terça-feira, 13 de setembro de 2011

Conselho n.º 2: compreender a câmara

Agora que já tem uma câmara decente, o leitor deste blogue pode começar a tentar entender-se com ela. Nada melhor, para poder familiarizar-se rapidamente com a câmara, que a leitura atenta do manual de instruções. Pode parecer penoso, ou mesmo assustador, perante a quantidade inesgotável de termos e funções de que nunca ouvimos falar, mas fotografar com uma boa câmara é mais simples do que a consulta do manual de instruções pode sugerir. O processo de aprendizagem da operação de uma câmara é longo, e por vezes podemos sentir-nos derrotados pela dificuldade em apreender todos os seus controlos, mas já referi aqui que o prazer de fotografar aumenta à medida que vamos dominando a técnica, pelo que vale a pena.
Para compreender o que uma câmara faz - o que permitirá entender melhor a forma como ela opera - convém ter algumas noções básicas sobre a fotografia antes de fotografar. A câmara é um aparelho que reproduz imagens através da captação de luz. Já o era quando foi inventada por Joseph Nicéphore Niépce, foi assim nos tempos de Daguerre, continuou a sê-lo quando inventaram as SLR e assim é com as câmaras digitais. Não há outra maneira de fazer fotografia. As câmaras de hoje continuam a captar a luz através de um sistema de lentes e a registar a luz, por acção de um obturador, num suporte fotossensível - tal como quando foram inventadas. A única diferença, neste processo, é que hoje se usam chips em lugar de películas. Este registo da luz dá-se quando o fluxo que alimenta o sensor (ou filme) é captado por intermédio de uma peça de nome obturador, cuja acção pode ser mais ou menos longa, dependendo do tempo de exposição.
À quantidade de luz, e suas características, chama-se exposição. É o controlo da exposição que determina a qualidade da imagem. De uma fotografia demasiado clara - i. e. com demasiada luz - diz-se que está sobreexposta; no caso inverso, diz-se que está subexposta. O controlo da quantidade de luz é feito por um aparelho óptico denominado fotómetro, que está permanentemente em funcionamento e mede os valores da exposição, determinando esta última para a obtenção de uma exposição equilibrada - embora a sua acção possa ser mitigada, ou mesmo inteiramente suprimida pelo fotógrafo através dos modos de exposição avançados.
Antes de mais - o que são os valores da exposição? São os valores que vão determinar a aparência da imagem, através do controlo da luz. São três: a abertura, a velocidade do obturador e a sensibilidade do sensor.
A abertura determina a quantidade de luz que vai entrar na câmara através da lente. Já vimos que é aumentada ou diminuída através de um conjunto de lâminas que formam um orifício que pode ser mais largo ou ou mais estreito, conforme as necessidades da exposição. Não há uma regra básica quanto à abertura: dizer-se que esta deve ser maior quando há menos luz e menor debaixo de luz abundante é apenas parcialmente verdadeiro. A abertura conjuga-se com os outros valores para determinar a exposição desejável. A maior influência da abertura é na focagem, como escrevi aqui e aqui. A abertura mede-se em números, denominados pela letra f, que variam na proporção inversa da abertura das lâminas da lente: quanto mais fechadas estas, maior é o número f, e vice-versa. Por exemplo, numa lente com aberturas entre f2 e f18 - estes números podem ser encontrados na parte frontal da lente -, o primeiro valor refere-se à abertura maior e o outro à menor. Confuso? Neste caso basta pensar no número f como uma fracção e escrever f=1/2 em lugar de f2, ou f=1/18 em lugar de f18 para que tudo faça sentido. Só por simplicidade é que o valor da abertura se exprime em números inteiros.
A velocidade do obturador, ou velocidade do disparo, é a medida do tempo durante o qual a luz vai ser registada no sensor ou no filme. Quanto menos luz existir, menor terá de ser a velocidade do disparo, porque o sensor vai precisar de captar o máximo de luz disponível para obter imagens nítidas. Inversamente, quanto mais luz houver, mais elevada será a velocidade do disparo. Também aqui esta regra peca pelo excesso de simplicidade, porque a velocidade do disparo conjuga-se com a abertura para obter a exposição ideal.
Por fim, a sensibilidade do sensor é a quantidade de luz que este consegue captar. Este valor é denominado por ISO (que é a sigla da Organização Internacional para a Normalização), e pode ser regulado para valores que vão, tipicamente, desde os 80 ou 100 a 6400 ou 12800. O ISO tem um papel fundamental na exposição, permitindo obter velocidades de disparo mais rápidas em condições de pouca luz, mas o seu incremento tem, como o leitor mais atento deste blogue o sabe, uma contrapartida indesejável: o surgimento de ruído na imagem. E o ruído é algo de insidioso: pode não se dar pela sua presença numa imagem thumbnail, mas, quando esta é ampliada, descobre-se que está arruinada pelo excesso de ruído. Daí que o valor da sensibilidade ISO deva ser sempre o menor possível.
No próximo post começaremos a ver como se controlam estes valores na câmara, dando desde já por adquirido que estes conhecimentos são imprescindíveis para compreender como funciona uma câmara e para que sejamos nós, e não a câmara ou o fotómetro, quem tira as fotografias.

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