terça-feira, 29 de maio de 2012

«Canon ou Nikon?»

Quando fui buscar as minhas impressões novas, a conversa com a pessoa que me atendeu resvalou para a edição de imagem e ganhou um novo interlocutor - um informático que, pressurosamente, me quis mostrar um plug-in dos Photoshop denominado PT Lens (que é bestial, mas o DxO Pro 7 faz o mesmo sem necessidade de plug-ins). Como o informático queria realmente convencer-me dos méritos da aplicação, chamou-me para junto do computador para fazer uma demonstração prática; quando tratou de escolher as configurações, perguntou-me com a maior das naturalidades: «Canon ou Nikon?»
Para aquela pessoa, era uma impossibilidade lógica eu ter uma câmara que não fosse uma Canon ou uma Nikon. Toda a gente tem uma Canon ou uma Nikon! Senti-me como um alienígena, uma avis rara que aterrasse de repente num mundo homogeneizado e bipolarizado, semelhante a um sistema democrático ocidental em que apenas dois partidos mais ou menos iguais alternam no poder. Ultrapassado o breve complexo de inferioridade e o sentimento de alienação que me percorreram a psique durante dois ou três segundos, respondi que nem uma nem outra.
Há vários efeitos nocivos neste duopólio a que muitos chamam «Canikon». O primeiro deles é que, à custa de falta de concorrência, a indústria fotográfica pouco ou nada evoluiu entre 2003 e 2009 (ano em que foi lançada a primeira mirrorless a sério, a Olympus E-P1). Tornou-se convicção geral que as únicas câmaras capazes de uma alta qualidade de imagem eram as DSLRs, cujo mercado era (é) dominado por estes dois mastodontes. O sistema DSLR está de tal maneira tetanizado que as evoluções são de carácter meramente marginal, e, num certo sentido, pouco relevantes: a introdução do vídeo - que não tem qualquer tipo de interesse para o fotógrafo dedicado -, os ecrãs rotativos, etc. A única coisa verdadeiramente importante que aconteceu às SLRs desde a sua concepção foi a passagem para o domínio digital. A Canon e a Nikon limitam-se a renovar os seus modelos ciclicamente, introduzindo pequenas evoluções no que são, essencialmente, as câmaras da geração anterior - mais megapixel, menos megapixel. A única coisa excitante que aconteceu no império Canikon foi a introdução da Nikon D800, neste mesmo ano, com uns mastodônticos 36 megapixéis (o que, ao que se diz, se repercute no nível de ruído por deteriorar, como aliás era previsível, a relação sinal/ruído).
As DSLR, cujo mercado a Canon e a Nikon hegemonizam, são câmaras capazes de alta qualidade de imagem, e são a única escolha possível para os fotojornalistas, mas não são as únicas câmaras de qualidade. Aliás, se entrarmos num estúdio de grande porte, verificamos que as câmaras aí usadas não são DSLRs, mas câmaras de médio formato (Mamiya, Hasselblad, etc.) De resto, as DSLRs começam a ser ameaçadas a montante e a jusante. No segmento mais baixo, estão sob a ameaça de câmaras mirrorless cada vez mais evoluídas e com vantagens substanciais em relação às reflex no peso, transportabilidade e flexibilidade. Para fazer fotografia de rua, por exemplo (ou qualquer outra modalidade que exija discrição), o uso de uma DSLR é um obstáculo. No escalão superior, têm sido feitos esforços para produzir câmaras de médio formato mais portáteis do que as monstruosas Hasselblad. Há a Leica S2 - cujo preço é absolutamente delirante - e, sobretudo, a Pentax 645D. Não são para fotojornalistas, certamente, mas têm uma qualidade de imagem inerentemente superior à das DSLR profissionais.
Outro problema que a estagnação do segmento das DSLR trouxe foi a indigência com que as câmaras da Canon ou da Nikon são construídas. Meus caros amigos: mesmo as Olympus do formato micro 4/3 dão lições de qualidade de construção às reflex da Canon e da Nikon. Há algumas semanas aconteceu-me mexer numa câmara do segmento médio/superior de um destes fabricantes. O barulho do obturador - cujo botão é, evidentemente, de plástico - denuncia uma qualidade de construção que é superada por muitas compactas. É uma orgia de plástico - e do mais fatela que existe à superfície da terra. Há baldes e alguidares feitos com plásticos melhores. E já nem falo da questão da obsolescência programada, que tem por efeito que estas câmaras sejam feitas para durar não mais que 4 ou 5 anos.
O domínio da Canon e da Nikon tem ainda o efeito perverso de pôr na sombra outras grandes câmaras DSLR, tão boas ou melhores que as Canikon: as Pentax e as Sigma. A Pentax K-5 é por muitos considerada a melhor reflex da sua categoria (compete com a Canon 60D e a Nikon D7000), mas... não é uma Canikon. E a Sigma usa a tecnologia mais inteligente que conheço: o sensor Foveon. Mas o amador, para não se sentir embaraçado em frente dos seus amigos e dos informáticos de lojas de material fotográfico por não ter uma Canon ou uma Nikon, ignora estas câmaras, o que é uma enorme injustiça. (Note-se que não me refiro aqui às reflex da Olympus, porque têm um handicap notório em relação à concorrência no seu sensor 4/3, nem às da Sony, porque esta foi a marca que matou a minha predilecta Minolta...)
Há outra consequência nociva, mas esta só afecta quem frequenta fóruns de fotografia: a Canon e a Nikon têm fãs verdadeiramente ferozes que passam o tempo a insultarem-se uns aos outros e a usar argumentos ridículos para afirmar a superioridade da sua marca predilecta em relação ao modelo equivalente da outra. Se pensam que os tipos das claques do Porto e do Benfica são umas bestas, leiam os comentários aos artigos sobre lançamentos de câmaras da Canon ou da Nikon no DPReview. Vão ficar surpreendidos!
O meu vaticínio é que, dentro de alguns anos, apenas as reflex profissionais e semi-profissionais, com sensor full frame, farão sentido. Os profissionais com trabalhos mais exigentes, como os repórteres ou os fotógrafos de casamentos, continuarão a necessitar de câmaras como estas, mas o segmento inferior será tomado pelas mirrorless, para as quais os sensores APS-C terão migrado, enquanto os estúdios e os profissionais para quem os valores ISO muito elevados não são uma preocupação usarão câmaras de médio formato como a Pentax 645D. Como isto constituirá uma redução substancial na quota de mercado, o duo Canikon virar-se-á para as mirrorless - mas não com o perfeito disparate que é a série 1 da Nikon. Não é preciso ser o Professor Mambo para prever isto.  

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Bulb

Anteontem, enquanto fazia daquelas fotografias com arrastamento das ondas do mar numa praia, dei-me conta que já não tinha condições de luz suficientes; já estava escuro, e os tempos de exposição pré-configurados já não chegavam para captar a luz que queria. Com uma velocidade do obturador de um minuto, ainda tinha a imagem sub-exposta. Resolvi usar algo cujo conhecimento era meramente teórico: o bulb.
O bulb é um comando do tempo de exposição pelo qual o fotógrafo determina a duração da exposição, premindo o botão do obturador (ou o do cabo disparador) durante o tempo que entender necessário. Teoricamente são possíveis exposições que podem prolongar-se até a bateria descarregar. Em regra, as câmaras têm tempos de exposição pré-definidos, que tipicamente vão desde 1 minuto até 1/4000 segundos; se forem necessários (ou pretendidos) tempos de exposição mais longos que um minuto, a solução é usar o bulb.
O resultado? As fotografias que faço nas condições que referi requerem alguma sobre-exposição. Quem as vir não dirá que são feitas à noite (ou ao lusco-fusco), mas são. Por vezes exponho a imagem em +2 EV (ou mais ainda), mas o resultado de usar o bulb é a obtenção de imagens completamente irreais, com uma luminosidade impossível. Julgo que o bulb é desnecessário, a menos que aquilo que se pretenda seja uma fotografia totalmente sobre-exposta, sem qualquer conexão com a realidade. Para fotografia nocturna, os tempos de exposição configurados pela câmara - e acreditem que um minuto é muuuuuuuuuuito longo... - são mais que suficientes. A menos, claro, que o efeito pretendido seja o de uma fotografia feita como se fosse de dia. Alguns poderão considerar o efeito fascinante; eu não.

