quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Size matters

Sabem o que mais se discute nos fóruns e websites de fotografia? O tamanho dos sensores. Milhões de pessoas completamente mal informadas deixaram-se convencer de que tudo quanto é necessário para que uma câmara seja boa é que tenha um sensor enorme nas suas entranhas. É como se fosse uma hierarquia, ou uma cadeia alimentar, na base da qual estão as compactas e, no topo, as médio formato - embora os possuidores de câmaras com sensores APS-C tenham a ilusão de que estão no degrau mais alto. (É assim na fotografia como na vida: os pequenos acabam sempre por encontrar outros ainda mais pequenos para retribuir neles as humilhações que os grandes lhes infligem.) Os proprietários de Hasselblads, Pentax 645 e Leicas S2 não precisam de ir à Internet fazer de trolls porque não têm de superar complexos de inferioridade, e os que têm câmaras full frame são, em regra, profissionais que não têm tempo a perder com discussões pueris, mas os que têm câmaras com sensores APS-C entendem que qualquer sensor que seja mais pequeno, ainda que por um punhado de milímetros quadrados, é inferior; alguns chegam ao ponto de pensar - e, o que é pior, exprimem-no por escrito - que qualquer sensor mais pequeno pertence à categoria das digicams, as compactas de bolso a que os de língua inglesa chamam point and shoot. Devemos, deste modo, concluir que os fotógrafos - ou pseudofotógrafos - mais presunçosos estão entre os proprietários de câmaras equipadas com sensores APS-C, o que é injusto para muitos que eu conheço e nada têm de pretensiosos.
Vamos ao que interessa: o tamanho do sensor é importante? É. Sem dúvida. Um sensor grande permite acomodar fotodíodos maiores, incrementando a resolução e diminuindo o ruído quando se usam sensibilidades elevadas; tem também uma profundidade de campo menor, uma gama dinâmica mais extensa e é menos sujeito ao fenómeno da difração - mas será que os sensores mais pequenos são assim tão desvantajosos? Os sensores que estão mais sujeitos às atoardas ignorantes dos foristas e comentaristas são, indubitavelmente, os 4/3 que a Olympus e a Panasonic usam. Abstraindo do facto de esses fãs do APS-C poderem, a qualquer altura, ser ridicularizados por quem usa câmaras com sensores full frame e de médio formato, vamos ver se têm razão no que invocam.
Antes de mais, a questão do tamanho: o sensor APS-C da Canon é maior que o 4/3 por 4,9mm em largura e 1,8mm em altura, ao que correspondem áreas de, respetivamente, 329mm2 e 225mm2. O que, convenhamos, não é como comparar um elefante com uma formiga. Acrescentemos a isto que todos os sensores têm uma shading area (área de sombra), que resulta do facto de a lente ser redonda, produzindo um cone de luz que vai atingir o sensor, que é rectangular; pelo que o sensor pode não receber a mesma quantidade de luz nos cantos que aquela que recebe no centro. Como parece mais ou menos fácil de intuir, quanto mais retangular for o sensor, maior será a área de sombra. O 4/3, sendo quase quadrado (17,3mm x 13mm), sofre menos com este problema.
Em matéria de qualidade de imagem, a desvantagem de tamanho de um 4/3 para um APS-C existe, mas será que é tão dramática como alguns dizem? Não sei. Para aferir isto com precisão, seria necessário algo impossível: duas câmaras exatamente iguais com sensores diferentes, uma com o 4/3 e outra com o APS-C. Contudo, analisando testes comparativos, é notório que, a partir de certas sensibilidades ISO, o 4/3 sofre de mais ruído e perda de resolução - mas isto, note-se bem, acontece apenas em sensibilidades que não são utilizadas na maioria das condições, pelo que é um argumento que, embora possa ser válido em circunstâncias limitadas, apenas é esgrimido por quem cinge a questão da qualidade de imagem a critérios estatísticos.
Quanto a vantagens dos sensores mais pequenos, estas podem resumir-se a duas, mas estas são importantes: permitem fabricar câmaras mais pequenas - embora a Olympus E-5 não constitua o melhor argumento em defesa desta teoria -, mas mais relevante, porém, é o facto de os sistemas baseados em sensores mais pequenos poderem receber lentes também elas mais pequenas, embora com um desempenho óptico semelhante ao de lentes maiores. Estas vantagens são de suficiente monta para permitir a consolidação de um sistema que tem vindo a ganhar cada vez mais aceitação, sendo também, entre os sistemas mirrorless, aquele que tem melhores lentes: o micro quatro terços. Não afirmo isto por ter uma destas câmaras: tenho uma destas câmaras porque adivinhei o futuro deste sistema mal me informei sobre ele.
E, se me vierem com comentários acerca da inferioridade da minha câmara por causa do tamanho do sensor 4/3, eu respondo assim:

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