domingo, 27 de novembro de 2011

A Olympus, outra vez

Michael C. Woodford (foto Getty Images)
Parece que a Olympus está salva - e refiro-me, também (e sobretudo), ao departamento de imagem. As acções começam a recuperar, os sinistros Kikukawa-san e Mori-san renunciaram aos lugares (não executivos) que ocupavam no conselho de administração e, mais interessante, os accionistas fazem exigências para que Michael C. Woodford, o presidente executivo que foi despedido por ter denunciado as práticas fraudulentas, volte a assumir o cargo. 
Segundo alguma informação fidedigna, Michael C. Woodford é filho de um fotógrafo (o que, em princípio, significa que não é insensível aos destinos do departamento de imagem) e, numa entrevista, referiu que o sector de imagem está em crescimento, em parte graças à família PEN, chegando a elogiar a linha actual de produtos Olympus - nomeadamente a E-P3 - e lançando algumas indicações quanto ao caminho que a divisão de imagem seguirá. Aparentemente, o futuro da Olympus Imaging Corporation não está em risco, o que é uma boa notícia. Detestava dar por mim com um saco cheio de equipamento tornado obsoleto pela extinção do fabricante. Aparentemente, deixou de haver motivo para preocupações. 
Agora só falta limpar o nome da Olympus. Para tanto, é imprescindível levar as investigações até ao fim e responsabilizar quem instigou ou executou as trafulhices. Eu, que sou um fervoroso anti-capitalista, fico imensamente satisfeito por ver que um caso de desonestidade nos negócios não ficou sem consequências. Pudesse acontecer o mesmo com todas as vigarices...

Mais sobre a medição pontual

Era uma das minhas grandes dificuldades - e ainda é: subtrair o controlo da medição da exposição aos parâmetros do fotómetro. Embora já me tenha referido a esta opção, tenho procurado treiná-la de maneira a obter uma exposição de acordo com as minhas intenções (e não as da câmara).
Torna-se necessário, antes de mais, fazer dois breves esclarecimentos. O primeiro tem que ver com a qualidade do fotómetro da minha câmara, que faz praticamente tudo bem - desde o equilíbrio automático dos brancos até à escolha das tonalidades no modo natural. A E-P1 usa um sistema de medição denominado ESP (Electro-Selective Pattern), que mede a exposição no centro da imagem e em redor do centro separadamente, usando uma grelha de 324 pontos. O sistema é eficaz, mesmo quando comparado com a medição pontual, mas por vezes é insuficiente.
O que nos leva à segunda questão. É importante ter em conta a razão por que as câmaras oferecem as opções de medição. A medição matricial e o ESP - os métodos empregues na maioria das câmaras - podem não conseguir fazer uma medição correcta da exposição em imagens de elevado contraste, pelo que podem surgir exposições muito díspares: o fotómetro privilegiará uma das partes da imagem, optando, normalmente, por uma exposição média. Ou, na pior das hipóteses, pode optar por favorecer a parte da imagem com menos exposição (i. e. mais escura), o que raramente resulta bem porque, quando as partes subexpostas são privilegiadas, as sobreexpostas ganham mais ênfase. E o oposto também acontece, porque ao medir a exposição na parte mais clara da imagem, as sombras tendem a ser acentuadas.
Já referi aqui que por vezes não há uma exposição ideal. Ou temos uma parte da imagem correctamente exposta ou temos a outra. Em certas fotografias, há sempre uma parte da imagem que queremos que fique mais bem exposta que as restantes. Ou podemos querer que um determinado motivo surja como uma silhueta, em lugar de ficar correctamente exposto. É para estes casos que existe a medição pontual. Com esta técnica, asseguramos que a medição da exposição incida apenas num pequeno ponto da imagem.
Ora, ao seleccionar apenas um ponto da imagem, é, em certas circunstâncias, forçoso que o resto da imagem vai ficar com uma exposição que não é aquela que o fotómetro entende ser a correcta. A imagem fica correctamente exposta apenas naquele ponto. Tomemos os seguintes exemplos:
Na primeira imagem, a exposição foi medida na sombra da árvore, que ficou correctamente exposta. O resto, porém, ficou sobreexposto. Por vezes esta medição é de tal maneira prejudicial que se torna necessário compensar a exposição aumentando a velocidade do disparo ou fechando a abertura - e mesmo nestas condições o resultado é uma imagem deficientemente exposta. Na outra imagem, a medição foi feita nas pedras, que surgem bem expostas, mas a árvore e as sombras surgem notoriamente subexpostas. Se tivesse usado a medição ESP, a exposição teria ficado mais homogénea, mas com as luzes altas ligeiramente sobreexpostas.
Naturalmente, a imagem preferível é a da direita. Neste caso, a medição pontual foi usada para corrigir aquilo que seria uma exposição incorrecta se fosse usada a medição ESP - ou, noutras marcas, a matricial.
A medição pontual não é para ser usada a todo o tempo: apenas se deve usá-la quando haja contrastes excessivos que levem a optar por expor correctamente uma das partes da imagem. Em imagens com exposições homogéneas, a medição matricial (ESP nas Olympus) serve perfeitamente, sem mais necessidade de introduzir novas complicações no processo de recolha da imagem.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Abertura e distância focal equivalente

