Ontem soube-se que Tsuyoshi Kikukawa, anterior presidente da Olympus Corporation, Hisashi Mori, membro do conselho de administração, e mais cinco pessoas, entre elas dois banqueiros, foram detidas (ou presas, o que é diferente) com base numa queixa deduzida pela própria Olympus Corp. Não sei quando foi a queixa deduzida, mas foi tudo bastante rápido: o escândalo foi descoberto há quatro meses. As notícias não são claras, não se sabendo se foram detidos para ser ouvidos por um juiz, ou se foram presos preventivamente, mas a ação das autoridades japonesas não deixa de ser notável.
Recordemos o que esteve na origem deste escândalo: em Outubro de 2011, Michael C. Woodford fora nomeado presidente executivo da Olympus Corporation. No dia 14 desse mês, confrontou o conselho de administração, presidido por T. Kikukawa, com alguns negócios estranhos e potencialmente ruinosos: a Olympus, que é, antes de mais, um fabricante de material de diagnóstico médico - é a maior fabricante mundial de aparelhos de endoscopia, com cerca de 70% do mercado -, havia adquirido uma empresa de cremes faciais, outra de lacticínios e uma outra de recipientes plásticos, cuja produção nada tem que ver com a atividade industrial da Olympus. O conselho de administração despediu imediatamente Michael C. Woodford, que posteriormente fez várias denúncias às autoridades japonesas, ao FBI e ao Serious Fraud Office britânico. Uma auditoria descobriu que aquelas compras serviram para, através da manipulação dos valores reais de aquisição, ocultar contabilisticamente perdas que remontavam à década de 90. Em consequência deste escândalo, as ações da Olympus perderam 80% do seu valor e a companhia arriscou-se a ser excluída do Nikkei, não podendo transacionar ações em bolsa se tal se verificasse. Posteriormente, a Olympus Corporation foi condenada no pagamento de uma multa simbólica - não chegou a um milhão de euros - pela bolsa de Tóquio; muitos pensaram que tudo teria terminado aqui - até porque a companhia recuperou algum do valor que perdera - mas estas prisões podem significar um regresso ao estado inicial.
Na verdade, embora não se tivesse provado que houve responsabilidade da empresa pela fraude, a Bolsa de Tóquio manteve a Olympus Corporation sob observação. Estas prisões podem fazer com que a sociedade seja agora excluída do Nikkei, o que seria uma má notícia. É que, se o negócio da endoscopia tem alguma solidez, já as outras divisões - entre elas a de imagem - apresentam perdas substanciais, pelo que já circulam rumores sobre a aquisição da Olympus Imaging Corporation por outra companhia ou a sua possível extinção.
Não seria nenhuma surpresa se isto acontecesse. Com efeito, o negócio das câmaras e lentes apenas representa 15,5% do volume de negócios da Olympus Corporation, sendo deste modo marginal. Em termos contabilísticos, seria um alívio para a companhia desfazer-se de uma divisão que se tem limitado a acumular prejuízos. Os receios de extinção do negócio da fotografia voltaram, e são agora ainda mais reais. Contudo, a única coisa que se pode fazer, neste momento, é especular. Teremos de esperar para ver o que acontece. Eu, que, como ficaram a saber depois da denúncia pública de um comentador ocasional deste blogue, sou pago para fazer publicidade à Olympus neste espaço virtual, estou extremamente preocupado com a perda desta fonte de rendimento - mesmo que a companhia ainda não me tenha pago um cêntimo. Se a Olympus falir, como é que reclamo o meu crédito?
Fora de brincadeiras, seria uma pena se a Olympus estivesse destinada a um fim tão indigno. Seria a perda de uma marca que foi pioneira em muitos aspetos. O mundo da fotografia sobreviveria sem a Olympus (e eu também, embora um pouco mais pobre...), mas perder-se-ia uma das poucas marcas de material fotográfico com alguma individualidade e sentido de inovação.
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