terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Carnaval

 
Escrevi ontem que fotografar é divertido. E, como o Carnaval é uma época de diversão (exceto, possivelmente, para o nosso Primeiro-Ministro, cuja única diversão deve ser bajular a chanceler Angela Merkel), teria de concluir que fotografar no Carnaval é duplamente divertido. Em parte é verdade, especialmente para quem, como eu, quer por força aprender a fazer fotografia de rua. Deste modo, decidi pegar na câmara e fotografar a movimentação na Baixa do Porto. Levei a 17mm Pancake e o visor óptico, deixando em casa todas as outras lentes e as preocupações com a técnica: fotografei sempre no modo P.
Ora, o Carnaval é um maná para o fotógrafo de rua, mas não se pense que, por haver tantos mascarados, há uma enorme abundância de motivos fotográficos e as exigências de atenção e perspicácia são menores, como se fôssemos pescadores no tanque de um viveiro. Antes de mais, nem todos os costumes carnavalescos são interessantes; depois, nem todas as situações em que surpreendemos os mascarados dão boas oportunidades de fotografar. As exigências são, deste modo, exatamente as mesmas que na fotografia de rua em dias normais.
Por outro lado, andar pelo meio da multidão nem sempre é agradável. Há pessoas que não vão ao Carnaval para se divertir, mas por desfastio, por não terem mais nada de interessante que fazer. As crianças, por seu turno, não me pareceram particularmente divertidas, muitas delas parecendo estar a fazer um frete para agradar aos paizinhos orgulhosos por vestirem os seus rebentozinhos com costumes completamente batidos. As únicas pessoas que me pareciam genuinamente divertidas foram os jovens, raparigas e rapazes entre os 18 e os 24 anos. Foi, aliás, com estes que senti mais empatia ao fotografar.  
Acresce que havia um ambiente que não devia diferir muito das romarias aos centros comerciais dos fins de semana, sendo notório o aborrecimento na face de alguns transeuntes. E havia filas para tudo: para as farturas, para os carrosséis, para os gelados, para as cervejas, para as pipocas e para os balões. E não eram filas de cinco ou seis pessoas: algumas ultrapassavam a dezena de metros. Além de não haver um corso carnavalesco (como é que podia, numa cidade com um executivo camarário mais cinzento que o empedrado da Avenida dos Aliados?) que trouxesse um pouco mais de animação e interesse: era apenas um amontoado de pessoas que tentava retirar algum divertimento de uns carrosséis pindéricos, tentando esquecer as dificuldades da vida por algumas horas. Se pensarmos bem, até se torna um pouco deprimente (embora não tanto como ver o Relvas na televisão...)
Apesar de tudo, não deixou de ser divertido fotografar este Carnaval de crise. Se olharmos para as pessoas da mesma maneira que o fazemos quando nos dedicamos à fotografia de rua, os resultados podem ser muito bons. A única diferença é que, numa ocasião destas, é proibido fotografar a preto-e-branco. E não se consegue evitar algumas poses dos transeuntes, o que rouba alguma espontaneidade à fotografia (mas que, curiosamente, em algumas fotografias resultam bem).
Por vezes sucede-me chegar a casa entusiasmado por pensar que tinha feito grandes fotografias e, ao descarregá-las para o computador, ficar completamente dececionado. Felizmente neste Carnaval aconteceu-me o oposto: estava convencido que as minhas fotografias tinham ficado desinteressantes e de fraca qualidade, mas enganei-me: fiquei até muito satisfeito com uma dúzia delas - o que não foi mau, porquanto apenas tirei cerca de cinquenta. Destas, selecionei dez, que podem ser vistas (sem os textos inestéticos) na minha página do Flickr.  

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