Há um mito acerca do equipamento fotográfico que importa destruir: já referi neste blogue que, na generalidade das câmaras digitais, a distância focal indicada na lente não corresponde à efectiva quando montada na câmara: a distância focal da lente tem, deste modo, de ser multiplicada por um coeficiente que varia conforme o tamanho do sensor: numa câmara com sensor APS-C, esse factor é 1,58, pelo que uma lente de 50mm terá uma distância focal efectiva de 79mm; a mesma lente, numa câmara com sensor 4/3 como as Olympus Pen e DSLR, terá 100mm, porque o coeficiente que dá a distância focal efectiva é 2.
Até aqui tudo bem. Já toda a gente sabe isto. Contudo, há quem entenda que este coeficiente também se aplica à abertura, pelo que uma abertura de, digamos, 2,8 equivalerá, numa câmara micro 4/3, a uma abertura efectiva de 5,6.
Isto é uma tolice que alguém completamente desinformado meteu na cabeça e divulgou pela Internet, generalizando uma ideia que é completamente errada. A distância focal é uma coisa, a abertura é outra. A discrepância entre a distância focal da lente e a distância equivalente é causada pela diferença de tamanho entre os vários tipos de sensor e o filme de 35mm que ainda é usado como referência para definir a distância focal. Como a maioria dos sensores é mais pequena que o formato 35mm, a lente tem a sua distância focal aumentada de forma inversamente proporcional ao tamanho do sensor: quanto menor este for, maior é o coeficiente de multiplicação que permite obter o valor da distância focal equivalente. Este fenómeno tem que ver com a forma como a luz que entra pela lente é projectada no sensor, que visualizará uma imagem mais reduzida que aquela projectada sobre o filme de 35mm ou um sensor full frame (ver imagem acima). 
A abertura é uma característica própria da lente, com a qual a câmara - ou, mais especificamente, o sensor - não interfere. A abertura traduz a quantidade de luz que entra através da lente, e que é controlada pelo diafragma. Ora, a abertura ou fecho do diafragma é um processo mecânico sobre o qual o tamanho do sensor não tem qualquer influência. Todos os sensores, independentemente do seu tamanho, captam a mesma quantidade de luz em igualdade de circunstâncias. Uma abertura de 2,8 é uma abertura de 2,8 numa compacta ou numa Nikon D3x, porque a quantidade de luz que atinge o sensor é idêntica.
O problema é que disparates como estes podem surgir em análises críticas de equipamento. Hoje em dia qualquer pessoa abre um website e faz crítica de fotografia, mesmo que lhe faltem as bases para tanto. Eu também tenho um blogue em que escrevo sobre fotografia, e posso eventualmente escrever um ou outro disparate, mas neste caso da «abertura equivalente» estou absolutamente seguro do que escrevo: embora já soubesse a resposta, confirmei esta questão com um formador do Instituto Português de Fotografia. Preferia não o ter feito e ter mantido a minha opinião por confirmar, porque o formador olhou-me como se eu tivesse feito a pergunta mais estúpida do século, mas tinha de ter a certeza - mesmo suportando o embaraço de formular uma questão ridícula.
Não, a abertura não varia conforme o tamanho do sensor. Não existe uma «abertura equivalente».

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ainda a Olympus

Quem visitar o website da Olympus (www.olympus-global.com) deparar-se-á, durante os próximos dias, com o seguinte comunicado:
Clique para ampliar
Não sei que dizer. Antes de mais, gostava de compreender o motivo por que a Olympus tem, mais do que qualquer outro fabricante de equipamento fotográfico, a capacidade de provocar reacções de consternação e apreensão junto dos seus consumidores, que não deixarão de ser sensíveis a este comunicado e a todos os acontecimentos que o precederam. Acontecesse este escândalo com a Canon ou a Nikon, e decerto as reacções da comunidade fotográfica seriam bem diferentes. Poderia acontecer a revolta pelo comportamento das sucessivas administrações, ou a preocupação pelo provimento de produtos no futuro, mas nunca o medo de se perder uma marca. Se isto acontecesse à Canon, o eventual comprador optaria por uma Nikon, e vice-versa. E o mesmo sucederia com a Panasonic ou a Sony: a reacção perante o desaparecimento das câmaras destas marcas seria a indiferença. Com a Olympus, porém, a angústia é de tal ordem que já se criou um site de apoio à marca!
Isto acontece porque a Olympus é única. Para além dela, só a Leica tem este tipo de estima junto dos consumidores. A Olympus é uma marca que conquista e fideliza os adquirentes dos seus produtos de uma maneira que, à excepção da companhia criada por Ernst Leitz, não tem comparação com qualquer outro fabricante de material fotográfico. Se a marca Olympus desaparecesse, a sua extinção iria provocar consternação e dilemas difíceis de resolver junto de muitos fotógrafos.
Dito isto - e quem elaborou o comunicado acima sabe bem que os consumidores de produtos para fotografia não deixarão de ser sensíveis ao pedido de apoio -, o lançamento deste comunicado é um gesto desesperado perante a situação em que a Olympus Corporation caiu. É um esforço - que pode ser tardio - para preservar a imagem da corporação, procurando tranquilizar investidores, clientes e consumidores, e uma tentativa de demonstrar transparência de métodos e honestidade. A verdade, porém, é que este esforço pode não convencer ninguém. Tsuyoshi Kikukawa e Hisashi Mori continuam no conselho de administração, embora em funções não executivas, e aqui o conselho de administração está perante um dilema: se os expulsar e mover procedimentos judiciais contra eles, a consequência será a saída da bolsa de Tóquio, cujas regras impõem o delisting das sociedades cujos administradores tenham cometido crimes relacionados com as suas funções durante o seu exercício; se os mantiver, perde a credibilidade, de nada adiantando comunicados como este (ou mais lancinantes ainda...).
É, evidentemente, louvável que a nova administração executiva queira descobrir toda a verdade quanto ao escândalo Olympus, e que revele publicamente, como se propõe, todos os factos que vierem a ser determinados em inquéritos e auditorias, mas não há qualquer espécie de contrição nesta atitude: é a única via que pode levar à sobrevivência da corporação. Só demonstrando esta vontade de descobrir a verdade é que a sociedade pode reaver a confiança, e hoje sabemos que as relações que se estabelecem no meio financeiro se baseiam no princípio da confiança. Foi a quebra desta que levou à crise que o mundo neste momento atravessa, com as consequências que todos conhecemos. O conselho executivo da Olympus não faz mais que a sua obrigação quando colabora com a descoberta da verdade.
Por outro lado, este comunicado pretende ser um dique que obste à debandada dos clientes e consumidores. E, de facto, este é um mau momento para que isso aconteça. É como pisar as mãos de quem se agarra à beira de um precipício. Há motivos de sobra para que os consumidores, clientes e investidores virem as costas à Olympus, mas, ao mesmo tempo, há razões ponderosas para que se mantenham.
Eu, por mim, não tenho pena nenhuma de milionários que se dedicaram à prática de fraudes - mas tenho receio de que se perca a única das marcas japonesas de equipamento fotográfico que consegue verdadeiramente conquistar os seus clientes. Seria lamentável que a marca Olympus desaparecesse. Se as coisas correrem mal, ao menos que seja adquirida por um fabricante independente que lhe dê continuidade. Se for parar às mãos da Panasonic, como se especula nos meios fotográficos, vai ter a mesma sorte que a National e a Technics.

