terça-feira, 5 de julho de 2011

Lentes

 Antes de mais, uma questão terminológica: quando nos queremos referir aos instrumentos ópticos de fotografia, geralmente usamos a expressão «objectivas», mas esta designação não é a mais correcta, já que se refere apenas a um dos dois tipos principais de lentes existentes. Há, com efeito, dois grandes tipos de lentes. Estas podem ser divididas, genericamente, em duas categorias: grande-angulares e teleobjectivas. Mais adiante veremos o motivo de se chamar «objectivas» a estas últimas.
Um exemplo de grande-angular: Panasonic/Leica 25mm para m4/3
As lentes grande-angulares são, geralmente, de distância focal curta - algures entre os 15 e os 50 mm. As suas características ópticas são facilmente reconhecíveis: tendem a formar diagonais, favorecem a sensação de profundidade e têm ângulos de visão geralmente muito abertos. Com estas características, é fácil de ver que são ideais para paisagens, dada a largura da perspectiva e a ilusão de profundidade que permitem.

As teleobjectivas tendem a ter grandes distâncias focais - tipicamente de 50 a 200 ou 300 mm, mas algumas vão bem para além destes últimos valores -, favorecem as linhas verticais e comprimem a perspectiva nos planos da largura e da profundidade, mantendo contudo a sensação de altura.
Teleobjectiva Canon 100-400
Ao contrário do que muitos pensam - e eu próprio incorri neste erro -, as lentes teleobjectivas não servem apenas para ampliar motivos longínquos: elas correspondem também a um propósito, ou intenção criativa do fotógrafo.
É aqui que começamos a compreender o erro de chamar «objectivas» às lentes. Com efeito, as grande-angulares dão a quem vê uma foto uma sensação de envolvimento na imagem, de estar dentro do enquadramento. Esta ilusão é possível graças ao ângulo largo de visão e à diagonalização das linhas. As teleobjectivas tendem, pelo contrário, a distanciar o espectador, oferecendo-lhe a imagem tal como o fotógrafo a viu através do visor (ou ecrã).

Fotografia com lente grande-angular (Olympus M.Zuiko 17mm)
Com teleobjectiva Olympus M. Zuiko 40-150. (De notar que as lentes deste sistema multiplicam por 2 a distância focal, pelo que a uma distância de 150mm equivale uma distância focal efectiva de 300mm.)
Como se pode ver, a distinção entre estas duas categorias - ou melhor, quanto ao tipo de imagem que se pode captar através delas - corresponde à distinção entre subjectividade e objectividade. A grande-angular serve para envolver o espectador (se assim se pode chamar), produzindo o mesmo efeito que se obtinha no cinema com a câmara subjectiva (1); a teleobjectiva visa obter uma imagem mais imparcial, mais conforme àquilo que o fotógrafo vê quando está atrás da câmara. E serve, evidentemente, para aproximar imagens distantes, ampliando-as quando é fisicamente impossível ao fotógrafo aproximar-se do objecto fotografado.
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(1) Michael Freeman, O Olhar do Fotógrafo, ed. Dinalivro, p. 100   

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