sábado, 26 de maio de 2012

Como lidar com o ruído nas Olympus

O ruído não é a maior das minhas preocupações, mas é a segunda na lista. A minha maior dor de cabeça são as distorções geométricas, que não requerem muito trabalho de correcção porque este é feito pela câmara - pelo menos no caso das Olympus e das Panasonic com sensor 4/3. Ver postes de iluminação curvos nas extremidades de uma fotografia é intolerável; já o ruído, desde que seja mantido a níveis aceitáveis, acaba por passar despercebido - mas, dada a sua natureza invasiva, é muito mais difícil de corrigir que a distorção.
O problema do ruído surge quando os seus níveis são excessivos, levando a uma deterioração genérica da qualidade da imagem, com os pormenores das zonas de sombra a perderem-se em manchas verdes de efeito desagradável ou a serem destruídos por pixéis de cor que não pertencem ali.
Hoje em dia há uma tendência a fotografar com valores ISO altos, o que agrava o problema do ruído. Há quem queira fotografar à noite sem a maçada de carregar e montar um tripé e sem flash, pelo que, para manter a imagem livre de arrastamento, precisam de aumentar a abertura e a velocidade do disparo, o que só pode ser feito se for aumentada a sensibilidade ISO. Mas já sabemos que o nível do ruído é tanto maior quanto mais alta for a sensibilidade ISO. Só câmaras extremamente competentes - digamos, as Canon 5D Mk III - são capazes de usar sensibilidades elevadas sem que o ruído destrua a qualidade da imagem. Quem tiver câmaras menos aptas para valores ISO altos deve conformar-se com o uso do tripé ou aceitar compromissos.
Muitos podem pensar que, com a qualidade das ferramentas de redução do ruído como as do Lightroom, o problema não se põe, porque é fácil lidar com ele na edição. Esta ideia é falsa. O que os programas de edição da imagem fazem é reduzir - e não eliminar - o ruído. E esta redução tem os seus preços: destrói os pormenores subtis e cria manchas uniformes de cor verde nas áreas onde o ruído se manifesta. Se se abusar da ferramenta do Lightroom, os resultados podem ser piores (por serem mais desagradáveis de ver) do que manter o ruído da imagem.
Outra questão que agrava o problema do ruído é o uso de ficheiros RAW. Quando se fotografa neste formato, não há qualquer processamento da imagem, pelo que a redução do ruído executada pelo processador não é aplicada. Um ficheiro RAW mostra todo o ruído de que o sensor for capaz.
O ruído precisa de ser combatido antes de fazer a fotografia, o que implica configurar a câmara para o minimizar tanto quanto for possível, mantendo tanto quanto possível o pormenor e a qualidade global da imagem. O primeiro passo é manter a sensibilidade ISO tão baixa quanto possível. Tudo o que ultrapasse ISO 100 tem o potencial de multiplicar os níveis de ruído, especialmente quando se fotografa em condições de luz diminuta.
Depois há que ter o cuidado de escolher as configurações ideais. Nas Olympus da série E - que inclui todas as DSLRs, bem como as Pen e a OM-D -, isto implica ir aos menus e escolher o menu das configurações, assinalado por duas rodas dentadas na barra vertical do lado esquerdo. De seguida selecciona-se a opção G e surgem duas opções: REDUÇÃO DO RUÍDO e FILTRO RUÍDO. A primeira permite três configurações: desligado, ligado e automático. Não recomendo o automático, porque o processador pode aplicar uma redução do ruído demasiado agressiva, destruindo o pormenor. Deve manter-se esta função desligada quando se fotografa sob boa luz e ligá-la em situações mais críticas, como quando se fotografa à noite ou ao lusco-fusco. Quanto ao filtro do ruído, este oferece quatro opções: desligado, suave, padrão e forte. A primeira só deve ser usada sob boa luz e quando se pretende obter uma qualidade da imagem absolutamente crítica. A opção «suave» preserva o pormenor, mas mantém algum ruído - o que não é inteiramente preocupante, especialmente se a fotografia se destina a ser impressa, pois níveis de ruído toleráveis dificilmente são perceptíveis na impressão. A opção «padrão» é capaz de bons resultados na redução do ruído, mas prejudica os níveis de pormenor - embora não tanto como a opção «forte», que apenas deve ser usada quando se usam sensibilidades ISO superiores a 200.
Quando se fotografa sob boas condições de luz, a redução do ruído deve ser mantida na opção «desligado» e o filtro em «suave» ou «padrão». Se se fotografar de noite, ou em locais pouco iluminados e com muitas sombras, deve manter-se a redução do ruído ligada e o filtro configurado para «padrão». Este último só deve ser configurado como «forte» em situações extremas de ausência de luz.
Depois há que ter outros cuidados, como usar tripé e regular a objectiva para uma abertura estreita quando se fazem longas exposições à noite, porque deste modo é possível, usando velocidades de disparo reduzidas, manter a sensibilidade ISO no mínimo, o que atenua consideravelmente o ruído. Em todo o caso, deve ter-se a noção que todas as câmaras digitais produzem ruído, apenas existindo algumas que produzem menos do que outras. Mesmo tomando todas as precauções que indiquei, aparecerá sempre algum ruído nas zonas de sombra - mas, se se configurar a câmara correctamente, há a forte probabilidade de passar despercebido e apenas ser visível em grandes ampliações.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Mais impressões: sequência

Desta vez apenas demoraram dois dias a chegar. Foi com alguma ansiedade que hoje, sexta-feira, 25 de Maio de 2012, fui buscar as impressões que encomendei na quarta-feira.
Não devia ter-me entusiasmado. Se me tivesse mantido mais frio, ter-me-ia poupado uma desilusão. As impressões estão muito boas, mas porções substanciais das imagens foram cortadas, não sei porquê. Todas as fotografias, excepto uma, ficaram amputadas da sua composição original. Paguei-as e trouxe-as, mas não sem deixar bem claro que não pode haver erros destes nas próximas impressões. Mesmo sendo certo que as impressões não foram caras, nada justifica este mutilar das imagens.
De resto, estas novas impressões confirmam tudo o que disse no texto de quarta-feira: a qualidade da imagem das Olympus é pensada em função das impressões, e não da visualização no monitor. Níveis de pormenor que não aparecem no computador são mostrados de uma maneira surpreendente nas impressões - mesmo nos planos distantes de fotografias feitas com grande-angular. Já devo ter escrito isto, mesmo que através de palavras diferentes, mas estas impressões são uma bofetada na cara de todos os que tentam amesquinhar a qualidade da imagem do formato micro 4/3. Pelo menos a das Olympus.
E fica também confirmada a enorme resolução de uma objectiva que é o patinho feio da família Zuiko: a 17mm/f2.8 Pancake. Esta lente humilde é capaz de resolver pormenores que, atentas as limitações da visualização no monitor, pareciam não ter sido bem captados. Por exemplo, uma das fotografias cuja impressão encomendei é a de uma criança que andava de skate nas imediações da Casa da Música: a textura porosa da pedra usada no pavimento surge, nesta fotografia a preto-e-branco, com uma nitidez espantosa. 
Cinco das seis fotografias impressas foram feitas com a Pancake; a outra foi feita com a OM de 50mm/f1.4. E que prodígio que esta lente é! À resolução e nitidez (desde que bem focada, evidentemente) junta cores saturadas e vivas, mas correctas e fiéis àquilo que vemos, e uma profundidade de campo de que só uma lente verdadeiramente rápida é capaz: o bokeh é simplesmente maravilhoso!
Devo também referir o seguinte, mesmo que, aparentemente, patenteie uma incoerência muito pouco macedónica: todas as fotografias agora impressas, à excepção de uma, foram processadas com o DxO Optics Pro 7. Escolhi as versões tratadas com este programa depois de as comparar com os JPEGs obtidos com o Olympus Viewer e com o Lightroom. As vantagens de usar este software, que me pareciam escassas ao ver fotografias no computador, tornaram-se evidentes com a impressão. O que me pareceu um exagero nas altas luzes é, afinal, nem mais nem menos do que aquilo que a câmara captou. E não é impossível atenuá-las, apenas não é tão simples como com o Lightroom 4. Com o Pro 7, obtive imagens praticamente isentas de ruído - a redução do ruído é menos invasiva que a do Lr4 - e com uma gama dinâmica extensa - mesmo com JPEGs. Vou mais longe: o Pro 7 faz milagres com os JPEGs. Talvez venha a adquirir este software, agora que as impressões mostraram o que ele pode fazer pelas fotografias - mesmo que isto esteja em completa contradição com o que escrevi sobre este programa em textos anteriores. O Pro 7 é verdadeiramente excelente.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A focagem nítida é mesmo necessária?

Desde sempre se procurou aperfeiçoar o material fotográfico, sobretudo as objectivas, para que a imagem fosse cada vez mais nítida e precisa, com contornos bem delineados e nítidos. Este tornou-se no padrão a prosseguir pelos fabricantes, que desde muito cedo fazem destas características argumentos de venda. A fotografia digital veio exacerbar este paradigma, tornando a nitidez da focagem numa exigência absoluta.
Será esta nitidez sempre necessária? Claro que é útil ter uma imagem nítida, e uma fotografia com deficiências na focagem pode até ser vista como uma demonstração de inabilidade do fotógrafo. Uma fotografia sem deficiências de nitidez é uma maravilha de contemplar, e o olhar reage sempre negativamente à desfocagem.
E se a intenção do fotógrafo for mesmo provocar a desfocagem para conferir uma ideia qualquer à fotografia? Não me refiro apenas ao caso óbvio do bokeh, em que a desfocagem do plano de fundo é mais do que uma escolha estética, mas uma necessidade - quer para isolar a figura fotografada, quer por ser uma consequência necessária da profundidade de campo estreita de muitas teleobjectivas - nem ao arrastamento, que não é, em rigor, um problema de focagem, mas ajuda a conferir dinâmica e sensação de velocidade à fotografia. Refiro-me à perda (relativa) de nitidez na focagem.
Uma desfocagem subtil pode contribuir, e muito, para dar expressão à fotografia. Pode ajudar a criar ambiente, o que seria impossível se a imagem fosse mantida nítida. A nitidez absoluta, em certas fotografias, não resulta: torna-as frias e clínicas, dando-lhes um carácter meramente informativo ou documental. Por vezes interessa impregnar a fotografia de ambiente e de sensações subjectivas, como a nostalgia ou a melancolia. Nestes casos uma desfocagem ligeira pode tornar a imagem onírica. E a desfocagem (desde que não seja grosseira ou exagerada) pode resultar muito bem em retratos e fotografias de pessoas. Esta desfocagem, quando bem usada, ajuda a criar uma sensação de intemporalidade, de imagem que sobreviveu através dos tempos - mesmo que tenha sido feita hoje mesmo. Ela dilui os contornos das figuras e, ao fazê-lo, convida a uma leitura atenta da fotografia, levando o espectador a adivinhar significados e a descobrir sensações de uma maneira que não seria possível com fotografias perfeitamente nítidas
A nitidez absoluta nem sempre é desejável. Por vezes um pouco menos de nitidez pode tornar expressiva uma fotografia que, de outro modo, seria banal. Claro que, com equipamento feito para a focagem mais nítida possível, torna-se difícil desfocar uma imagem. Se a intenção for obter uma focagem relativamente suave, o único recurso é a focagem manual. As lentes concebidas para trabalhar com câmaras digitais não têm anéis de focagem com a precisão das lentes manuais, recorrendo ao sistema chamado focus by wire: não têm um ponto inicial e outro final, rodando constantemente, o que dificulta a focagem; já as lentes de focagem manual se prestam a esta técnica, sendo possível obter resultados extremamente satisfatórios com estas objectivas - mesmo que elas sejam montadas em câmaras digitais.
Os resultados das fotografias com menor nitidez na focagem são de tal maneira agradáveis que há pelo menos um fabricante que inclui um filtro artístico, denominado «soft focus», para produzir sem esforço o tipo de efeito a que me tenho vindo a referir. Contudo, como em qualquer outro aspecto técnico da fotografia, é muito mais interessante experimentar obter este efeito usando os meios da câmara manualmente.
Não estou a sugerir que toda a gente desate a fazer fotografias desfocadas - até porque, como já referi, uma imagem destas pode facilmente ser tomada por uma fotografia mal tirada. Apenas recomendo que se experimente. Os resultados podem ser surpreendentes. A nitidez nem sempre é interessante. 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Mais impressões