domingo, 20 de novembro de 2011

Workshop (2)

Pormenor da fachada do edifício do Instituto Português de Fotografia
É incrível como o tempo passa depressa quando nos envolvemos em algo interessante. Parece que foi ontem que começou o workshop de técnica fotográfica do Instituto Português de Fotografia que frequentei, e agora já acabou!
Fazendo o inventário e balanço dos conhecimentos adquiridos, concluo que o saldo é apenas ligeiramente positivo. Se fosse um aspirante a fotógrafo totalmente inexperiente, que estivesse a manusear uma câmara pela primeira vez - digamos, se o workshop tivesse sido em Maio deste ano, uma vez que comprei a E-P1 no dia 27 de Abril -, talvez tivesse encontrado muita mais utilidade nesta formação, mas os conhecimentos que adquiri como autodidacta fizeram com que a aprendizagem fosse restrita a determinadas técnicas e funções que ainda não dominava. O que significa, por outro lado, que os conhecimentos que adquiri sozinho eram já suficientemente sólidos, em resultado de algo que busco obsessivamente na minha vida: a verdade e a certeza. Não me basta conhecer: necessito de confirmar; não me basta saber: tenho de experimentar até que os conhecimentos se tornem consistentes e repetíveis.
Foi, então, um desperdício? Não, de maneira nenhuma. Por um lado, a frequência do workshop veio dar consistência e confirmar validade aos conceitos que aprendi à minha custa; por outro lado, aprendi muito de novo. Aprendi a calibrar a câmara para o equilíbrio dos brancos, aprendi a fazer panning, a usar o flash (o que não foi particularmente difícil, uma vez que o FL-14 é incrivelmente simples de usar) e, acima de tudo, a usar a medição pontual. Não posso dizer que tenha sido tempo perdido. Pelo contrário , avancei um pouco mais nos conhecimentos que me permitem ter controlo sobre o processo fotográfico.
Dominar a medição pontual é particularmente útil, em especial nos casos em que existem grandes contrastes que, de outro modo, enganariam o fotómetro e levariam a medições de luz diferentes da pretendida. O conceito não podia ser mais simples: selecciona-se o ponto da imagem que se pretende mais bem exposto
Esta simplicidade é, porém, aparente. Quando existem grandes contrastes e se usa a medição pontual, é inevitável que uma parte da imagem fique bem exposta e a outra sobreexposta ou subexposta. Mas isto corresponde a escolhas que se têm de fazer quando a medição matricial falha. Nas imagens acima, é visível que uma ficou subexposta e outra sobreexposta: na da esquerda, medi a luz na folhagem, que ficou correctamente exposta em detrimento de tudo o resto; na da direita, a medição incidiu sobre uma zona de sombra à direita na imagem, que ficou correctamente exposta, mas o fotómetro compensou a exposição aumentando a quantidade de luz nas outras áreas.


Um exemplo ainda mais inteligível: na primeira imagem (a de cima), apontei a focagem ao arvoredo, que ficou correctamente exposto; na segunda, apontei para o céu e, na última, para a área de sombra no telhado à esquerda. Como se vê, os pontos seleccionados ficaram todos bem expostos, mas a única imagem com uma exposição homogénea é a do meio - e mesmo nesta é visível que o edifício ao centro está sobreexposto.
A medição pontual não é para ser usada em todas as circunstâncias: escolhe-se apenas quando a matricial falha. Não é de uso obrigatório, mesmo para quem insiste - como eu - em fazer tudo manualmente. Esta técnica é importante num sem-número de aplicações: por ex., quando se pretende obter grandes contrastes, reduzindo uma figura à sua silhueta, aponta-se a focagem à parte mais exposta, o que vai provocar uma subexposição da figura e uma exposição correcta da área seleccionada.
O controlo da medição foi, porventura, o ensinamento mais importante que colhi do workshop. Vai permitir-me fazer escolhas que, se usasse apenas a medição matricial, me estariam vedadas, tendo de me contentar com a exposição escolhida pelo fotómetro. As outras técnicas que aprendi são mais específicas, mas vou decerto retirar enorme prazer do panning, que consiste em congelar um motivo causando o arrastamento do fundo. Quem se interessa por Fórmula 1 saberá a que me refiro. Contudo, só o tempo dirá se a propina que paguei foi justificada...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Sobre o flash

