Nos tempos do rolo, o fotógrafo amador tinha de ser comedido nas fotografias a tirar; tinha de fazer contas a um suporte de gravação limitado em espaço, que apenas admitia 24 ou 32 imagens. Isto tinha o seu lado bom, uma vez que obrigava a pensar bem antes de disparar, mas é óbvio que era uma limitação. Hoje o fotógrafo pode tirar mil fotografias em alta resolução, se tiver um bom cartão de memória, pelo que não há desculpas para descarregar quinze fotografias para o computador no fim de uma sessão fotográfica (a menos que se estivesse particularmente falho de inspiração, claro...) Esta abundância permite que se tire um número indefinido de fotografias do mesmo motivo, de maneira a que se possa escolher a que ficou melhor.
Isto é uma verdadeira bênção. Não apenas porque se podem eliminar as imagens mal tiradas, mas porque dá liberdade para fotografar um motivo de todos os ângulos, iluminações, perspectivas, configurações da câmara e momentos possíveis. Estamos, deste modo, no campo da experimentação, que é essencial para a evolução do fotógrafo. Quando se tem recursos tão vastos ao dispor, deixa de ter cabimento a noção de momento único que existia no tempo da fotografia analógica. As câmaras actuais permitem, até, que se tire fotografias em modo contínuo, com a possibilidade de se obter de três a dez - ou mais - fotogramas por segundo, pelo que desapareceu o imperativo de captar aquele momento particular, aquela fotografia especial e irrepetível que urge captar porque já só se tem dois ou três fotogramas no rolo.
Daí que o meu conselho para hoje seja o de tirarem tantas fotografias quantas as que forem necessárias até que se dêem por satisfeitos com uma; e, mesmo quando essa satisfação é alcançada, continuem a tirar mais fotografias. Por um lado, porque nunca se sabe se não vai acontecer algo que confira ainda mais interesse à imagem e, por outro, porque podem obter diversas imagens, tendo assim por onde escolher. Não tenham medo de experimentar, nem medo das críticas: fazer experiências é metade do prazer de fotografar. Ah - já agora: quando forem fotografar, tenham sempre, se possível, um cartão de memória e uma bateria suplementares. Nunca se sabe o que pode acontecer se seguirem o meu conselho... no domingo, por exemplo, fui à Fundação de Serralves. Tirei muitas dezenas de fotografias. Depois, para relaxar, fui até à Foz. Acabei por tirar outras tantas - que, para minha surpresa, ainda ficaram melhores que as de Serralves!
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