Penso que já referi aqui que sou daquelas pessoas para quem a fotografia tem de ter expressão física, que lhe é conferida pelo suporte papel. Já escrevi aqui dois textos sobre as primeiras fotografias que mandei imprimir, e a satisfação que obtive quando vi as impressões. O que não disse, porque só o aprendi mais tarde, é que a Olympus, no processamento das imagens pelas suas câmaras, dá prioridade à qualidade das impressões que irão (ou não) ser feitas. Foi algo que descobri há pouco, num ensaio da Olympus E-M5, e que pode ser lido aqui. Está explicado o sucesso das primeiras impressões: a Olympus pensa as fotografias - em particular os JPEGs - para serem impressas. E é assim que deve ser: a fotografia não faz sentido nenhum se for apenas para ver no computador.
Hoje mandei fazer mais meia dúzia de impressões. São fotografias que me agradam e quero ver como ficam no papel. Vão também servir como portfólio para quando quiser mostrar o que sei (ou não) fazer. Talvez um dia decida pô-las à venda, quando conseguir vencer a sensação de que as minhas fotografias não são de qualidade suficiente para que alguém se decida a gastar dinheiro com elas - e logo nestes tempos de crise em que toda a gente limita os seus gastos ao estritamente essencial. Como descobri um estabelecimento que faz impressões mais baratas (mas de boa qualidade) do que a concorrência, o investimento não é substancial. Aliás, dei mais dinheiro por um cartão de memória do que aquele que gastei e vou gastar com as impressões.
São estas as fotografias que mandei imprimir: 1 2 3 4 5 6 
Deixei de fora a série feita nas estações do Metro - mais por causa dos níveis de ruído que por outras razões - e nenhuma das impressões é de fotografias feitas à beira-mar, com o arrastamento das ondas. Ficarão para mais tarde. Curiosamente, apenas duas das fotografias que vão ser impressas são a cores - o que parece demonstrar uma certa inclinação para o preto-e-branco...

Figura de urso

Fotografia por Andrew Kane
Na sequência do texto de ontem, que resultou de muita reflexão sobre o rumo que estava a dar à minha fotografia, lembrei-me de um episódio que vou relatar. Foi anunciada há poucos dias uma nova objectiva para o formato micro 4/3, um zoom de abertura constante de f2.8 que, por custar €1.000,00, se torna absolutamente redibitório. O artigo em que li sobre esta nova lente foi comentado por muita gente, incluindo alguns que vieram dar o seu contributo científico. Um destes entendia - e estava perfeitamente convicto da sua razão, pela maneira como se dirigia a quem o contrariava - que uma dada abertura da objectiva variava conforme a área do sensor da câmara em que a lente fosse montada. Assim, uma lente que montada numa câmara com sensor de 24 X 16 mm (full frame) teria uma abertura máxima de f2.8, veria este valor reduzido para f5.6 quando montada numa câmara com sensor 4/3. Isto é um disparate: é como pretender que a acuidade visual de alguém varia conforme o tamanho do cérebro. Mas há quem vá mais longe e diga que também o ISO é multiplicado nos sensores de área menor que 24 X 16. A verdade é que apenas a distância focal é multiplicada por um determinado coeficiente - 1,5, 1,58, 2, etc. Os outros factores não são alterados de acordo com a área do sensor.
Claro que o primeiro comentarista tinha explicações muito científicas e, como não deve ter mais nada que fazer na sua vida, entreteve-se a publicar mais comentários insistindo nas suas teses. Para o fim já estava a escrever que a área do sensor não afectava a profundidade de campo, o que é um disparate ainda maior do que o primeiro - mas há quem entenda que, se repetir um disparate muitas vezes com convicção, este acaba por se tornar verdade, de pouco importando toda a evidência em contrário. Pensei: «este gajo percebe mesmo de fotografia!» A curiosidade levou-me à galeria de fotografias que o indivíduo publicou naquele site. Esperava fotografias HDR, ou com profundidades de campo muito reduzidas - ou com o uso de qualquer outra técnica que aplicasse os conhecimentos teóricos exibidos. Em vez disso encontrei oito fotografias (que podiam ter sido tiradas com uma compacta) de um gato posando sobre o chão alcatifado de uma casa!
Percebem agora qual a sequência deste texto em relação ao anterior? Não há pior figura do que a de pessoas como esta, que se alardeiam vastos conhecimentos de tecnologia fotográfica e não sabem fazer fotografias. Há aqui uma inversão total de valores: para o dono do gato (que, por sinal, era bonito, mas não tanto como o meu Sousa), é mais importante saber (?) tudo sobre a tecnologia fotográfica do que fazer boas fotografias. É a isto que eu chamo fazer figura de urso: ser um ignorante com a mania de que sabe muito, e depois expor-se ao ridículo à frente de milhares de pessoas.
Não quero incorrer nisto. A fotografia - a captação de um momento único e irrepetível - vem primeiro, a técnica vem depois. E é auxiliar da primeira: existe para ajudar a fazer fotografias melhores. A fotografia não é nem pode ser um mero instrumento para aferir as especificações técnicas de uma câmara ou de uma lente.
E agora um momento nonsense. Já que se fala de ursos, não deixem de visitar este artigo (ver aqui) sobre um urso que atacou ferozmente uma Nikon D4 no parque de Yellowstone: a história é interessante, mas não tanto como alguns comentários cheios de trocadilhos que se seguiram. Estes sim, merecem ser lidos...

terça-feira, 22 de maio de 2012

Um conselho

Hoje estive em casa de Fernando Aroso, um fotógrafo profissional que conheci há dois anos. Mostrei-lhe as minhas fotografias impressas e, felizmente, obtive opiniões favoráveis - especialmente quanto à do manequim da Rua Miguel Bombarda. 
Depois estive a ver as fotografias dele; fotografias da cidade do Porto, em concreto da Foz e da Ribeira. Fiquei sem palavras, como alguém a quem fosse revelado o Grande Segredo da Vida. Fotografias belíssimas, que retratam paisagens que todos nós já vimos e muitos já fotografaram - mas nunca como o fez Fernando Aroso. Aquelas fotografias tinham alma. Algumas podiam ter ruído (ou grão, as do tempo do analógico), podiam estar inclinadas ou mesmo um pouco desfocadas - mas captavam a essência, o modo de ser da cidade do Porto. Fotografias que causam emoções, que vão ao nosso interior e nos despertam emoções e nos fazem identificarmo-nos com o espírito da cidade de uma maneira que só é acessível aos portuenses ou àqueles que, não o sendo, se apaixonam pela cidade ao ponto de a escolherem para nela viver. Ao pé daquelas fotografias, as minhas - mesmo aquelas em que estive tecnicamente próximo da perfeição - pareciam meramente documentais, sem vida, sem alma, frias e sem interesse.
Esta visita foi uma lição. Aprendi que fui longe demais na minha preocupação com a técnica. A técnica não é o mais importante; o que conta, na fotografia, é ter a capacidade de captar momentos únicos e irrepetíveis e fazê-lo conferindo expressão às imagens. Porque a fotografia é uma arte, e a arte é expressão de algo por modos que a sensibilidade, mais que o intelecto, compreende.
Aprendi também algo que já sabia, mas que sempre me recusei a reconhecer: a fotografia digital não tem alma. Pode ganhá-la pelos motivos ou por certas escolhas do fotógrafo, mas a analógica é mais calorosa, mais humana. Ainda não é isto que me vai fazer correr para comprar uma Olympus OM-2, mas a verdade é que nós, as pessoas, somos imperfeitos, e a fotografia digital persegue a perfeição. Pretender alcançar a perfeição - o recorte das figuras, o pormenor, a limpeza de uma imagem - é um disparate (em que eu me preparava para incorrer). A fotografia digital, quando comparada com a analógica, é fria, tal como o som de um CD em comparação com um bom vinil tocado num gira-discos decente.
Por tudo isto, o meu conselho - o conselho n.º 1, a mãe de todos os conselhos - é este: quando fotografarem, impregnem as vossas fotografias de alma. Procurem que ela exprima algo: um sentir, uma emoção. Claro que a técnica é importante para se conseguir exprimir seja o que for com a fotografia, mas, uma vez dominada, deixem que seja a emoção, e não a razão, a comandar as vossas escolhas. Procurem que a fotografia exprima a emoção que vos percorre ao ver determinada cena, seja ela uma paisagem, um grupo de pessoas ou um simples edifício. Lembrem-se que quem vê uma fotografia não quer saber do ISO, do equilíbrio dos brancos, da medição nem de nenhuma dessas coisas que só são importantes no sentido em que nos ajudam a conferir expressão à imagem; quem vê uma fotografia quer ficar impressionado com ela por ser única e lhes transmitir algo. Tentem encher a vossa fotografia de sentido, porque a fotografia tem de ter um conteúdo; não pode ser só forma.
Nunca se esqueçam disto!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