Ontem referi que o desempenho do flash se mede por um valor denominado GN. Esta é a abreviatura de Guide Number, ou número de guia - ou, para ser mais preciso, número de referência. Os flashes são classificados com este número, que varia na proporção directa da intensidade do disparo: GN 8, GN 12, GN 14, GN 28, etc. Quanto maior a intensidade, maior será a distância coberta pela luz do flash.
Para determinar qual a distância ideal entre a câmara e o objecto que se pretende fotografar com flash, usa-se uma fórmula matemática: a distância ideal (m) é igual à multiplicação do número de referência por um coeficiente referente à sensibilidade ISO somada com o valor da abertura:

m = GN x ISO + f

O coeficiente do ISO é de 1 para ISO100, 1.4 para ISO200, 2 para ISO400, 2.8 para ISO800, 4 para ISO1600 e 5.6 para ISO3200.
No caso de um flash com um número de referência 14, se tirarmos uma fotografia a ISO100 com uma abertura f4, temos de multiplicar 14 por 1 e somar 4, pelo que a distância ideal é 18 polegadas, i. e. 45 centímetros. Se usarmos ISO200 com uma abertura f5.6, a distância ideal é de 63 centímetros.
Como se vê, o número de referência tem uma influência decisiva. Flashes como o FL-14 são demasiado fracos para cobrir grandes distâncias, mas servem para o chamado fill-in, que consiste na criação de um ambiente luminoso em redor do motivo fotografado.
Daqui resulta que, para obter uma boa iluminação, é necessário um flash poderoso (embora não tanto como o da ilustração acima...). Só um flash externo pode corresponder a esta necessidade, uma vez que os incorporados nas câmaras - mesmo nas DSLR - têm valores baixos. Nas Canon 1100D e Nikon D3100, por exemplo, o flash tem um número de referência de apenas 12. E mesmo um flash externo poderoso tem um alcance, no máximo, de 2 ou 3 metros - se usar uma sensibilidade ISO elevada e uma abertura estreita. Podemos, deste modo, compreender o motivo por que as câmaras profissionais, como a Canon 1D ou a Nikon D3, nem sequer têm flash incorporado, ou por que é um disparate usar flash para fotografar jogadores de futebol em plena acção: neste caso, tudo o que se ilumina é uma pequena extensão do relvado, surgindo a relva muito verde e os jogadores subexpostos...
Outro problema do flash é que a iluminação por ele provida não é lá muito natural. Além disto, em resultado da luz intensa, as imagens surgem demasiado planas, pela eliminação das sombras, e os fundos aparecem negros - embora esta última característica possa ser explorada com uma intenção artística. É frequente usar dispositivos que causam uma certa refracção da luz, apontar o flash para o tecto ou outra superfície reflectora para evitar que o clarão incida directamente sobre o objecto (o FL-14, infelizmente, não permite isto) ou usar o flash da câmara para fazer disparar um flash remoto por infravermelhos.
Depois há o problema clássico dos olhos vermelhos, visível sobretudo nas fotografias tiradas com câmaras compactas. Os olhos vermelhos acontecem por causa da dilatação das pupilas que, sendo foto-receptoras, reagem ao excesso de luz causado pelo flash. Alguns flashes externos - entre eles o FL-14 - emitem um pré-disparo quando a função de redução de olhos vermelhos é seleccionada na câmara: o pré-disparo, ao qual se sucede o disparo coincidente com o do obturador, serve para preparar a íris para a luz intensa do flash, a qual estará já suficientemente retraída quando o disparo principal (que é mais longo) ocorrer. Esta é uma solução inteligente, e ontem à noite pude comprovar que resulta.
Voltarei a este tema quando aprender mais sobre o uso do flash. Eu nunca me propus dar lições neste blogue, mas apenas e só documentar os resultados da minha aprendizagem. E tudo o que aprendi sobre o flash, até hoje, foi isto. Mais tarde versarei o disparo de segunda cortina, que me parece ser a forma mais criativa de usar o flash.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Flash

Não era para o comprar - o tipo de fotografia que faço não o exige -, mas, desde hoje, tenho um flash. Mais precisamente o Olympus FL-14. Comprei Olympus a despeito do Olympusgate porque a) os trabalhadores, designers e engenheiros da Olympus não têm culpa nenhuma dos desmandos dos membros do conselho de administração, b) o que a Olympus Imaging Corporation menos necessita, neste momento, é ver os consumidores a fugir em debandada e c) o FL-14 é lindíssimo. Esta última razão é certamente a menos ponderosa, e, na verdade, o que eu queria era o FL-300R, que é mais barato e mais poderoso que o FL-14, mas ainda não chegou a Portugal (por que é que é tão difícil comprar material da Olympus aqui?) e eu precisava do flash até à próxima sexta-feira, dia 18, porque a sessão do workshop desse dia vai ser acerca do uso do flash. É possível que este facto tenha apenas apressado a minha decisão de comprar o flash, já que a sua aquisição foi sempre uma hipótese que nunca excluí.
O FL-14 é minúsculo, o que me proporcionou a mesma sensação que já tivera quando peguei pela primeira vez na minha E-P1, mas é bem construído (o corpo é maioritariamente de metal), é cheio de estilo e fica a matar montado na E-P1 - o que não espanta, pois foi concebido para complementar esta câmara. É extremamente simples de operar, tem o modo TTL (Through The Lens) e é razoavelmente forte - tanto ou um pouco mais que os flashes incorporados nas DSLR. O seu número de guia (depois explico o que isto é) é apenas GN14, o que é fraquinho para um flash externo mas é mais forte do que os da maioria das câmaras DSLR (que é, normalmente, por volta dos GN12). E é certamente melhor que os flash incorporados nas outras PEN.
Apesar de já o ter experimentado, e de os resultados me terem parecido aceitáveis, não posso fazer nenhuma recensão sobre ele pelo simples motivo de não ter experiência prévia com o uso de flashes. As fotografias que tirei ficaram mais ou menos bem iluminadas, mas não as publico aqui porque foram apenas experiências em casa, sem preocupação com os motivos. Mas, para ilustrar a diferença que o uso do flash pode fazer, mostro-vos duas imagens recolhidas da Internet:

