A fotografia tem uma vertente técnica importante, mas só a técnica de nada vale se não houver um conteúdo. A fotografia existe para ser exibida, para ser partilhada; tem, por isso, de despertar uma reacção emocional ou intelectual em quem a vê. Este aspecto não pode deixar de estar presente. A técnica, essa, potencia a apreciação da imagem, tornando-a mais agradável e desafiadora para o espectador. A esta conjugação da forma e do conteúdo chamo eu interesse: a fotografia tem, para resumir tudo a uma palavra só, de ser interessante. Tem de mexer com o cérebro ou as sensações de quem vê.
Uma das maneiras de tornar a fotografia interessante é olhar as coisas de uma maneira diferente. Cada um de nós vê os objectos segundo um determinado ponto de vista, de acordo com uma forma de perceber as coisas que é peculiar a cada um. Esta percepção também se treina: basta estar atento e procurar ver o que, de outra maneira, poderia passar despercebido. Mesmo aquelas imagens que já toda a gente viu podem ser fotografadas de uma maneira diferente e original. Ninguém se interessa por fotografias banais, com planos rígidos e sem nada que desperte a curiosidade. A fotografia tem de intrigar pela sua originalidade.
É evidente que a originalidade é um conceito subjectivo. Há motivos que valem a pena ser fotografados, mesmo que toda a gente os tenha já visto centenas de vezes. O que o fotógrafo deve fazer é treinar o olhar para encontrar uma perspectiva ou um enquadramento diferente, ou adicionar-lhe um motivo que estabeleça uma distinção em relação a outras fotografias. Pode ser pessoas - mas não se estiverem a posar para a câmara -, animais, um céu com nuvens particularmente interessantes, etc.
A técnica ajuda a despertar o interesse numa fotografia. Há regras que devem ser seguidas, ou pelo menos estar presentes na mente do fotógrafo quando dispara. Uma regra básica do enquadramento é a regra dos terços, que já referi neste blogue e para cujo texto remeto. Com efeito, uma fotografia cujo objecto surja no centro da imagem é uma fotografia estática e desinteressante. Do mesmo modo, o próprio formato da imagem pode contribuir para tornar a fotografia mais interessante. Fotografias quadradas são de evitar, a menos que a imagem preencha todo o enquadramento. Depois há uma miríade de outras regras quanto à composição e ao enquadramento: por exemplo, a fotografia deve ter um motivo principal, e este deve ser destacado, de modo a que os olhos se concentrem nele. Deve fugir-se da tentação de pôr todos os objectos no enquadramento, uma vez que não é desejável que existam objectos a competir pela atenção do espectador com o motivo que se quis fotografar. Depois há cuidados que se devem ter com a luz, a exposição e outros parâmetros que ajudam à composição, mas abordar estes aspectos obrigaria a um texto tão extenso que desafiaria a paciência do leitor.
Seguir estas regras é importante, mas mais importante ainda é ter um olhar atento. O fotógrafo deve ser capaz de olhar um objecto e adivinhar-lhe imediatamente as suas possibilidades fotográficas. Deve compor um enquadramento mentalmente, e só depois obtê-lo no visor da sua câmara. E deve, acima de tudo, ter em mente que as fotografias são para ser partilhadas, e que devem despertar o interesse de quem as vê. O simples facto de o motivo ser bonito, ou agradável, não chega, por si só, para tornar a fotografia interessante. Devem procurar-se motivos únicos, originais, ou, quando se fotografam motivos conhecidos, deve tentar-se mostrá-los de uma maneira diferente. Este é o segredo mais mal guardado da fotografia...
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