HDR

Toda a gente lhe chama HDR, mas o seu nome verdadeiro é HDRI (High Dynamic Range Image). Como quer que lhe chamemos, esta é uma técnica extremamente interessante, embora admita que muitos fotógrafos sintam alguma antipatia por ela à custa dos abusos que se podem ver na Internet; quando bem aplicada, com conta e medida, esta técnica produz resultados fantásticos.
Uma imagem HDR é feita de uma maneira equivalente ao dodging and burning da fotografia analógica, usada para trazer as altas luzes e as sombras para a imagem. O HDR segue o mesmo princípio, com a vantagem de não se ter de mergulhar as mãos em soluções, inalar químicos ou usar cartões perfurados para induzir altas luzes e máscaras para preservar as sombras. Na era digital é tudo feito no computador. Fazem-se três fotografias do mesmo objecto, todas em formato RAW e sem alterar a distância e o plano focal, para que a imagem seja a mesma; a primeira é feita subtraindo 2 EV à exposição, a segunda com a exposição correcta e a última com 2 EV a mais. No programa de edição justapõem-se as três imagens. O resultado, com um pouco de sorte, será uma imagem final com todas as sombras e altas luzes. Deste modo é possível obter imagens extremamente bonitas - desde que, como o disse, não se abuse deste efeito -, em que se ampliam os extremos da gama dinâmica. Esta técnica produz imagens de tal maneira ricas e cheias de pormenor que podem levar, em muitos casos, a questionar a necessidade de usar filtros, nomeadamente os polarizadores.
Imagem processada com o Olympus Viewer 2
A mesma imagem com o DxO Optics Pro 7, usando o HDR automático e o local contrast
O DxO Optics Pro 7, que ainda poderei usar gratuitamente por mais alguns dias, tem uma função que permite obter uma imagem muito semelhante às HDRI apenas com uma fotografia, convertendo automaticamente o ficheiro RAW numa HDRI. Não é uma imagem HDR verdadeira, mas fica muito próxima - e ainda mais se for utilizada uma ferramenta extremamente interessante na edição da imagem, ferramenta essa denominada local contrast (contraste local). Os resultados do uso do local contrast são fascinantes, e ajudam a conferir à imagem as características de pormenor e contraste das imagens HDR.
Esta função do Pro 7 leva-me a lamentar mais uma vez as falhas e omissões deste programa, porque este pseudo-HDR realça a imagem de uma forma absolutamente soberba: pormenores que estavam escondidos pelas sombras, e de cuja existência nem se suspeitava, são mostrados com uma claridade fascinante. Os contrastes ganham uma nitidez em tudo semelhante a uma boa fotografia HDR, e os pormenores ocultados pelas altas luzes surgem perfeitamente evidenciados na imagem. Os resultados aproximam-se assustadoramente da magia!
Contudo, este não é um verdadeiro HDR. Será, quando muito, um HDR no qual não foi usada a imagem subexposta, porque a imagem automaticamente obtida não é lá muito rica em sombras. Fica até, as mais das vezes, com demasiada claridade nas altas luzes, mas é possível obter um efeito muito semelhante ao HDR usando as ferramentas de raio das sombras, ajuste dos pretos e, sobretudo, o local contrast. Compete ao utilizador decidir até que ponto quer usar as sombras, já que a sua redução ou aumento tem implicações na quantidade de ruído presente na imagem. Já o local contrast é quase mágico na maneira como realça os contrastes mais subtis. Reparem na diferença da poça de água nas imagens acima, tratada com o Viewer 2 e com o Pro 7: normalmente o tipo de contraste aparente nesta última, em que se vê o fundo da poça e os reflexos na água com uma  nitidez incrível, só se obtém com um filtro polarizador. E que dizer da quantidade de pormenor que se tornou visível com o efeito HDR?
Impressionante, não é? Devo dizer, contudo, que os resultados obtidos com o HDR são ainda melhores - mas o Pro 7 é um HDR para preguiçosos. Ou para quem não tem o Photoshop CS.

sábado, 19 de maio de 2012

A maldição dos céus brancos

É uma coisa que me irrita, mas está sempre a acontecer: tento fotografar qualquer coisa com o céu como fundo e muita luminosidade, por a luz solar estar a incidir fortemente. A câmara pode decidir-se por fazer a medição da luz no céu, que fica exposto correctamente, mas o objecto fica sombreado. Ou este fica correctamente exposto e o céu fica branco. Seja qual for a escolha do bendito do fotómetro, a fotografia não vai ficar homogeneamente exposta. O mais provável é que queiramos reter o pormenor do objecto, caso em que o céu vai inevitavelmente ficar branco.
Uma das soluções possíveis é o uso da medição pontual, mas esta vai apenas medir a luz num pequeno ponto da imagem, o que nem sempre resolve o problema - a menos que queiramos deliberadamente privilegiar uma área da imagem. (A medição pontual é a maneira ideal de obter silhuetas.)
Há uma alternativa, que não sei porquê uso muito pouco, mas que experimentei hoje mesmo com bons resultados: o botão AE-L (auto exposure lock). Este botão não está ali só para complicar ainda mais a vida ao pobre do fotógrafo: ele bloqueia a exposição, de maneira a que possamos usar a exposição medida numa dada área em toda a imagem. Por exemplo apontando a câmara para o céu, de maneira a que o fotómetro meça a luz e determine a exposição correcta para aquela área, e depois reenquadrando a imagem de modo a abranger o objecto que se quer fotografar. Como se usa? Simples: aponta-se a câmara à área que queremos que fique bem exposta, regulamos a exposição (o que nem sequer é necessário se fotografarmos nos modos S ou, sobretudo, no A), premimos o botão AE-L e disparamos, mantendo o botão AE-L premido em simultâneo. E resulta: nas fotografias que fiz hoje usando esta função, a imagem ficou correctamente exposta por todo, sem que o fotómetro privilegiasse uma das áreas da imagem em detrimento de outra.
Isto é bastante mais simples do que seleccionar a medição pontual, e pelos vistos é bastante eficaz. É fantástico descobrir que, ao fim de um ano, ainda estou a descobrir e a aprender funções da câmara... 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Fernando Aroso

Quando, em Junho do ano passado, escrevi um texto sobre Fernando Aroso, era para ser uma homenagem mais ou menos anónima; pensei, até, que aquela mensagem tivesse sido esquecida e permanecesse soterrada sob a poeira do tempo. Contudo, ao consultar as estatísticas do blogue nos últimos dois dias, verifiquei ter havido um volume muito grande de visualizações da respectiva página. Interroguei-me porquê: afinal de contas, era um texto com quase um ano...
Hoje soube qual a razão dessa popularidade serôdia: o texto foi descoberto por alguém próximo de Fernando Aroso, ou talvez mesmo pelo próprio. Foi curioso (e, ao mesmo tempo, um pouco embaraçoso: ser tímido tem estas consequências) descobrir este renovado interesse no meu texto, porque considero Fernando Aroso um verdadeiro mentor. Foi por causa dele que decidi fazer fotografia. É alguém muito importante para mim, mas é-o sobretudo para a minha cidade e para a fotografia portuguesa. 
Devo sentir-me satisfeito se ajudei, ainda que em modesta medida, a divulgar este que é um dos nomes mais relevantes da fotografia nacional e um dos cidadãos do Porto a quem o justo reconhecimento tarda em chegar. Fica aqui o meu agradecimento a todos os leitores do blogue que consultaram o texto em questão, e a Fernando Aroso - porque sem ele não fotografaria. Nem o ISO 100 existiria.

And the winner is... (2)