Desculpem, não resisti...

domingo, 13 de novembro de 2011

O controlo da medição

«Eu era um fotógrafo feliz antes de descobrir a medição» - exclamei para uma das colegas do workshop durante uma saída de campo no Sábado, 12 de Novembro, na estação de S. Bento.
E porquê? Não me entendi nada bem com o controlo manual da medição na minha primeira experiência. A medição é feita por um tirano que habita cada câmara fotográfica e que tenta impor os seus pontos de vista ao fotógrafo, reagindo mal quando é contrariado. Este tirano, de nome «fotómetro», é, como todos os da sua estirpe, particularmente estúpido: ele não percebe muito bem a luz que é reflectida pelos objectos, por isso parte do princípio que cada objecto apenas reflecte cerca de 18% da luz. É por isso que, quando tentamos fotografar motivos muito contrastados, a fotografia fica sempre mal exposta. Tomemos o exemplo de uma zona de sombra e de um céu azul sobre ela: se o céu fica bem exposto, a sombra fica escuríssima e os pormenores não se vêem; se a sombra ficar correctamente exposta, o céu fica branco! Decerto todos os fotógrafos se deram já conta disto. À parte o uso de filtros gradientes, que permitem restituir a tonalidade de uma parte da imagem (que podem não funcionar bem, a menos que haja um horizonte bastante linear), não há maneira de evitar isto. Como a medição feita pelo déspota assume que cada objecto apenas reflecte 18% da luz, ele clareia os tons escuros e escurece os tons claros. Um exemplo clássico é o de tirar uma fotografia a um objecto branco e a um objecto preto: ambos tendem a ficar cinzentos, porque o ditador acha que todos os objectos reflectem a mesma quantidade de luz.
O tirano tem, contudo, a magnanimidade de permitir que o fotógrafo determine o modo de medição. O padrão mais comum - o usado pela câmara de forma automática, por defeito - é o da medição matricial: a imagem é decomposta numa grelha e o ditador decide quais as áreas que devem ficar mais ou menos expostas em função da distribuição da luz. Isto funciona mais ou menos correctamente, mas não evita expor deficientemente os contrastes fortes porque a besta imunda não percebe que há objectos que reflectem a luz para além e aquém dos tais 18% que ela pensa serem os valores correctos. 
Para além desta medição matricial, há ainda a medição ponderada ao centro, ou medição parcial, que funciona muito bem quando o motivo está centrado, mas como o fotómetro, além de estúpido, é ignorante, não conhece a regra dos terços e parte do princípio que os fotógrafos também não, pelo que a medição ponderada ao centro só funciona bem se o motivo estiver a meio do enquadramento. Daí que o motivo possa ficar mal exposto se surgir num dos lados da imagem - tal como as boas regras de composição e enquadramento determinam. Em termos práticos, a medição ponderada ao centro só resulta bem em retratos e fotografias altamente estáticas.
Como Sun Tzu ensina na Arte da Guerra, conhecer o inimigo é meia vitória. Por isso o heróico resistente à ditadura do fotómetro tem um outro meio de enganar o déspota e combater a ferocidade do regime imposto pelo fotómetro: a medição pontual. Reparem, contudo, que é apenas meia vitória, e não a derrota total e sem prisioneiros do inimigo. Tudo o que a medição pontual faz é privilegiar a exposição num determinado ponto da imagem, correndo-se o risco de os motivos fora dessa área da imagem continuarem a ficar expostos deficientemente. É como se o tirano malvado, numa manifestação suprema de cinismo, nos desse a escolher entre sermos fuzilados ou enforcados. 
Se apontarmos para a zona subexposta, esta fica bem na imagem, mas as zonas sobreexpostas ficam completamente brancas. E vice-versa. Em todo o caso, a medição pontual permite-nos privilegiar a exposição de uma determinada zona da imagem, escolhendo aquela que queremos que fique mais bem exposta (que não é, necessariamente, a mesma que o ditador impõe). Como é que isto se faz? Hão-de encontrar, algures no menu da câmara - o tirano, cioso do seu domínio, não se atreve a ostentar um botão visível e acessível -, o modo de medição, com os símbolos diabólicos que ilustram este texto. O ponto (correspondente a 1% do enquadramento) onde é feita a medição pontual situa-se a meio do visor ou ecrã, por isso aponta-se a câmara de modo a que o que queremos bem exposto fique no meio, regula-se a abertura e a velocidade do disparo de modo a que a exposição fique correcta e reenquadra-se a imagem. Depois dispara-se. Se tivermos seleccionado uma área da imagem com fraca luminosidade, esta área vai ficar bem exposta - mas o resto vai ficar sobreexposto. E vice-versa. É, por isso, uma questão de escolha e de compromisso. Por vezes não se conseguem tirar fotografias perfeitas. Isto é algo que temos de aceitar - enquanto esperamos pela revolução que finalmente derrube o déspota maldito...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

E agora, Olympus?

