sábado, 10 de setembro de 2011

Eu, a Olympus e as outras marcas

O texto anterior não significa que eu nutra alguma idolatria pela marca que tão longamente versei. Estamos perante uma companhia que fabrica os seus produtos em países onde o respeito pelos direitos da pessoa humana não existe, o que refreia consideravelmente o meu entusiasmo (*). Muito menos significa que seja pago para publicitá-la. E ainda menos que sinta alguma espécie de espírito de facção que me impeça de ver mérito noutras marcas. Pelo contrário: a minha primeira câmara foi uma Canon compacta. Se não fosse ter feito já um investimento substancial em lentes do formato Micro 4/3, e se sentisse a necessidade de ter uma câmara melhor, a única opção seria uma DSLR - e esta não seria uma Olympus.
A aquisição de uma DSLR mereceu-me sempre algumas reservas, à cabeça das quais está a estética. Não tenho dúvidas que, ao enunciar este aspecto em primeiro lugar, incorro na qualificação de frívolo, mas a verdade é que o aspecto estético sempre comandou, desde muito novo, a minha apreciação de uma câmara. Nos tempos idos da minha juventude, as câmaras eram bonitas; eram, na sua maioria, rangefinders, e o seu aspecto físico tornou-se a minha referência: câmaras relativamente pequenas, com uma parte do corpo de metal e a outra revestida de imitação de couro; nada de punhos inestéticos, linhas moles ou alojamentos protuberantes para o prisma, visor e flash. As únicas câmaras feias eram as de dimensões grotescas, como algumas Praktica e as câmaras russas. Ainda hoje as minhas referências são as Leica da série M, que são a expressão mais pura das rangefinders.
A outra reserva é a das dimensões das DSLR. A complexidade do seu manuseamento não me assusta, mas ter de trazer ao peito um conjunto de mais de um quilograma é uma ideia aterradora - quanto mais carregar um saco cheio de lentes fálicas e mastodônticas. Não estou interessado em ser um fotógrafo profissional, embora possa ver-me forçado a comprar uma DSLR se a minha evolução como fotógrafo assim o determinar.
Depois há o gosto pela originalidade, que eu cultivo dogmaticamente. Convenhamos que ter uma Canon ou uma Nikon não é nada original, pelo menos se compararmos com a minha E-P1. A proporção entre as reflex da Canon e Nikon e as E-P1 deve ser, pelo menos aqui em Portugal, de 1000 para 1. Mais uma vez corro o risco de ser tomado por frívolo, ou pelo menos por um esteta de gostos estranhos, mas entendo que a originalidade é importante. Vivemos numa civilização demasiado massificada e homogénea, e esta é a minha reacção à banalidade. Tal como ouvir música alternativa, clássica e jazz, comprar discos de vinil ou preferir processadores AMD.
Por fim - mas não o menos importante - há o factor económico e a relação entre custo e qualidade. As DSLR de acesso, como a Canon 1100D ou a Nikon D3100, não têm uma qualidade de imagem superior à da minha Pen E-P1. Podem ser melhores em determinados aspectos, mas a qualidade dos JPEGs saídos da câmara não é melhor que a das imagens da E-P1 - especialmente se usar uma lente como a G.Zuiko de 28mm, que captura as cores mais extraordinárias. Para ter uma DSLR que me desse mais do que aquilo que tenho neste momento, teria precisado de gastar muito dinheiro - e este, como sabemos, não cresce nas árvores. Ademais, li há meses um artigo que me deixou preocupado, no qual o autor afirmava que os corpos actuais são concebidos para durar não mais que quatro ou cinco anos. Neste aspecto a E-P1, com o seu corpo totalmente construído com metal, parece-me uma escolha superior a uma DSLR de plástico que terei de deitar fora dentro de alguns anos. (E eu nunca revelei publicamente a pechincha que a minha E-P1 foi...)
Como referi, se tivesse um interesse ainda mais sério pela fotografia (que não estou livre de vir a desenvolver), encararia a aquisição de uma DSLR como a única possibilidade; e não seria uma Olympus, uma vez que as suas reflex têm limitações consideráveis por virtude da opção pelos sensores 4/3, que diminuem a relação sinal/ruído, causando níveis de ruído na imagem que as colocam fora dos padrões de qualidade obtidos pelas câmaras de outras marcas. E o ruído é uma das minhas bêtes noires em fotografia, logo atrás da distorção de barril e à frente das aberrações cromáticas. Se eu fosse profissional, ou pelo menos fizesse trabalhos ocasionais de fotografia, a minha escolha não seria uma Olympus: seria uma Canon. Se tivesse de contar os cêntimos, seria uma 600D; se pudesse ir um pouco mais longe, a minha opção seria a 60D. É enorme, feia, e tem aquele LCD no topo cuja complexidade intimida mesmo quando a câmara está desligada - mas, a avaliar pelos testes da Digital Photography Review, é uma câmara que torna difícil de justificar a opção por outra de gama e preços superiores. Claro que toda a gente tem uma Canon (e quem não tem uma Canon tem uma Nikon...), mas a qualidade das cores, a nitidez, a neutralidade tonal, os níveis de resolução e a qualidade das imagens com sensibilidades ISO elevadas fazem com que esta seja a câmara que eu compraria, se tivesse o dinheiro necessário e a necessidade real de ter uma reflex. Poderia considerar outras opções: tenho a certeza que o modelo equivalente da Nikon, a D7000, é uma belíssima câmara, mas a qualidade de imagem da Canon está mais próxima dos meus padrões; a Pentax tem câmaras belíssimas (a K-x esteve na minha lista de possíveis aquisições) e, pelo que sei, as suas lentes são de enorme qualidade - incluindo as da era da focagem manual -, mas o futuro da Pentax, agora que foi adquirida pela Ricoh, é demasiado incerto, não sendo improvável que esta marca tenha por futuro descansar no céu das máquinas fotográficas, fazendo companhia à Minolta. Em todo o caso, preferia uma K-5 a uma Olympus E-5.
As reflex têm, desde logo, uma vantagem tremenda sobre as compactas de lentes amoviveis: o visor óptico. Não é apenas pela clareza da imagem, nem pela enorme vantagem de ver exactamente o mesmo enquadramento que a lente capta: é também por permitir segurar a câmara de uma forma muito mais estável. Depois há a ergonomia, que também ajuda a focagem e a resolução das imagens, ao garantir uma posição de disparo muito mais firme. E há, evidentemente, os aspectos relacionados com a qualidade intrínseca da imagem, desde logo os níveis diminutos de ruído. E a velocidade: se me dedicasse, ainda que ocasionalmente, à fotografia de desportos ou de animais no seu habitat natural (o meu gato, o Sousa, não conta...), as compactas de lentes amovíveis estariam excluídas. Porém, no meu patamar de conhecimentos fotográficos, e atendendo às minhas necessidades, a E-P1 serve perfeitamente - por agora.
E é uma Olympus...
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(*) Este texto foi escrito antes do Olympusgate...   

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