Tenho pena que o DxO Optics Pro não seja o adequado para a minha câmara. E ainda mais pena tenho de que seja capaz de aberrações tão grotescas e intoleráveis como os pontos luminosos que mencionei e ilustrei no texto anterior. O Pro 7 faz-me lembrar os meus tempos de audiófilo, em que lia ensaios sobre equipamento de alta fidelidade, e das críticas que eram feitas ao equipamento de proveniência francesa, especialmente às colunas de som da Focal (ex- JM Lab), Triangle, BC Acoustique e Cabasse: muito pormenor, som de uma nitidez inacreditável, manchado por agudos límpidos, mas insistentes ao ponto de furar os tímpanos. Aqui, em lugar dos agudos, temos umas altas luzes insistentes que raramente se conseguem corrigir de modo satisfatório. É certamente uma questão cultural: os franceses parecem gostar de tudo muito brilhante, muito cintilante.
Este tempo que perdi a comparar os dois programas fez-me ver a fotografia de maneira diferente. O RAW, que uso em exclusivo desde há quase um mês, tem a seu favor um potencial de resolução incrível, mas ao apresentar a imagem sem qualquer tratamento pelo processador, esta surge com todo o ruído de que o sensor é capaz. 
Isto levou-me a questionar se faz algum sentido fotografar em RAW com uma E-P1, ademais quando as câmaras da Olympus têm um processamento dos JPEGs que é unanimemente elogiado. Talvez a minha busca pela maior qualidade da imagem possível me tenha levado longe demais, para territórios muito afastados da simplicidade que pretendi que as minhas fotografias tivessem. Afinal de contas, quando fiz as fotografias que mandei imprimir - e que são um êxito em termos de qualidade da imagem -, apenas fotografava no formato JPEG. E obtinha imagens livres de ruído, de uma resolução que, embora não se traduzisse em megabytes, era contudo excelente - como, de resto, as referidas impressões comprovam. Hoje, depois da experiência RAW e do contacto com dois programas de edição de imagem altamente sofisticados, fotografo de maneira diferente: a minha fotografia é mais pensada, mais calculada; feita a pensar nos resultados da pós-produção. Sem querer, posso estar a cortar as asas à minha criatividade fotográfica, trocando-a por uma qualidade de imagem que pode ser ilusória.
De facto, quando abro a 100% as fotografias retocadas, descubro sempre que estas não podem ser impressas: há sempre anomalias. Halos à volta dos objectos, resultantes da aplicação do unsharp mask, incorrecções tonais que são impossíveis de corrigir satisfatoriamente, perdas de resolução em resultado da redução do ruído e artefactos digitais criados pela mesma redução. Entre outras. Sou daqueles que entendem que uma fotografia apenas atinge a sua glória quando é impressa; que sentido faz obter imagens que não posso imprimir, porque a impressão exporia deficiências que não são aparentes no formato JPEG?
Contudo, é inegável que o Lightroom e o Pro 7 são superiores ao Olympus Viewer 2 que descarreguei gratuitamente em Julho do ano passado. Especialmente ao tratar ficheiros RAW, mas também a corrigir JPEGs. O Pro 7, em particular, faz maravilhas com imagens que julgava quase perfeitas. Usar estes programas teve o benefício de me abrir os olhos para alguns erros que cometia quando fotografava; um deles era a minha tendência para a sub-exposição. Não há nada de errado numa fotografia com boa luminosidade, desde que esta não torne os objectos baços e as cores planas. Nem sempre as imagens melhoram por serem muito contrastadas.
Resolvi, deste modo, repensar a minha fotografia por completo, devolvendo-a aos meus conceitos originais antes que me torne em mais um pixelpeeper. Quero que o meu conceito de resolução consista na percepção do pormenor que vejo na fotografia, e não no número de megabytes; quero saber que a exposição está correcta porque é assim que a vejo, e não por causa das curvas do histograma. E, sobretudo, não quero gastar mais tempo a processar imagens do que a fotografar. Tenho uma belíssima câmara para fotografar JPEGs, que revela limitações quando fotografo RAW; para quê, então, usar este formato? O acréscimo de resolução não justifica a maçada: não há muita diferença entre os 3,5 MB que são a média da resolução dos JPEGs e os 4/4,5 MB que estimo serem a resolução média dos ficheiros obtidos a partir do RAW. E, sobretudo, não vejo por que devo insistir em produzir imagens que mostram deficiências quando ampliadas, tornando impensável a sua impressão. 
O vencedor é... a simplicidade. O JPEG com um tratamento básico, para o qual o Viewer 2 é mais que suficiente. Esta simplicidade manteve-me satisfeito durante os meses que precederam estas experiências; não me parece sensato mudar em nome de uma evolução que tem mais de ilusória do que de real. Ken Tanaka tinha, afinal, razão.

And the winner is... (1)

A decisão está tomada. Durante mais de duas semanas ensaiei o Adobe Lightroom 4 e o DxO Optics Pro 7. Retoquei dezenas de ficheiros RAW com ambos os programas, as mais das vezes com resultados inconclusivos - tal a qualidade de ambos. O que um fazia, o outro também podia fazer. E, por vezes, melhor. Os resultados foram inconclusivos nas primeiras duas semanas, e assim permaneceram até ontem.
O Lightroom não precisa de longas descrições: é a ferramenta que quase toda a gente usa, e os outros programas de edição de imagem imitam-no com um grau mais ou menos elevado de êxito. Com ele consegue-se o controlo completo da qualidade da imagem, e se esta piora depois de processada no Lr é porque o utilizador é inábil ou se excedeu no uso das ferramentas. Este não é um programa que transforme uma fotografia noutra coisa qualquer, como o CS ou o Elements, alterando por completo o espírito com que aquela foi feita; é um software que leva mais longe a qualidade da imagem, que pode ser corrigida de todas as formas, desde o equilíbrio dos brancos ao nível de ruído sem incorrer nos excessos da manipulação.
O Pro 7 é, na aparência, mais um clone do Lightroom, mas seria injusto reduzi-lo a uma mera imitação. Este programa introduz três benefícios importantes em relação ao Lr: a correcção automática das distorções da lente - desde que esta seja reconhecida pelo programa -, a correcção, também automática, das aberrações cromáticas (no Lr esta ferramenta está extremamente bem escondida...) e uma acentuação considerável da gama dinâmica, criando um efeito semelhante ao das imagens HDR. O seu grau de automatização garante, à partida, bons resultados, bastando clicar a imagem com a tecla esquerda do rato para comparar com a original e descobrir as diferenças: se a imagem original estiver sobre-exposta, o Pro 7 devolve-lhe a exposição correcta; o mesmo se a imagem estiver sub-exposta, ou se as cores tiverem luminância ou brilho a mais. Muitas vezes é possível processar a imagem tal como ela fica depois da correcção automática - tal a qualidade desta correcção automática; outras vezes, porém, os resultados são deveras frustrantes.
Um dos raros casos de êxito na correcção das altas luzes com o Pro 7
Ao ampliar a gama dinâmica, o DxO Pro 7 tem uma certa tendência para expor demasiado as altas luzes, sendo por vezes difícil corrigir este excesso sem obscurecer a imagem por todo. Apesar de ser possível controlar a intensidade global da imagem e, em particular, a da cor, o resultado é quase sempre fotografias com excesso de altas luzes. Apesar de ter contornado esta tendência nalgumas imagens, a regra é surgirem picos brancos extremamente altos no lado direito do histograma, as mais das vezes perigosamente próximos da banda direita deste último. É isto que se obtém quando toda a gama dinâmica está presente na imagem, o que pode ser bom, e muitas vezes o é - mas não quando se tem uma câmara que tende a ser excessivamente entusiástica com as altas luzes, como o é a E-P1.
Já que menciono a minha câmara, devo dizer que a correcção automática se baseia em algoritmos introduzidos de acordo com as análises que os DxO Labs fazem às lentes e sensores: as imagens são corrigidas em conformidade com os dados recolhidos naquelas análises, e o resultado é, as mais das vezes, muito satisfatório. Quando descarreguei a demo da versão 7.2.2 do DxO Optics Pro, esta ainda não continha algumas ferramentas para a E-P1, como a redução automática do ruído (e eu considero a redução do ruído a ferramenta mais importante de um programa de edição da imagem); ontem mesmo a DxO disponibilizou a versão 7.2.3, que já suporta integralmente a E-P1.
Original tratado com o Lightroom (acima) e com o Pro 7, e crops a 100% das áreas com mais ruído (clique para ampliar).
O resultado foi uma tremenda decepção: o nível de ruído é exactamente o mesmo que aquele que está presente nas imagens tratadas com a evolução anterior. Se há alguma correcção automática, esta é extremamente subtil e, em qualquer caso, não tem a flexibilidade do Lightroom. O que se nota é um nível de ruído menor, porque o Pro 7 faz um excelente trabalho ao restituir luz às zonas de sombra onde o ruído produz os seus efeitos mais nocivos, mas o ruído retorna quando se aumenta o nível dos pretos ou o raio das sombras. Talvez esta presença inelutável do ruído seja o resultado de uma diferença de concepção: não excluo que a DxO entenda ser preferível manter algum ruído em benefício do pormenor, em lugar de o reduzir como o faz o Lightroom quando se corre o botão da redução do ruído de luminância demasiado para a direita. O nível de pormenor das imagens automaticamente corrigidas pelo Pro 7 é de fazer cair o queixo - esta é, indubitavelmente, uma das maiores vantagens deste software -, e admito que a DxO entenda ser preferível manter este nível de resolução em lugar de o diminuir com um filtro de ruído demasiado invasivo, como o faz o Lightroom. É possível que, se tivesse uma câmara com um nível de ruído inferior ao da E-P1, os resultados da correcção fossem muito mais satisfatórios, mas aquela é a minha câmara e não posso basear a minha escolha em critérios hipotéticos. A impossibilidade prática de corrigir as altas luzes e a redução do ruído insatisfatória afastam-me de um programa que, uma vez ponderados todos os factores, é altamente recomendável.
Ao experimentar a evolução 7.2.3, dei-me conta de uma anomalia: ao tratar uma fotografia nocturna, dei-me conta do aparecimento de pontos luminosos nas zonas de sombra. Embora o software elimine automaticamente os pixéis mortos, estes pontos persistiram. Já me tinha dado conta do aparecimento ocasional de manchas de pixéis coloridos enquanto tratava imagens (o que também me aconteceu uma ou duas vezes com o Lightroom), mas estas manchas desapareciam com a conversão em JPEG; os pontos luminosos que me apareceram ontem, porém, também são visíveis nos JPEGs, pelo que poderemos ter aqui um bug qualquer. Em todo o caso, esta anomalia deu-me vontade de desinstalar imediatamente a demo. (Continua)   

