No topo da cadeia alimentar da fotografia estão os profissionais, com os amadores dedicados no degrau imediatamente inferior. A democratização da fotografia não tem repercussões negativas sobre o seu trabalho - pelo contrário, é um auxiliar inestimável -, e estes fotógrafos seriam tão bons a trabalhar com uma câmara digital como o seriam com uma analógica.
Não há nada que se compare às fotografias de um profissional. Há nelas um equilíbrio entre forma e conteúdo a que apenas os melhores amadores podem aceder. Estas pessoas fazem fotografia para viver; são pagos para fotografar. Contudo, se lhes perguntarem se esta circunstância diminui o seu prazer de fotografar, a resposta é, com toda a probabilidade, um não rotundo, porque o bom profissional quer sempre ir mais longe.
O que surpreende, no discurso do profissional - eu já tive o prazer de privar com alguns -, é a diferença na abordagem de temas como a técnica e o equipamento em relação aos amadores. Para os profissionais, a técnica é algo que dominam de uma forma que nos parece intuitiva (embora na verdade não o seja), e o equipamento não é um motivo de orgulho ou ostentação, mas uma necessidade. Não há nada mais incrível que ver um fotojornalista em ação: é admirável a maneira como se move, como manipula os comandos da câmara sem tirar o olho do visor e, acima de tudo a completa ausência de qualquer pretensiosismo ou ostentação. Por vezes acontece-me cruzar-me com fotógrafos que têm a mania que são muito bons por terem bom equipamento, e a diferença de atitude entre ambos é abissal: estes últimos gostam de ostentar (e eu sou capaz de jurar que muitos me olham com desdém quando trago comigo a E-P1), os primeiros usam câmaras profissionais porque só estas lhes permitem obter o maior desempenho. É a sua ferramenta.
Os problemas que se levantam, em relação aos profissionais, são, antes de mais, o facto de a fotografia digital ter permitido a muitos amadores fazer fotos de enorme qualidade. O adquirente das fotografias poderá sentir-se tentado a comprar fotos de um bom amador (ou mesmo a roubá-las da Internet), em lugar de pagar a um profissional. Quem quiser estabelecer-se na fotografia terá uma feroz concorrência e muitos anos de luta até obter algum sucesso.
O outro problema é o preço do equipamento. As lentes profissionais podem atingir preços da ordem dos €6.000,00. As lentes que os fotorepórteres usam são, em regra, zooms que não cobrem grandes amplitudes em termos de distância focal, mas têm abertura constante, i. e. a mesma abertura máxima em todas as distâncias focais cobertas. Fabricar lentes destas é extremamente caro, e estas teleobjetivas são incrivelmente volumosas e pesadas. Não há outra maneira de as fabricar. É mais ou menos implícito que as suas câmaras são full frame ou médio formato - sendo que, no caso deste último, os preços são multiplicados por dois ou três em relação ao material das DSLR.
Como referi, estas são questões secundárias para o profissional. O que importa é que o equipamento lhes permita efetuar o trabalho com a maior qualidade possível. O importante, para os profissionais, é o conteúdo da imagem, a sua qualidade intrínseca. No caso dos fotojornalistas, até é possível que as suas imagens não resistam ao mais crítico dos olhares no que respeita a certos aspetos técnicos, mas isso é irrelevante: há casos em que não há tempo para fazer melhor. Não é uma questão de limitação dos conhecimentos ou do equipamento. Há fotografias memoráveis tiradas em condições de luz e exposição longe das ideais, mas o importante foi capturar esse momento.
O amador - i. e. o bom amador - pode estar muito próximo do profissional, mas nunca é verdadeiramente posto à prova. Não tem a pressão dos prazos, nem a urgência de captar as melhores imagens no lapso de tempo mais curto possível. Muitos destes amadores, porém, tornar-se-iam profissionais se lhes fosse dada essa oportunidade.
E eu, onde me situo? Francamente não sei. Profissional não sou com certeza - embora, ao que parece, a Olympus me pague para dizer mal das Pentax, como sugeriu um comentarista num texto anterior. Também não sou um dos que acham que podem tirar fotografias melhores que um profissional com material inferior, porque quem diz isso não sabe do que está a falar, e a mim não me podem acusar de falar sem saber de quê. Não sou alguém que pense que um grande equipamento faz um grande fotógrafo, porque já vi fotografias de pessoas dessas e acho que consigo fazer bastante melhor. Estou, penso eu, num limbo, numa categoria na qual só eu caibo: o aspirante a bom amador. Vou-me esforçando, mas sei que dificilmente chegarei ao topo. Faltam-me o tempo, o dinheiro e o talento para tanto. Já fico contente quando alguém marca uma das fotografias que publico no meu Flickr como favorita...
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