O escândalo Olympus começa finalmente a ser esclarecido, e as últimas revelações são particularmente chocantes: descobriu-se que o pagamento de mais de seiscentos milhões de dólares a empresas de consultoria antes da aquisição da Gyrus por 1,9 mil milhões, bem como as aquisições de três empresas japonesas por um custo cerca de 70% superior ao seu valor real, serviram para encobrir perdas que a Olympus Corporation vinha acumulando desde os anos 90. Uma auditoria interna, chefiada por um juiz desembargador aposentado, divulgou hoje estes números, o que teve como consequência imediata a demissão de antigos auditores e de um tal Hishasi Mori, que era, com Tsuyoshi Kikukawa, um dos membros do conselho de administração cuja exoneração foi sugerida por Michael C. Woodford, o CEO da Olympus Corp. que foi despedido em 14 de Outubro. Com a divulgação destas notícias, as acções da Olympus caíram para perto do limiar que uma sociedade anónima tem de atingir para ser cotada na bolsa de Tóquio, o que significa que, se esta tendência continuar, a Olympus Corp. pode ser excluída do Nikkei.
A exclusão das transacções em bolsa pode vir a ter uma consequência óbvia - a insolvência da Olympus. Esta é uma hipótese cada vez mais provável. Mas as repercussões deste escândalo são ainda imprevisíveis: o Japão, cuja economia fora já severamente prejudicada pelas catástrofes do início deste ano - e também pelas cheias na Tailândia, uma vez que muitas empresas japonesas deslocaram a produção para este país -, está a ser seriamente afectada por este escândalo, minando a confiança dos investidores por um efeito de contágio cuja extensão ainda mal se começou a sentir. 
Quem diria que um fabricante de câmaras e lentes (e logo aquele que eu preferi...) ia estar na origem de uma crise que pode ter repercussões mundiais?
Na verdade, a Olympus não é apenas um fabricante de material fotográfico. A Olympus é um gigante da imagiologia médica que domina 75% do mercado mundial, e a divisão de fotografia representa apenas 16% do volume de negócios da Olympus Corporation. E tem ainda um negócio importante de áudio, e outro de instrumentos industriais de medição. Perante isto, ver a Olympus como um mero fabricante de câmaras e lentes não passa de um disparate. Este volume relativo da Olympus Imaging Corporation significa, por outro lado, que a marca Olympus pode desaparecer. O mais natural, com esta perda de confiança dos investidores - que se estão absolutamente nas tintas para a herança espiritual de Yoshihisa Maitani, para as lentes OM e para as PEN -, é que a Olympus Corporation venha a ser liquidada e as suas divisões lucrativas adquiridas por outras corporações. E a Olympus Imaging Corporation não é exactamente o sector mais lucrativo - pelo contrário, tem acumulado prejuízos ano após ano -, pelo que a sua aquisição poderá não suscitar o interesse dos investidores. Pelo que, a confirmar-se este raciocínio, a Olympus - o fabricante de material fotográfico - pode desaparecer. Há alguns motivos para ter confiança: as exonerações de Kikukawa e Mori podem ser um sinal de renovação e de vontade de pôr fim a práticas fraudulentas, que seria reforçado se Michael C. Woodford viesse a ser novamente designado presidente executivo, restabelecendo assim a confiança dos investidores. Pode acontecer que a companhia regresse à actividade normal, e que a divisão de fotografia não esteja em risco, mas isto parece muito pouco provável. O mercado costuma ser implacável com casos de fraude, especialmente quando atingem dimensões como este. 
Devo, pois, preparar-me para o eventual desaparecimento da marca Olympus; o mais provável é que ninguém tenha interesse em deter uma marca tão fortemente associada a um escândalo com estas proporções, e que os engenheiros altamente especializados venham a ser contratados pelas rivais. E, como sempre acontece nestes casos, avolumarem-se os números do desemprego. E nem sequer menciono as consequências que a insolvência da Olympus Corporation terá para a economia japonesa, nem as suas possíveis repercussões na economia mundial. Afinal de contas, o crash de 2008 começou com a insolvência de duas pequenas imobiliárias americanas, a Freddie Mac e a Fanny Mae, que não se comparavam, em dimensão, ao gigante que é a Olympus Corporation...  

