sexta-feira, 8 de julho de 2011

Lentes (fim)

Vejamos, agora, quais os usos mais típicos dos dois grandes tipos de lentes, e quais os problemas que cada um traz.
As lentes grande-angulares, embora bastante versáteis, têm uma distância focal limitada. Deste modo, são inaptas para fotografar motivos distantes, requerendo que o fotógrafo se aproxime bastante do objecto. Servem bem, contudo, para fotografar paisagens, dada a extraordinária sensação de profundidade que permitem.
Outro uso comum das grande-angulares, pela sensação de envolvimento a que já me referi, é a fotografia de rua. Embora este seja um estilo em desuso, como referi num texto anterior, é contudo um tipo de fotografia excitante, porque permite retratar a vida tal como a vemos quando os nossos sentidos estão despertos. Estas lentes, pela sua rapidez, respondem muito bem quando nos deparamos com uma cena fugaz que pretendemos captar, mas isso não quer dizer que não se possam usar teleobjectivas para fotografar motivos de rua. Em certos casos, quando não se quer ser demasiado intrusivo e se quer evitar a aproximação às pessoas, até pode ser o meio ideal. Ora vejam:
Esta foto foi tirada com uma lente 40-150 na distância focal de 58mm (equivalente a 116mm no formato 35mm). O problema é que não se consegue ser discreto com uma lente destas, o que não é ideal para um tipo de fotografia na qual o fotógrafo quer passar despercebido... Por algum motivo os grandes fotógrafos de rua usavam lentes de 35mm, que são bem menos conspícuas!
As teleobjectivas, como já referi, não servem apenas para captar motivos distantes. Servem também para retratos e - se se mantiver alguma distância - close-ups de objectos. Quando se fotografa com estas lentes deve ter-se o cuidado de evitar, como ensina Joel Santos no seu Foto Grafia, que o fundo se torne demasiado intrusivo e acabe por desviar a atenção do primeiro plano, uma vez que estas lentes, ao comprimir a perspectiva, não dão uma boa sensação de profundidade.
Quaisquer destas lentes apresentam os seus problemas. As grande-angulares tendem a curvar as linhas direitas, provocando aquilo a que se chama distorção de barril (uma tradução desajeitada de barrel distortion, já que barrel tem o significado de cano, como em «cano de espingarda»). Este problema pode ser corrigido na pós-produção, mas algumas câmaras incluem software que corrige esta distorção no momento da tomada da imagem, sem que o fotógrafo se aperceba que ela existe.
As teleobjectivas apresentam problemas de outra ordem. Antes de mais, são lentas: têm valores f elevados, pelo menos se comparadas com as grande-angulares. E, atenta a estreiteza do ângulo de visão, não são aptas para fotografar paisagens - embora este não seja um defeito, mas antes uma característica deste tipo de lentes. De resto - e dependendo da acepção de «paisagem» adoptada por cada um -, não é impossível tirar fotos de motivos paisagísticos com elas, como se pode ver neste exemplo:
Refira-se, por fim, que as teleobjectivas apresentam, nas distâncias focais mais elevadas, a distorção oposta à das grande-angulares, conhecida por pincushion distortion, pela qual as linhas direitas convergem para o centro da imagem.
A opção por um destes tipos de lentes não é mutuamente excludente: não se opta por um ou por outro. Ambas têm a sua função e utilidades próprias, servindo fins diversos. Acima de tudo, convém reter que ambas correspondem a escolhas criativas diferentes: as grande-angulares oferecem imagens subjectivas, envolvendo na fotografia quem a vê, enquanto as teleobjectivas servem para criar imagens mais distantes do espectador, mais semelhantes a uma vista real do objecto da imagem.

1 comentário:

Chaze disse...

Gostei muito desta publicação (: tal e qual como me explicaste