domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Olympus E-M5

Hoje, 4 de fevereiro, a cinco dias da sua apresentação, surgiram as primeiras imagens decentes da Olympus E-M5, de seu nome completo Olympus OM-D E-M5. No texto de sexta feira referi que a Olympus se propunha, com esta câmara, continuar a linha OM depois de uma interrupção de dez anos; ao ver as imagens com o punho e bateria, compreendi que a Olympus quer ir muito mais longe e estabelecer o formato micro 4/3 como o novo 35mm - a referência em matéria de dimensões do sensor.
Ainda não sei se esta é uma ideia brilhante ou uma loucura, mas não é de todo infundada: afinal de contas, a dimensão do filme também passou das chapas monstruosas usadas nos anos dos pioneiros da fotografia para o grande formato, depois para o médio formato e, finalmente, para o 35mm, que se estabeleceu como o padrão universal. Se é um caminho semelhante que a Olympus se propõe abrir com esta câmara, vai ter de se debater com alguns obstáculos, sendo o maior deles a aceitação generalizada da ideia (que não é inteiramente falsa) de que o sensor é tanto melhor quanto maior for. O facto de ter dado um ar tão profissional à câmara, com o punho e a bateria externa, significa que está preparada para a luta e confia no desempenho desta câmara. Não é impossível que a Olympus tenha êxito: tenho a certeza que a passagem para o formato 35mm também foi desdenhada pelos fabricantes de câmaras de médio e grande formato - com a diferença substancial, porém, de que o Dr. Oskar Barnack não teve de se defrontar com um marketing vasto e poderoso como é o dos nossos dias, e nesse tempo não havia milhões de ignorantes a opinar na Internet como hoje. (Aliás, nem sequer havia Internet...) Tenho para mim que o sensor 4/3 é semelhante, em qualidade de imagem, ao APS-C - que, não tendo conseguido a aceitação unânime dos fabricantes, é contudo o mais utilizado nas DSLR, e agora também em algumas mirrorless. O problema do 4/3 é o nível de ruído, que é algo superior, mas este apenas é verdadeiramente grave quando se usam sensibilidades ISO muito elevadas - digamos, acima dos 800. Os fotógrafos habituaram-se a usar valores de ISO astronómicos, e vai ser muito difícil persuadi-los que a qualidade da imagem sai beneficiada com o uso de sensibilidades baixas. Pelo que sei, o sensor da OM-D tem um desempenho melhor que o sensor de 12,3 megapixéis das Pen, o que pode levar muitos a confiar no que a Olympus está a fazer - incluindo a própria Olympus.
Esta versão é uma montagem feita com o Photoshop
Outra dificuldade é o facto de a Olympus estar praticamente sozinha na luta para impor o micro 4/3. Até ao momento, apenas a Panasonic e a própria Olympus usam este formato, sendo que a primeira, que fabrica os sensores 4/3, impôs condições leoninas à Olympus para que que esta pudesse usar os seus sensores. A Olympus está obrigada a usar sensores da geração anterior aos lançados pela Panasonic, o que é uma desvantagem. (A Olympus vinga-se fazendo lentes não estabilizadas, o que torna difícil o seu uso nos corpos não estabilizados da Panasonic.)
Outro obstáculo é a possível repercussão do escândalo financeiro da Olympus Corporation na divisão de imagem. Embora me pareça que as previsões mais negras não se vão cumprir, e que o escândalo caminha para um esquecimento conveniente, ainda é difícil de prever o que vai acontecer. Qualquer especulação é legítima, incluindo a aquisição da divisão de imagem por outra companhia.
Por fim há a concorrência. A Sony, a Samsung, A Fuji e a Pentax usam sensores APS-C nas suas mirrorless. Se a Olympus conseguir fazer melhor, em matéria de qualidade de imagem, que estas marcas, o micro 4/3 pode tornar-se no 35mm dos tempos digitais. Tenho algumas dúvidas que isto venha a acontecer, mas não é impossível que a E-M5 seja uma câmara com uma qualidade de imagem acima da média. A Olympus tem o melhor processamento de JPEG entre os grandes fabricantes, fotómetros excelentes, experiência no fabrico de lentes de alta qualidade e em óptica de alta precisão. De resto, esta câmara é um risco calculado: se suceder, transportará a Olympus para o topo da indústria fotográfica; se falhar, os danos são limitados: o pior que lhe pode acontecer é interferir no volume de vendas da E-P3.
Há algo de profundamente insensato em retomar a linha das OM: por muito evocativa que seja, esta câmara não é uma OM. Há um universo de diferenças para além do facto evidente de as OM serem câmaras analógicas: não há uma única característica técnica que seja transponível das OM para a era digital. É verdade que o estilo retro tem sucesso entre os fabricantes de câmaras - a Fuji consegue vender com sucesso uma câmara pior e mais cara que as da concorrência (a X100) apenas porque parece uma Leica pequenina -, como a própria Olympus sabe desde que lançou a E-P1. E agora, a Olympus não quer apenas repetir o sucesso de uma fórmula comprovada: quer fazer vingar um conceito. A continuação da linha OM não pode ser vista como uma mera opção estética: é a maneira como a Olympus pretende retomar o lugar que ocupava no tempo das OM, e transformar o mercado fotográfico como o fez com o lançamento da OM-1. Será que consegue?
P. S.: esta câmara até pode ser muito melhor, mas não é tão bonita como a minha E-P1.

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