quarta-feira, 6 de julho de 2011

Lentes (continuação)

Outra distinção é entre lentes de distância focal fixa e variável. As primeiras, que nos países anglófonos se denominam prime lenses, não fornecem qualquer possibilidade de regular a distância focal, o que as torna em produtos estranhos para os não iniciados mas tem a enorme vantagem de permitir uma focagem homogénea ao longo de toda a imagem. As lentes de distância focal variável, ou de zoom, permitem alterar a distância focal entre um mínimo e um máximo. Podem ser divididas em normais, quando abrangem distâncias entre os 50 e os 150 mm, e telescópicas, quando superam estes valores. É entre estas que se situam as lentes ditas kit lenses, que funcionam como grande-angulares na distância focal mínima e como teleobjectivas nas distâncias maiores. Os mestres da fotografia costumam ignorar ostensivamente estas lentes, mas os fabricantes gostam de as impingir nos packs, acompanhando as câmaras reflex. É o caso das ubíquas lentes 18-55 que a Canon, a Nikon, a Sony e a Pentax vendem em conjunto com as suas DSLR. São lentes que, querendo fazer tudo, fazem quase tudo mal.
Note-se, a propósito de distância focal, que as boas lentes grande-angulares são quase todas prime. São raras as grande-angulares providas de zoom. Inversamente são poucas as teleobjectivas de distância focal fixa: são produtos de tal maneira especializados que apenas raramente surgem nas lojas.
Exemplo de bokeh. Olympus M.Zuiko 40-150 a 85mm, f5.6
A distância focal tem repercussões importantes na abertura máxima: as grande-angulares, de distância focal curta, são por regra lentes ditas rápidas, por permitirem valores f muito baixos. Em contrapartida, as teleobjectivas têm aberturas menores (a que correspondem, como sabemos, valores f mais elevados). As teleobjectivas com grandes aberturas são, dada a complexidade da sua construção, produtos extremamente caros. E, salvo raras excepções, os valores da abertura são tanto mais altos quanto maior for a distância focal seleccionada. Para dar um exemplo com o material que conheço, a Olympus M.Zuiko 40-150 tem uma abertura máxima de f4 na distância focal mínima e f5.6 a 150mm. Contudo, é mais fácil fazer bokeh (o efeito em que o primeiro plano aparece nítido e o fundo desfocado) com uma teleobjectiva de distâncias focais médias que tenha uma abertura razoável que com uma grande-angular, uma vez que a profundidade de campo (depth of field) é maior nas lentes desta última categoria - o que explica que o foco seja constante ao longo de toda a imagem.
Lente tilt and shift
Existem, para além destas lentes mais comuns, outras que são concebidas para fins específicos: as olho de peixe (fish-eye) pertencem à categoria das grande-angulares e têm uma elevada distorção de barril, tornando curvas as linhas direitas. As macro servem para ampliar pormenores muito para além da capacidade do olho humano, e as tilt and shift permitem fazer variar o plano da imagem na horizontal ou na vertical sem alterar a posição da câmara. As lentes - especialmente as grande-angulares - tendem a fazer convergir as linhas verticais no sentido ascendente quando a câmara é apontada para o alto e, inversamente, a fazê-las convergir para o plano inferior quando apontadas para baixo. As tilt and shift produzem esse efeito sem necessidade de alterar a posição relativa da câmara - o que as torna úteis quando se usa um tripé -, podendo ainda alterar o plano focal na horizontal. Estes três tipos de lentes destinam-se a fotógrafos abastados que já compraram todas as lentes de que precisavam e se querem divertir com excentricidades...

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