sábado, 5 de novembro de 2011

Workshop

Começou ontem o Workshop de técnica fotográfica do Instituto Português de Fotografia de que vos tinha falado aqui. Como ainda apenas decorreu um terço do curso - afinal de contas foram apenas seis das dezoito horas que o workshop durará -, é demasiado cedo para fazer apreciações, mas tenho a impressão que vai ser útil, e sei que não vai haver o risco de as coisas descambarem e, de um momento para o outro, começarem a correr terrivelmente mal.
Antes de mais: o local é esplêndido. É um palacete do início do Século XX na Rua da Vitória, que foi inteiramente restaurado e recebeu uma arquitectura interior contemporânea que o tornou extremamente confortável e funcional. É incrivelmente agradável e bonito. Quem entra vê a sua atenção concentrada numa exposição de relíquias fotográficas, das quais a Olympus está, infelizmente, ausente - mas há lá lentes que me deixaram a salivar. Há vários espaços extremamente lounge, o que acrescenta à sensação de bem-estar do interior. E há também um terraço, que hoje já usamos para fazer experiências com as câmaras, cujas vistas são de morrer!
O formador é um bacano: além de saber de equipamentos fotográficos a rodos, Carlos Machado é um homem extremamente afável e acessível. Os formandos são interessados, mas não encontrei a orgia de grandes câmaras que esperava: para além de muitas Nikon, só há uma Sony NEX-5, outra Sony, mas bridge, uma Canon G12 e (adivinharam...) uma Olympus E-P1 - que é, evidentemente, a câmara mais bonita de todas! O meu único lamento é que a sala tenha a disposição de um auditório, e não de uma sala de formação, com mesas dispostas em U, mas não se pode querer tudo...
Claro que não foi a beleza do local que me levou a pagar €130,00 por 18 horas de formação. Ser autodidacta não compensa, nem é a melhor maneira de adquirir conhecimentos. Podemos aprender a mexer na câmara e, eventualmente, tirar boas fotografias, mas faltará sempre algo - ou saber para que serve aquilo ao certo, ou saber como funciona aquela configuração... são sempre necessárias bases teóricas para compreender seja o que for a fundo, e a fotografia não é excepção. No meu caso, apesar de nada do que ouvi ontem e hoje ser novo, faltava-me o saber como. No espaço de apenas uma hora, aprendi o que me faltava saber acerca do equilíbrio dos brancos. (Nem de propósito - este foi o tema do texto anterior, e foi com isto que o workshop começou.) Fiquei a saber como se faz a selecção manual da temperatura da cor - quem tiver uma Olympus E-P1 ou 2 selecciona WB no selector principal, depois escolhe CWB e, carregando no botão da compensação de exposição junto ao botão de disparo, introduz um valor expresso em graus Kelvin -, e, mais interessante, aprendi a fazer a configuração personalizada do equilíbrio dos brancos, cujos fracassos anteriores confessei no texto precedente. Nas PEN é necessário configurar o botão Fn para o equilíbrio dos brancos e premi-lo, em simultâneo com o botão do obturador, apontando a uma superfície branca. Devo, porém, dizer que os resultados pouco diferem da definição automática, o que atesta bem a qualidade do fotómetro da E-P1.
Claro que pagar esta fortuna por um workshop de 18 horas seria um desperdício de dinheiro se a qualidade da formação não fosse elevada. E é. E ficarei com a certificação de uma instituição séria e credível. Estou certo de que vou sair de lá muito mais apto e conhecedor.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O equilíbrio dos brancos

3000K (fluorescente)
O equilíbrio dos brancos (white balance) é uma função que surgiu com a fotografia digital. Esta função, a que daqui por diante chamarei WB, é de enorme utilidade, uma vez que as cores não são apresentadas sempre da mesma maneira debaixo de condições de luz diversas.
O que o WB faz é permitir o ajustamento das cores às diferentes condições de luz. Por regra, o fotómetro encarrega-se deste ajustamento quando o WB é deixado em modo automático, mas esta selecção feita pela própria câmara aponta para situações médias ponderadas, calculadas por meio de algoritmos pré-determinados com vista a obter exposições tendencialmente correctas. Ora, se o WB é um instrumento ao serviço da precisão da imagem, tal não significa que não possa ser usado de maneira criativa.
Antes de mais - o que faz o WB, e como o faz? As cores têm uma temperatura, cujo valor se exprime em graus Kelvin (K). O WB, que se chama assim porque o branco é a síntese de todas as cores e, quando se acerta com o tom de branco, todas as cores são correctamente expostas (pelo menos em teoria), mede a exposição e determina a temperatura da cor em conformidade, mas a câmara possibilita a escolha de valores Kelvin pré-determinados num menu que prefigura condições de exposição típicas: luz solar, sombra, nublado, luz incandescente ou tungsténio, fluorescente, flash. Há até a possibilidade de personalizar o WB fotografando um cartão branco ou cinzento, solução que já experimentei mas não resultou: por qualquer motivo, a imagem ficava sempre azul. E não se pense que era um tom ligeiramente azulado: era um azul-ciano. Desisti, retirando consolo das apreciações críticas que li na Internet acerca da qualidade do WB automático da Olympus E-P1...
O gráfico seguinte mostra a graduação da temperatura da cor:
Referi, no final do segundo parágrafo, que o equilíbrio dos brancos pode ser usado de maneira criativa, e não meramente correctiva. Podemos, desde logo, saturar ou dessaturar as cores com o WB, escolhendo um dos modos pré-programados. Na imagem do topo, por exemplo, escolhi «Fluorescente», equivalente a 3000K, e o resultado é bastante óbvio: o céu nunca tem aquela cor. Ao optar por aquele equilíbrio dos brancos, obtive uma imagem completamente artificial, da qual não gosto por ser demasiado inautêntica, mas é possível obter resultados bem mais subtis e agradáveis.
Nas imagens acima usei duas pré-definições diferentes. O pavão da esquerda foi fotografado usando o modo «nublado» (7500K), porque na verdade o céu esteve bastante nublado nessa manhã; é visível a saturação das cores, que é a forma como a câmara reage à perda de tonalidade causada pela luz escassa. Quando surgiu uma aberta, porém, o sol incidiu com bastante intensidade, tornando as cores demasiado saturadas (posto darem uma tonalidade agradável que evoca de imediato as cores do outono). Reverti para o modo «luz solar» (5300K), e o resultado foi uma tonalidade consideravelmente mais neutra, mais precisa. A moral da história é que o WB é, além de um meio poderoso de restituir o equilíbrio tonal às imagens, um instrumento criativo que pode ser utilizado com efeitos extremamente interessantes.
Como vêem, é possível alterar drasticamente uma imagem usando os recursos da própria câmara. Depois de ver e ler isto, quem precisa de Photoshop?

