sexta-feira, 2 de março de 2012

Novidades da indústria fotográfica: o que os consumidores querem

Foto: Digital Photography Review (www.dpreview.com)
A Canon e a Nikon já não sabem que mais hão-de inventar para reanimar a sua gama de DSLRs: enquanto uma - Canon - consegue ser mais conservadora que qualquer dos candidatos a candidatos à presidência dos EUA do Partido Republicano, a outra decidiu entrar na guerra dos megapixéis.
A Canon lançou hoje, 2 de Março, a Canon EOS 5D Mark III. O seu sensor full frame tem 22 megapixéis, o que é substancialmente mais que os 18 MP da profissional 1D X. Há três semanas, a Nikon lançou a 800D, com a contagem a subir para 36 MP. Curiosamente, a Canon está a ser criticada, nos fóruns e comentários a artigos nos websites de fotografia, por ter aumentado apenas um ao número de megapixéis do sensor da 5D Mark II, enquanto muitos foristas e comentaristas criticam a Nikon por ter tantos megapixéis!
Em que ficamos? O número de megapixéis é importante, mas não se for excessivo. Pôr demasiados MP num sensor significa pixéis mais pequenos, o que diminui o desempenho com sensibilidades ISO elevadas e prejudica a resolução. Não é apenas o número de pixéis que conta na resolução do sensor: é, sobretudo a relação sinal-ruído, que se deteriora quando o número de pixéis aumenta sem que lhe corresponda um aumento da área do fotosensor. Recorrendo a um exemplo simplista: se metermos 50 bolas de ténis numa caixa de 1m quadrado, elas podem caber mais ou menos confortavelmente; se tentarmos meter 100, as bolas só caberão se forem comprimidas. Daí que os objectores do novo sensor da Nikon tenham razão por recear que o desempenho do novo sensor seja menos que óptimo, e que a Canon, embora querendo dar aos consumidores o que eles querem - mais megapixéis -, tenha sido tão cautelosa.
Já o ISO é outra guerra insensata, mas desta vez o duo conhecido pejorativamente por Canikon usa a mesma artilharia: a Canon 5D Mark III vai até aos 102 400. Eu escrevo por extenso, para o caso de pensarem que pus algum algarismo a mais: cento e dois mil e quatrocentos. Claro que, com uma sensibilidade destas, a imagem evoca furiosamente os pontilhados de Georges-Pierre Seurat, mas isto parece não importar muito para alguns potenciais consumidores.
Deixem-me dizer, antes de prosseguir, que qualquer destas câmaras trucida por completo a minha E-P1, reduzindo-a à condição de brinquedo. Comparar qualquer delas à minha seria tão absurdo como comparar um Mini a um BMW M5. Não é por despeito que escrevo assim, nem por inveja - defeito que, sinceramente, nunca tive. Também não sou pago para dizer mal de umas marcas e bem de outras, como já foi comentado aqui por alguém que devia estar num estado mental alterado. Dito isto, os novos lançamentos demonstram dois dos piores vícios da indústria fotográfica, ambos determinados pela ambição de satisfazer consumidores a quem previamente foi feita uma lavagem cerebral por um marketing muitas vezes enganador. As guerras dos megapixéis e do ISO não têm outro fim que não seja conquistar mercado. Ambas as marcas sabem, porque os seus técnicos são incrivelmente competentes, que os números apresentados são completamente fantasistas e inúteis em termos de resolução e qualidade de imagem, mas os consumidores estão predispostos a aceitar que 36 MP ou ISO 102 400 são proezas tecnológicas que vão transformar por completo a experiência de fotografar com estas câmaras. Se estes consumidores compararem os dois modelos com os precedentes (Nikon 700D e Canon 5D Mark II), vão provavelmente reparar que: a) a diferença de resolução da nova Nikon em relação à anterior é marginal, e que b) As fotografias feitas com a Canon usando valores superiores a 12 800 - o que já é um valor muitíssimo bom, diga-se - têm níveis de ruído intoleráveis. Estamos, portanto, diante de marketing enganoso, mas se há pessoas que se deixam influenciar por ele e substituem os corpos dos modelos precedentes por estes novos, que havemos de fazer?
A Canon, de resto, é também severamente fustigada pelos comentadores e foristas por - imaginem! - não ter um ecrã articulado, e por ter um microfone mono. Eu já não sei o que as pessoas querem de uma câmara, mas vou fazer um exercício de imaginação: a câmara ideal seria uma DSLR com sensor médio formato e resolução, digamos (numa estimativa por baixo) de 50 megapixéis; teria uma capacidade de disparo contínuo de 60 fotogramas por segundo, sensibilidade ISO máxima de 204 800, GPS, vídeo na mais alta especificação possível e em 3D, ecrã rotativo OLED touchscreen com 2 milhões ppi, gravação de som surround 7.1 e, eventualmente, uma saída para tostas mistas e torradas. E custaria €500,00 na FNAC, já equipada com uma lente 18-55mm/f3.5-5.6 (ninguém notaria a diferença...) 

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