aves com uma luz mais, digamos, objectiva - caso em que qualquer hora do dia serve -, ou procurar o lusco-fusco para obter imagens mais interessantes. O que me parece de evitar é aqueles dias em que o céu está nublado por todo, em que as nuvens deixam ainda passar bastante luz, porque o céu tende a surgir branco na imagem. O nevoeiro, se for baixo, pode ser usado com bom efeito.
Um último conselho: eu não usaria fato, nem sapatos de sola de couro, para fotografar aves. Preferiria roupas que pudesse sujar sem complexos. Uma vez que é extremamente difícil convencer as aves a posar para nós, pode ser necessário caminhar por terrenos lodosos ou extremamente escorregadios, como o que encontrei hoje - pedras revestidas de pequenas algas. Não deve ser uma experiência agradável alguém estatelar-se no chão segurando mais de €1000 de equipamento nas mãos, mas essa eventualidade existe - tal como a de termos de nos deitar de bruços sobre terrenos poeirentos para apanhar um bom ângulo. Não é necessário exagerar na indumentária: nada de coletes (são ridículos), nem botifarras de 10 quilos. Basta uma T-shirt, uns jeans antigos e sapatilhas (e um blusão impermeável no Inverno). O que é obrigatório é proteger bem o equipamento, sendo importante ter um bom saco.
E, acima de tudo, é necessária muita paciência. E este é um dos requisitos que me leva a não ser um grande adepto da fotografia ornitológica...

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