Lentes analógicas vs. lentes digitais

Há algo que merece ser dito acerca das lentes de focagem manual que uso. A despeito de o uso de lentes de focagem manual nos dias de hoje poder parecer uma excentricidade de um lunático, a verdade é que, desde que tenho as minhas OM, raramente tenho usado as outras lentes - as da era digital, concebidas especificamente para a fotografia digital e para o formato micro quatro terços. Há diversos contras no uso das primeiras: o facto de serem de focagem manual torna-as absolutamente ineptas para a fotografia de rua; a 28mm é lenta (f3.5), e a 50mm comporta-se mais como uma pequena teleobjectiva do que como uma standard quando montada na minha câmara; e a necessidade de um adaptador não simplifica o seu uso, sendo praticamente impossível trocá-las com o adaptador montado na câmara. Simplesmente, estes problemas não as impedem de ser muito melhores que as Zuiko Digital em termos de cor, nitidez, ausência de distorções e desse factor subjectivo a que chamarei naturalidade.
Quanto à cor, as OM batem claramente as lentes digitais. Por muito boas que sejam as cores destas últimas - e são-no, não posso negá-lo -, as OM são ainda melhores. São cores mais vivas e saturadas e, contudo, mais naturais. Serão cores mais precisas que as da era digital? Tudo depende do que se entender por precisão: as cores das lentes para digital são ligeiramente mais frias, podendo dar uma impressão mais real da imagem - mas não dão a tridimensionalidade das OM, nem a sensação de prazer visual destas últimas. Com efeito, olhando para as fotografias feitas com as OM, fico com a  sensação de ter tirado fotografias; com as outras, mais parece que produzi ficheiros de imagem digitais.
Com a OM 28mm/f3.5
A nitidez das fotografias, uma vez dominada a focagem manual, é pura e simplesmente incrível. Nós não temos, na língua portuguesa, nenhuma palavra que, neste contexto, tenha o mesmo significado do adjectivo inglês sharp, que define melhor a noção de nitidez que pretendo exprimir. Quando bem focadas, as OM produzem imagens extremamente nítidas - muito sharp -, sendo fácil de perceber os pormenores mais subtis, o recorte das linhas e a precisão dos contrastes. Com uma tremenda vantagem sobre a focagem automática: quando estas não conseguem focar convenientemente, o resultado é imagens desfocadas. Quando os contrastes são insuficientes para que a câmara foque automaticamente, a única solução é reverter para a focagem manual - o que deixa as lentes em igualdade de circunstâncias. Com as OM, nunca há falhas de focagem - a não ser, evidentemente, aquelas induzidas por erro humano (o que, confesso, ainda acontece de vez em quando...). Focar manualmente é uma experiência inteiramente diferente, mas é muito mais compensadora que deixar que a câmara foque. E, atenta a possibilidade de a focagem automática ser impossível em determinadas circunstâncias, pode ser bem mais frustrante falhar uma imagem: na focagem manual, podemos sempre corrigir, seleccionando outra abertura ou rodando o anel de focagem um pouco mais; na fotografia digital, não há nada a fazer - a não ser reverter para a focagem manual (*). Dá muito mais satisfação obter uma imagem nítida focando manualmente do que deixando a câmara focar por ela.
40-150: falhanço da focagem automática

As OM não produzem distorção da imagem nem manchas de luz. É certo que as lentes produzem tanta mais distorção quanto menor ou maior for a distância focal, sendo as distâncias intermédias pouco sujeitas a distorções, mas é notório que as OM são superiores, em termos de construção, às lentes para digital, o que se traduz em menos distorção da imagem e menos clarões. Não há nem concavidade nem convexidade nas imagens obtidas com as OM, assim como não há aberrações causadas pelo ângulo de incidência da luz. São, contudo, bastante dadas a aberrações cromáticas, mas este é um problema de compatibilidade entre a câmara e as lentes.
Falta referir o elemento subjectivo a que chamei naturalidade. As imagens obtidas com as OM criam a sensação de maior concordância com a realidade que as lentes concebidas para digital. A surpresa é o facto de a 28mm ser, neste aspecto, ligeiramente superior à 50mm. Como referi, estamos num domínio subjectivo, mas a verdade é que as OM produzem imagens mais vívidas que as lentes 17mm e 40-150. São imagens mais ricas em tonalidade e mais tridimensionais, e estas características elevam o conjunto corpo-lente de um status próximo das compactas para um nível que só está ao alcance das boas DSLR.
Quando apenas tinha as lentes digitais, conheci alguns momentos de frustração com a minha câmara; por momentos, pensei que tinha já atingido o limite das capacidades desta, mas a montagem das OM fez brotar um potencial que me surpreendeu, fazendo-a superar a barreira da mediania. (Isto, aliás, só serve para provar que as lentes são mais importantes que os corpos, uma realidade que qualquer fotógrafo experimentado pode confirmar.) Por vezes a E-P1 parece ter sido feita para trabalhar com lentes de focagem manual, tal a qualidade das imagens produzidas por este conjunto. Com efeito, a E-P1 funciona inacreditavelmente bem com as OM. O que veio renovar o meu love affair com ela...
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(*) Descobri há pouco tempo que posso configurar o botão Fn (function) para alternar rapidamente entre a focagem manual e a automática. O que é de uma utilidade indescritível quando se usam lentes manuais, ou quando a câmara se recusa a focar automaticamente.