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A minha câmara ideal

Se pudesse ter uma câmara feita à medida, só para mim, seria uma DSLR pequena e transportável, como a Olympus Pen FT d'antanho, mas digital. Digital porque não quero ter incerteza nos resultados nem despesa com revelações, e quero ter o nível de controlo que as câmaras digitais e a edição da imagem me dão. Esta câmara não seria uma mirrorless: teria um sistema engenhoso de espelho e porroprisma, como a Olympus E-330 ou a Pen FT, para conduzir a luz a um visor óptico, e teria o sensor Foveon da Sigma SD1. Porque este é o sensor mais genial, e também o de maior resolução e o mais neutro e preciso na captação de cores. O processador podia ser o mesmo da SD1, ou então o TruePic VI das Olympus E-P3 e E-M5.
E seria totalmente despida de distracções, como os modos «criativos» das compactas, a detecção de olhos, os filtros artísticos e outras palermices que de nada servem a quem quer ter o controlo da imagem. Evidentemente, não teria vídeo. Para que é que as câmaras digitais têm vídeo? Quem gosta de vídeo deve comprar uma câmara de vídeo! Em contrapartida, teria os modos de exposição avançados, o célebre PASM. Talvez dispensasse o modo P, agora que praticamente não o uso por descobrir que tenho melhores resultados, na fotografia de rua (única circunstância em que usava o modo P), usando a prioridade à abertura. Evidentemente, teria controlo da medição e do equilíbrio dos brancos e fotografaria em formato raw e em JPEG. E talvez em DNG. Teria um visor óptico TTL, mas não teria flash incorporado, e teria um valor ISO baixo. O limite seria de 800 ou 1600, porque não preciso de mais. O que precisava era que o ruído de fundo (noise floor) fosse intrinsecamente baixo. Não me interessam valores ISO da ordem das centenas de milhar; interessa-me não ter nenhum ruído a ISO 100.
Por outras palavras: seria uma câmara minimalista, completamente orientada para a fotografia e capaz de imagens da mais alta qualidade. É evidente que esta seria uma câmara cara, porque a sua procura seria reduzida - possivelmente só teria um comprador: eu... - e seria impossível realizar economias de escala. Quanto às lentes, podia ter uma baioneta Canon: deste modo teria uma verdadeira cornucópia de boas lentes ao meu dispor: Canon, evidentemente, mas também Sigma, Tokina e Tamron.
E o corpo? Este estaria algures entre a Fujifilm X-Pro 1 e a Leica M9. Mais elegante do que a primeira - e menos descaradamente «pequena Leica» - e mais compacta que a segunda. Os leitores mais atentos terão reparado que seria uma falsa rangefinder, porque, apesar de ter os princípios ópticos de uma DSLR, o visor situar-se-ia no lado superior esquerdo do painel traseiro. A minha câmara - eu não teria dinheiro para a comprar, mas decerto oferecer-me-iam uma ou duas por ter sido o seu conceptor... seria feita de metal branco, evidentemente, e revestida de couro preto. Bonita e elegante como eram as câmaras do início dos anos 70, antes das obsessões ergonómicas que redundaram nas linhas derretidas das DSLR actuais.
Sonhos...

Velocidade furiosa

Por vezes o fotógrafo iniciado pode ser acometido de grande perplexidade diante do jargão fotográfico. Já nem falo do facto de, para efeitos de equilíbrio dos brancos, o vermelho ser uma cor fria e o azul pálido uma cor quente, ou de a abertura maior ser referenciada por um número menor do que uma abertura estreita - porque estas aparentes incongruências têm uma explicação. A perplexidade manifestar-se-á quando lêem ou ouvem falar de lentes rápidas. Como é que uma lente pode ser considerada rápida? O que é isso de uma lente rápida?
Uma lente rápida é uma lente com um bom valor de abertura máxima (que, como sabemos, é representada por um número f baixo). Uma lente 1.4 é mais rápida que uma lente 2.0 e esta é mais rápida que uma lente 3.5. O facto de se referir certas lentes como rápidas, lentas ou assim-assim tem que ver com o facto de uma lente capaz de grandes aberturas permitir o uso de velocidades do obturador bastante altas. Ainda ontem me referi à relação de reciprocidade entre a abertura e a velocidade do obturador: quanto mais baixa for a primeira, mais elevada pode ser a outra. Com uma lente na abertura f1.4 é possível obter velocidades de disparo da ordem dos 1/1000 sob céu nublado. É isto que se entende por rapidez da lente.
Voigtländer Nokton 25mm: abertura máxima de f0.9!



A rapidez de uma lente é uma característica importante. Com uma lente rápida é possível usar velocidades de disparo elevadas em condições de luz abaixo das ideais sem ter de recorrer a um tripé, ao flash ou a sensibilidades ISO muito altas. Por outras palavras, é possível fotografar, nessas condições de luz, sem que as fotografias fiquem tremidas quando seguramos a câmara com as mãos. A outra vantagem das aberturas amplas é o estreitamento da profundidade de campo, que facilita a obtenção do bokeh e a focagem selectiva. A desvantagem é que, quando se usam estas lentes na abertura máxima, as imagens podem ficar algo baças, com cores planas, mas este é um problema que só se manifesta com aberturas da ordem dos f1.4 ou f1.8. Reduzir um pouco a abertura resolve o problema.
Há lentes que, pela sua natureza, são mais lentas que outras: os zooms, especialmente os de grandes distância focal, pertencem a esta categoria. Tecnicamente, é possível fabricar zooms rápidos, mas são de tal maneira caros que a sua aquisição se torna proibitiva. E são grandes e pesados, pelo que uma das grandes vantagens das lentes rápidas - dispensar o tripé - desaparece por completo. Daqui resulta que a maioria dos zoom disponíveis tenha aberturas máximas que podem ser consideradas medíocres, da ordem dos f4 ou f4.5.
Hoje há uma verdadeira mania das lentes rápidas, e o valor da abertura máxima é usado como argumento de venda por muitos fabricantes. A rapidez, contudo, é apenas uma das qualidades de uma lente. Há lentes que, não sendo tão rápidas, são contudo excelentes, não devendo ser ignoradas. Um exemplo que posso dar é o da OM 28mm/f3.5: esta lente tem uma nitidez e uma apresentação das cores de tal ordem que se torna fácil esquecer que a sua abertura máxima é apenas f3.5. Não é uma lente diminuída por ser menos rápida que outras. Tudo depende da utilização que se lhe quiser dar: esta não é a lente que uso quando quero diminuir a profundidade de campo - é uma grande-angular, embora se comporte como uma standard montada na minha câmara, e as grande-angulares são concebidas para manter todos os planos focados -, nem é a ideal para fotografar com pouca luz - mas, dentro da sua gama de utilização, é uma objectiva absolutamente excepcional. Nem sequer a posso comparar com a minha outra OM, a rapidíssima 50mm/f1.4, porque a utilização que dou a ambas é completamente diferente.
Nada disto contradiz o facto de a rapidez ser uma característica desejável numa lente. Apenas reitero que a rapidez não é a única qualidade a procurar quando se escolhe uma objectiva. Há lentes, como as SLR Magic e as Lensbaby Toy Lens, que têm aberturas enormes, mas têm tão pouca nitidez que não chegam a ser mais do que a denominação deste último modelo sugere: brinquedos. Uma OM com uma abertura máxima de f3.5 ou f4 é infinitamente melhor. A minha recomendação é que se use o critério da velocidade com um grão de sal e não se use como factor exclusivo de escolha de uma objectiva - embora, repito, seja uma característica que se deve procurar.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Uma DSLR não é um monstro!

