sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Guia definitivo da fotografia nocturna (3)

Para terminar esta série de textos sobre a fotografia nocturna, falta apenas referir alguns pormenores técnicos que contribuem para a qualidade da imagem. Já mencionei, no primeiro texto, que todas as configurações que se usam ao fotografar de dia têm de ser mudadas, e isto justifica-se por dois motivos: a necessidade de captar a quantidade de luz requerida para uma exposição correcta - mas atenção, porque também pode haver sobre-exposição na fotografia nocturna! - e a obtenção da maior estabilidade possível. Tempos longos de exposição significam que a câmara se torna sensível a todo e qualquer movimento, por mais insignificante que pareça, pelo que, além do uso obrigatório do tripé, existem ainda outros cuidados a tomar para que a câmara não seja afectada por movimentos que, por mais pequenos que sejam, causam distorção por arrastamento e consequente perda de nitidez e de qualidade da imagem. 
Deve, por isso, ser desligado o estabilizador de imagem, quer este seja incorporado na câmara, quer na lente. O estabilizador de imagem pode interpretar o movimento das cortinas do obturador como vibração e ser accionado, o que provoca um movimento reactivo do sensor ou dos grupos ópticos estabilizados da lente. Este movimento causa distorção da imagem, pelo que é importante ter presente que o estabilizador de imagem deve ser posto fora de acção antes de disparar. O tripé trata de todo o trabalho de estabilização da câmara.
A câmara demora muito tempo a colher a imagem quando se seleccionam velocidades de disparo lentas; durante esse tempo, que pode ultrapassar a dezena de segundos, é essencial não tocar na câmara e assegurar que esta não será afectada por qualquer tipo de vibração. Desde logo, o botão do obturador não deve ser accionado directamente pelo fotógrafo, uma vez que esta acção pode causar vibração. Na fotografia nocturna usa-se sempre o temporizador, que retarda o disparo entre 2 e 12 segundos. Alternativas ao temporizador são o emprego de cabos disparadores (que só podem ser aplicados em câmaras cujo botão do obturador permita que um cabo seja enroscado) ou comandos remotos electrónicos, que funcionam ligando-se à entrada mini USB da câmara.
Os possuidores de câmaras reflex devem estar atentos ao facto de estas câmaras estarem equipadas de um espelho que desvia a luz que entra na lente para o pentaprisma, e daí para o visor óptico. Este espelho, colocado à frente do sensor, é levantado no momento do disparo, de maneira a que o fluxo de luz atinja o sensor. O movimento do espelho causa uma vibração conhecida por mirror slap, que prejudica a estabilidade da câmara. As DSLR têm um comando denominado mirror lock, que bloqueia o espelho e faz com que a visualização seja obtida através do ecrã da câmara, e não do visor. Convém, deste modo, utilizar esta função, e também um outro estratagema - já não para combater a vibração, mas para impedir a entrada de luz parasita na câmara: tapar o visor. A Canon adverte expressamente para a necessidade de obstruir o visor, tendo as correias das suas reflex uma pequena tampa para colocar sobre o visor quando se fotografa com tripé.  
Quanto às lentes a usar na fotografia nocturna, estas podem ser as mesmas que se usam noutras circunstâncias quaisquer, com uma pequena advertência: apesar de ter referido que devem ser usadas aberturas estreitas, ao redor de f11, aconselho o uso de lentes capazes de grandes aberturas máximas (à volta de f2,8). As lentes pouco luminosas não transmitem correctamente a imagem que se quer fotografar, sendo a imagem que surge no ecrã demasiado escura, o que pode induzir em erro. Este não chega a ser um problema, uma vez que a imagem captada acabará por corresponder à exposição desejada, mas introduz um factor de imprevisibilidade e de dificuldade quando se tenta enquadrar a imagem no ecrã. Fora esta ressalva, os critérios de escolha das lentes são exactamente os mesmos que para a fotografia diurna: grande-angulares quando se quer profundidade e largura, standards quando se pretende uma dimensão correspondente à visão humana e teleobjectivas quando se quer aproximar o objecto.
Uma última palavra quanto a um objecto especificamente nocturno ao qual algumas destas regras não se aplicam: a lua. Para fotografar a lua continua a ser imperativo usar um tripé, desligar o estabilizador de imagem e activar o mirror lock, mas as velocidades de disparo devem ser mais elevadas: de 1/125 a 1/250. É que o movimento de rotação da Terra pode - acreditem ou não - causar distorção por arrastamento. Para fotografar a lua exige-se uma teleobjectiva de grande distância focal - a partir de, digamos, 600mm. Caso contrário as crateras ficam imperceptíveis. 

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