É mais fácil do que parece à primeira vista...
Eu não tenho uma DSLR. Em parte por opção, porque nunca gostei deste tipo de câmara, mas também por constrangimentos económicos. Tenho uma Olympus E-P1 - o que, por esta altura, já não deve ser novidade para ninguém... - e, mesmo assim, só a pude comprar por me ter surgido um negócio daqueles que nos impelem a pensar é agora ou nunca. A E-P1 não é, ao contrário do que li num comentário a um artigo da DPReview, uma point-and-shoot incensada: é uma câmara evoluída que permite o mesmo grau de controlo da exposição que uma DSLR. O facto de ser pequena e sexy não significa que seja fútil, ou tecnicamente limitada como o é a maioria das compactas. Com a E-P1 posso fotografar no modo manual ou dar prioridade à abertura e ao disparo, posso escolher o modo de medição e fazer muitas outras coisas que as compactas não permitem e que os utilizadores de DSLRs conhecem bem.
Não é de surpreender que eu seja capaz de pegar num maquinão e descobrir como se fazem fotos com ele sem necessidade de consultar o manual: é que todas as câmaras evoluídas funcionam de modo igual, com os mesmos comandos e segundo os mesmos princípios, que se mantêm essencialmente inalterados desde a criação das primeiras máquinas. O necessário é compreender o seu funcionamento. As câmaras captam luz; o mero facto de se compreender isto é já um começo para entender como funciona uma DSLR (ou qualquer outra câmara evoluída, seja ela uma mirrorless ou uma Leica M9). É ao fotógrafo, e não à câmara, que compete determinar qual a quantidade de luz que vai penetrar através da lente e ser capturada pelo sensor. Esta quantidade denomina-se exposição. Compreender a exposição é essencial para entender a câmara.
E não é assim tão difícil entender a exposição. Ela depende - esquecendo, por agora, o ISO, que deve ser sempre mantido tão baixo quanto possível, desactivando o seu funcionamento automático - de dois factores: a abertura, que determina a capacidade da lente para captar luz, e a velocidade do obturador - que é o tempo durante o qual a câmara vai absorver a luz. (A luz entra pela objectiva, razão pela qual é tão importante remover a tampa desta antes de começar a fotografar...) A abertura e a velocidade do obturador funcionam entre si numa relação de reciprocidade: a uma maior abertura deve corresponder uma maior velocidade do obturador, e vice-versa, para manter a exposição correcta. Exemplificando: a uma abertura de f2.8 corresponderá, digamos - dadas certas condições de luz -, uma velocidade de disparo de 1/640; se diminuirmos a abertura para f8 sob a mesma luz, a velocidade do disparo terá de ser baixada para 1/100; e, se usarmos f16, a velocidade deverá ser reduzida para 1/30 - tudo isto para manter a mesma exposição. Não é necessário ter o tipo de conhecimento dos fotógrafos da era da fotografia analógica pré-medição para dominar a exposição: as DSLR têm a gentileza de nos mostrar um indicador de exposição, que pode ser visto na base do visor (igual ao da imagem acima, no lado esquerdo). A exposição ideal dá-se quando o ponteiro desse indicador está no zero, que é como quem diz no meio da régua. Se o ponteiro estiver para a esquerda, a imagem está sub-exposta: vai ficar escura. Se estiver para a direita, a imagem ficará sobre-exposta, o que é o mesmo que dizer com luz a mais. Isto tem implicações na qualidade e apresentação da imagem: numa fotografia sub-exposta, os pormenores ficarão escondidos nas zonas de sombra. Inversamente, a imagem sobre-exposta vai ocultar os detalhes debaixo de uma claridade que não é natural, e vai dessaturar as cores e provocar perda de definição.
É estupidamente simples controlar a exposição. Tomemos o exemplo de uma Nikon D7000, que, não sendo uma câmara profissional, já é bastante evoluída em relação a uma câmara de acesso: no modo M (controlo manual da exposição), roda-se o comando circular situado no punho, logo abaixo do botão do disparo, para regular a abertura, e um comando idêntico existente na parte superior direita do painel traseiro para controlar a velocidade do disparo. Depois é só rodar um e outro até o ponteiro do mostrador da exposição ficar no zero. Não consigo encontrar uma forma mais simples de descrever isto. Claro que há muitas variáveis possíveis, dependendo da intenção do fotógrafo: se este quer uma profundidade de campo menor, por ex. para desfocar o segundo plano, usa uma abertura grande (a que corresponde um número f pequeno), o que aumenta a velocidade do obturador; se quer provocar um efeito de arrastamento, usa uma velocidade do obturador diminuta, estreitando a abertura. Sejam quais forem as circunstâncias, o mostrador da exposição está ali com um propósito: o de não o deixar fazer fotografias com uma exposição deficiente. Não sei o que isto tem de complicado.
No entanto, há quem se deixe intimidar pela aparente complexidade de uma câmara reflex. Tenho um amigo que comprou uma Canon 1000D e praticamente deixou de fotografar por pensar que é demasiado complicada. E, quando fotografa, fá-lo no modo automático, o que equivale a participar numa corrida de ciclismo com uma bicicleta equipada com aquelas rodinhas auxiliares das biclas dos miúdos. E, contudo, basta rodar dois simples botõezinhos e observar o movimento de um ponteiro para começar a fotografar correctamente nos modos de exposição avançados. E quase me esquecia de referir que o que escrevi até agora diz respeito ao modo de exposição manual, mas a dificuldade (que, como vimos, não é nenhuma) de controlar a exposição pode ser reduzida para metade se forem usados os modos A ou S (Av ou Tv nas Canon e Pentax), casos em que a câmara se encarrega de escolher, respectivamente, a velocidade do obturador ou a abertura mais apropriados. Ambas são úteis para situações especiais: certos resultados dependem de uma dada abertura ou de velocidades de disparo diferentes das normais. O congelamento e o arrastamento requerem velocidades altas ou baixas, respectivamente; a focagem selectiva exige aberturas grandes. Mas isto já é para fotografadores mais experimentados: o que importa, para já, é familiarizar-se com a DSLR e com a maneira como esta funciona.

domingo, 13 de maio de 2012

Hoje não há texto

Hoje não há texto. Estou demasiado cansado. Passei a manhã à procura de um Citroën DS nas ruas da Foz (não é para lá que vão os donos de carros de colecção ao domingo de manhã?) e nada. Népias. Zilch. Tirei sete fotografias - duas de um retrovisor de um Mini, as outras cinco de emblemas de automóveis. Aproveitei quatro. Podem vê-las no meu Flickr. Magra consolação por mais um dia perdido em busca de algo que, aparentemente, já não existe (ou estarão todos muito bem escondidos em garagens particulares?)
Se encontrar um DS é tão difícil, é melhor desistir completamente de encontrar um Citroën SM...

sábado, 12 de maio de 2012

Novidades da indústria fotográfica: uma orgia de Leicas

Gostava de gostar de Leicas, mas a minha costela socialista (não no sentido de militante do PS, que não sou e, de resto, este partido é tudo menos socialista) não me deixa. Há muitos e bons motivos para gostar de Leicas: são belíssimas, têm uma qualidade de construção muito acima da média, as lentes são fabulosas (ao que se diz, porque nunca experimentei nenhuma) e, acima de tudo, são parcialmente feitas em Portugal. Sim, a Leica dá emprego a operários portugueses: podia «deslocalizar» a produção para a China ou para a Tailândia, mas prefere ficar em território comunitário - mais concretamente em Vila Nova de Famalicão. Não só não despede, deste modo privando muitos trabalhadores de novas oportunidades (não é bom ter um primeiro-ministro como Pedro Passos Coelho?), como vai investir numa fábrica nova em Portugal e contratar mais operários. Depois há um facto incontornável: as minhas referências em fotografia usavam - ou usam - Leicas. De Koudelka a Gérard Castello Lopes, de HCB a Sebastião Salgado, todos eles faziam (fazem) fotografia com Leicas.
Estas são as boas razões para sentir estima pela Leica. Depois há o lado negativo - os preços, que fazem das Leicas contemporâneas pouco mais que adereços para ricos. São bens de Veblen, como lembra Mike Johnston no seu The Online Photographer, pelos quais o interesse aumenta na mesma proporção que o preço. Por outras palavras - quanto mais caros, mais vendem. É este um sinal do nosso mundo e do nosso tempo, em que a desigualdade e a distribuição iníqua da riqueza nunca foram tão longe. A simples menção dos preços das Leicas de que vou falar de seguida chega a ser obscena - mas não tanto como o facto de haver cada vez mais gente disposta a comprá-las. E não é por haver mais ricos: é por estes o serem cada vez mais, em detrimento de todo o resto do mundo. As Leica são, deste modo, um dos símbolos desta civilização decadente em que o dinheiro é tudo, e em que as pessoas são tanto mais valorizadas quanto mais dinheiro tiverem.
Uma câmara ou um Volvo XC60: a escolha é sua
E o que é que a Leica nos veio mostrar na passada quinta-feira? Uma compacta, que não é mais que uma Panasonic com o ponto vermelho da Leica chapado no painel frontal, e a X2, que custa o dobro da concorrente mais directa, a Fujifilm X100 (que não é exactamente uma câmara barata). Esqueçamos estes dois produtos: só um pateta que não sabe o que fazer ao dinheiro é que comprará a Leica compacta em lugar de uma Panasonic, ou a X2 em vez duma Fuji. Para além destas câmaras, a Leica apresentou uma lente nova, uma 50mm/f2, e dois corpos: uma M9 em versão Hermés, revestida de couro amarelo torrado (de um mau gosto extremo, mas deve haver quem a ache chiquérrima) e uma câmara que apenas fotografa a preto-e-branco, adequadamente denominada «M-Monochrom». A lente vai custar USD $7.195; a câmara monocromática custará $7.950 e a M9 Hermés pode ser sua pelas modestas quantias de $25.000 ou, na versão kit com três lentes, $50.000.
Destas novidades, só a câmara monocromática é verdadeiramente interessante. A M9 Hermés é o típico adereço de ricaço frívolo e ignorante: O couro amarelo alaranjado é, como referi acima, de um mau gosto lamentável e, para esfregar sal na ferida, o painel superior, que foi redesenhado por Walter De' Silva (o homem que deu ao mundo o Alfa Romeo 156 e depois deste apogeu foi desenhar carros banais e monótonos para o grupo Volkswagen), não tem sapata para o flash! Não, esta não é uma câmara para fotógrafos. Aliás, nem sequer vejo muito bem quem é que quererá comprar uma câmara destas. Talvez a amante de Bernard Madoff. Note-se que, ao comprar esta câmara, se está a comprar um sensor full frame, fabricado pela defunta Kodak, que não vai além de ISO 2500 e produz um nível inaceitável de ruído a ISO 800. Um sensor full frame, repito. Do mesmo tamanho que os da Nikon D4 e da Canon 1D.
A objectiva 50mm/f2 é, não tenho dúvidas, um item de enorme qualidade. Imagino que não tenha aberrações cromáticas nem produza distorção de qualquer espécie. Mas, num universo onde f1.8 já é considerado uma abertura estreita por muitos, a ideia de dar mais de €6.000 por esta lente - que é de focagem manual e não estabilizada - é pura e simplesmente inconcebível. Espero que, ao menos, venha com um para-sol...
A câmara a preto-e-branco é a única cuja compra poderia considerar se me saísse o Euromilhões. Antes de mais, é linda. E eu fotografo cada vez mais a preto-e-branco. Com esta câmara, que ao que se diz tem uma qualidade superior por o seu sensor não ter filtro RGB nem filtro anti-moiré, teria uma câmara discreta, de altíssima qualidade... com a qual seria dificílimo fazer fotografia de rua por causa da focagem manual! E este é um problema ainda mais grave por ser uma câmara com visor de telémetro, sem ampliação da imagem que permita confirmar a focagem, como até a minha humilde E-P1 me faculta. De resto, seria sempre uma segunda câmara, porque iria precisar de outra para fotografar a cores. (Talvez a M9 Hermés...) Uma câmara para fotógrafos experientes, dirão alguns - mas a verdade é que esta câmara vai acabar por ser comprada por diletantes ricos. Muito ricos. Ou vai ser usada por profissionais «patrocinados» pela Leica. Em todo o caso, não deixa de ser um produto interessante.
Enfim, são estas as novidades do mundo Leica: duas compactas com preços abusivos, uma lente de focagem manual e uma abertura que não tem nada de especial por um preço proibitivo, uma câmara muito limitada que custa mais de €20.000,00 só por ser revestida com couro amarelo alaranjado e uma câmara a preto-e-branco que só serve para fotografar paisagens (que são mais interessantes a cores). Tudo isto por preços que são um insulto a todos os milhões de pessoas que atravessam as maiores dificuldades à custa dos potenciais compradores destas Leicas. Nem o facto de a Leica dar trabalho a portugueses me faz respeitar estes produtos.   

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Morrer a fotografar

Bernardo Sassetti por Pedro Cunha
Morreu Bernardo Sassetti, um dos nossos mais brilhantes pianistas. Morreu enquanto fotografava, ao cair de uma falésia no Guincho.
A sua morte veio lembrar-me que, por vezes, se correm riscos excessivos por uma boa fotografia. É verdade - até eu já me coloquei em risco, quando decidi fotografar nas rochas da praia de Lavadores, perto do Cabedelo (o do Porto, não o de Viana do Castelo). Devo reconhecer que foi uma loucura: o vento estava incrivelmente forte, a famosa nortada que bate a costa do norte de Portugal; e as ondas, embora não fossem muito altas, eram ameaçadoras, porque a maré estava a subir. Confesso que tive medo: meses atrás, um jovem tinha morrido naquelas imediações, se não mesmo naquele lugar. O seu corpo só foi encontrado três dias depois. O caminho que levava ao local onde fotografei era íngreme e ligeiramente escorregadio, mas escolhi um espaço largo e estável; o tipo de fotografia que fui fazer exigia pouca luz natural, pelo que tive de regressar ao carro em plena escuridão. Mesmo se tinha uma lanterna para iluminar o caminho, algo de muito mau podia acontecer. E, com uma mochila de cinco quilos às costas, seria difícil reagir.
Loucura? Talvez, mas quando se gosta de fotografar, por vezes incorre-se em comportamentos arriscados. No fundo, sente-se sempre que vale a pena - ainda que as fotografias que fiz nesse local não tivessem sido nada de particularmente espectacular.
Fazer fotografia, contudo, não é algo tão importante que mereça o sacrifício da vida. Compreendo que um fotógrafo profissional corra riscos - o nosso João Silva é um exemplo -, mas um estrito amador deve tomar todas as precauções possíveis e agir com a maior prudência. E, sobretudo, deve pensar muito bem nos perigos que certos locais constituem. Uma boa fotografia não deve ser paga com a vida. Não faço ideia quais foram as circunstâncias que levaram B. Sassetti a escolher um local que era considerado perigoso; tenho a certeza, contudo, que o que se via dali era merecedor de uma boa fotografia. Não quero, de forma alguma, criticar a sua atitude - provavelmente, nas mesmas circunstâncias, teria feito exactamente o mesmo -, mas penso que a sua morte deve servir para que nós, amadores da fotografia, reflictamos antes de escolher os locais para fotografar.
As minhas condolências à família e amigos de Bernardo Sassetti (1970-2012). O mundo musical português, que não é particularmente rico, ficou ontem privado de um dos seus melhores membros. Por amor à fotografia. 

Decisão adiada

A minha primeira fotografia com raw (Maio de 2011): com o Lr4...
Ainda não é hoje que vou fazer o comparativo entre o Lightroom 4 e o DxO Pro 7. Em primeiro lugar, porque, seja qual for a imagem que retoco, com qualquer dos programas, consigo replicar o resultado com o oponente. O que diz bem do equilíbrio entre os dois.
Depois, porque, sinceramente, ainda não posso dizer que conheço bem qualquer destes programas. Pensava que o Lr4 não tinha correcção das aberrações cromáticas, mas afinal tem; está é muito bem escondida no menu «correção da lente», e pode ser activado escolhendo a opção «perfil» e seleccionando uma caixa chamada «desvio cromático» (em pórtugêisz du Brásíu...). O que elimina o que pensava ser uma desvantagem em relação ao DxO. Este, por seu turno, pode ter aquela que pensava ser uma das suas grandes desvantagens - o excesso de altas luzes - contornada através da curva de tons.
...E com o Pro 7
Finalmente, porque comparar ambos os programas usando as imagens obtidas com a E-P1 levaria a resultados desiguais: fui informado, pelo apoio técnico da DxO, que algumas ferramentas ainda não estão disponíveis para a E-P1. Uma delas é a função «de-noise», o que pode atenuar ou eliminar aquela que é, na configuração actual, a principal desvantagem do Pro 7 em relação ao Lightroom - o tratamento do ruído. E o próprio Lr está prestes a receber a versão 4.1.
Não quero tomar uma decisão precipitada. Há dias em que, comparando os resultados obtidos, escolho indubitavelmente o Pro 7 - apenas para descobrir que o Lr4 é capaz de igual ou melhor. E o mesmo pode ser dito em sentido oposto. São os dois tão bons que nem sequer sei qual vai ser o critério de escolha.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Os problemas da luz e da cor

É assim que a lente vê a cor da iluminação pública
No texto de ontem aludi ao facto de as lentes não captarem as cores da mesma forma que as percebemos. Isto pode parecer um truísmo - se as lentes fossem capazes de reproduzir fielmente as cores, não haveria distinções qualitativas entre elas -, mas tem implicações na qualidade da imagem. As lentes tendem a captar a totalidade do espectro cromático, o que inclui comprimentos de onda que os nossos olhos filtram naturalmente, como os infravermelhos e ultravioletas. O sensor faz a filtragem destas últimas, mas não atenua a intensidade das cores. Quando olhamos para a iluminação pública, não nos apercebemos da verdadeira intensidade da cor emitida pelas lâmpadas: aquilo que nos parece uma tonalidade amarelada é, na verdade, um cor-de-laranja bastante vivo e carregado de uma tonalidade avermelhada. Se passássemos abruptamente da claridade ou da escuridão total para esta luz, aperceber-nos-íamos deste tom, mas como as transições e a adaptação são progressivas, apenas vemos uma tonalidade amarela suave. A lente não - a lente o laranja avermelhado (*).
A fotografia digital trouxe um instrumento importante para aproximar a imagem da nossa visão: o equilíbrio dos brancos. É esta ferramenta, que pode ser configurada na câmara ou no processamento de ficheiros raw, que permite ajustar a temperatura da cor à forma como percebemos as cores.
O que escrevi quanto à cor também é aplicável à intensidade da luz. Com diferenças importantes: os nossos olhos não filtram o excesso de luz - se o fizessem, os óculos de sol nunca teriam sido inventados -, e a lente também não. Contudo, a verdade é que a câmara capta muito mais luz do que os nossos olhos, o que por vezes se repercute em erros de medição da quantidade de luz. É por este motivo que surgem os céus brancos ou as sombras demasiado escurecidas.
JPEG não processado: imagem baça, céu branco
Este problema levou a indústria fotográfica a desenvolver diversos métodos de medição da luz na imagem, que já eram empregues no domínio analógico mas cujo grau de sofisticação aumentou com a fotografia digital. Por vezes a única maneira de se obter a imagem uma imagem próxima da pretendida é usar a medição pontual, uma vez que é impossível que a câmara mantenha a totalidade das altas luzes e das sombras quando os contrastes são demasiado elevados. As câmaras reagem de maneira diferente aos erros de medição: umas tendem a sobre-expor a imagem, exagerando as altas luzes; isto pode ser visto no programa de edição de imagem, sendo representado por uma curva demasiado acentuada do lado direito do histograma; outras tendem para a sub-exposição, criando imagens demasiado escuras. Em ambos os casos, são compromissos com que se tentam atenuar as limitações da câmara.
Os programas mais evoluídos de edição de imagem procuram corrigir estes problemas, aproximando a imagem daquilo que foi visto pelo fotógrafo. Em certa medida, estes programas devolvem ao fotógrafo a intenção que este teve ao fotografar, levando a correcção da imagem a níveis de que a câmara não é capaz. Quase todas as fotografias sofrem de deficiências da imagem: a maioria delas tem uma opacidade, resultante do excesso de captação da intensidade da luz. Por vezes tentamos compensar este excesso sub-expondo a imagem, quer através do aumento da velocidade do disparo no modo M, quer usando a compensação de exposição nos modos P, A e S. O resultado disto é a ocultação dos pormenores, que ficam submergidos em zonas de sombra. Estes problemas são facilmente corrigidos por programas de edição básicos, mas as possibilidades de correcção aumentam quando se usam programas mais evoluídos e se fotografa em formato raw. Neste último as possibilidades de correcção são bastante superiores, uma vez que os ficheiros JPEG, tendo sido processados pela câmara, são objectos pré-definidos cujos parâmetros podem não ser os desejados pelo fotógrafo. Muitas vezes os resultados do processamento pela própria câmara são próximos do ideal (e a Olympus é um bom exemplo), mas o normal é que apresentem divergências sérias entre o que é captado e a percepção que temos dos objectos. No processamento de ficheiros raw através de programas evoluídos de edição é possível apercebermo-nos das limitações da câmara e das deficiências da exposição, o que torna a correcção mais fácil. Tanto o Lr4 como o Pro 7 são capazes de expor todos os problemas da imagem - os ficheiros raw mostram-nos com alguma crueldade -, pelo que a correcção é deixada ao critério do fotógrafo/editor. Foi neste sentido que referi, num texto anterior, que a edição de imagem num bom programa estende o controlo sobre o processo fotográfico à edição da imagem: as possibilidades são infinitamente superiores.
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(*) V. Michael Freeman, Mastering Digital Photography, Ilex, pp. 80-81