Há algumas semanas um leitor deste blogue, no seu comentário a um texto, formulou a seguinte questão: «em relação à qualidade de imagem, uma mirrorless com sensor APS-C não seria equivalente a uma DSLR com sensor APS-C?» Embora este blogue não seja um consultório para fotógrafos amadores, não teria sido educado se o tivesse deixado sem resposta; respondi-lhe, na altura, que teoricamente não havia qualquer motivo para que a qualidade da imagem fosse inferior, mas esta é uma questão que me parece merecer mais algum desenvolvimento.
Os amantes da tecnologia, entendendo-se como tal aqueles que compram uma câmara por ter um sensor enorme, pelo valor máximo do ISO ou pelo número de megapixéis, não encontrarão qualquer diferença entre uma imagem produzida por uma reflex e por uma mirrorless com um sensor de dimensão e resolução equivalente. Ambas terão, sob o ponto de vista técnico, a mesma resolução, a mesma gama dinâmica, o mesmo ruído (ou ausência dele), etc. Simplesmente, fazer a questão da qualidade de imagem depender apenas do sensor é tão disparatado como pretender que a qualidade de uma fotografia feita com uma câmara analógica depende da qualidade do filme utilizado. É uma parte da questão, mas não responde a tudo. Sobretudo não responde à questão de existirem câmaras com sensores idênticos que produzem imagens subjetivamente diferentes.
Antes do mais, há que considerar a contribuição das ópticas para a qualidade da imagem. Seja qual for o tipo de câmara em análise, a qualidade da imagem depende, e muito, das lentes que se empreguem. As mirrorless com sensor APS-C atualmente comercializadas - as Samsung NX e as Sony NEX - têm aqui um sério limite, porquanto as poucas lentes existentes para as suas baionetas são de qualidade, digamos, melhorável. Já a Pentax K-01 tem uma vantagem prática neste capítulo, uma vez que a sua baioneta do sistema K permite montar todas as lentes desenvolvidas para este sistema. E diz quem sabe que algumas destas lentes são de altíssima qualidade. A Fujifilm X-Pro 1 - que também tem um sensor APS-C, tal como a Sony e a Samsung - tem uma baioneta de conceção original, pelo que apenas podem ser montadas as lentes especialmente desenvolvidas para esta câmara. Há, neste particular, uma desvantagem substancial das mirrorless com sensores APS-C em relação às reflex equivalentes. O que, no caso da Pentax, leva a questionar por que alguém há-de escolher aquela câmara em detrimento de uma reflex com um visor óptico e sistema de focagem automática por deteção de fase. E com a vantagem adicional de esta última ser menos ridícula, desde que o adquirente opte por uma cor sóbria.
Nos casos da Sony e da Samsung, há outra questão que, não estando diretamente relacionada com a qualidade objetiva (i. e. mensurável) da imagem, tem também importância. As lentes para estas câmaras são do tamanho das concebidas para as reflex, pelo que, resumindo tudo em termos simples, se está a montar uma lente grande num corpo pequeno. O que coloca alguns problemas que se repercutem, de uma maneira ou de outra, na qualidade da imagem. Uma câmara destas é difícil de manusear, e o uso de lentes grandes pode provocar distorção da imagem por arrastamento, por força da ergonomia deficiente do conjunto. Mesmo com um tripé, este pode ser um problema de difícil solução, uma vez que um corpo pequeno não é capaz de assegurar, quando fixado num tripé, a estabilidade da lente. O centro de gravidade do conjunto está demasiado longe do ponto de fixação da câmara ao tripé, pelo que é inevitável a existência de desequilíbrios e vibrações que podem afetar a qualidade da imagem. Ainda que este problema não se verifique, sempre restará o paradoxo de ter uma câmara pequena que se torna grande por causa das lentes que monta. A Sony e a Samsung não perceberam a ideia que norteou o Micro 4/3 - a construção de câmaras e lentes pequenas, mas com elevada qualidade de imagem - e tentaram tirar partido da resolução superior (pelo menos do ponto de vista teórico) do sensor APS-C. Resultado: a lente standard 18-55 da Sony é do mesmo comprimento que a teleobjetiva 40-150 da Olympus - e mais larga, por força de uma baioneta de diâmetro consideravelmente maior.
Os outros problemas são a focagem automática e o tipo de visor. As mirrorless recorrem à deteção de contraste para focar automaticamente, que é mais precisa que a deteção de fase mas menos eficaz em condições de baixa luminosidade. O que significa uma focagem mais lenta e a necessidade frequente de focar manualmente em condições de pouca luz. Além do mais, as mirrorless, por serem isso mesmo - câmaras sem espelho -, não podem ser equipadas com um visor óptico que mostre o mesmo que a lente «vê». Têm de recorrer a visores eletrónicos, que são inferiores (de acordo com os puristas das DSLR) aos visores ópticos.
Por tudo isto, não tenho muitas dúvidas em dizer que, quando o potencial adquirente de uma câmara hesitar entre uma câmara mirrorless e uma reflex equivalente, tendo ambas sensores APS-C, deve optar pela reflex. É maior, mais feia e potencialmente mais cara - mas tem muitas vantagens em relação a câmaras que não são mais que compactas nas quais foi embutido um sensor sobredimensionado e soldada uma baioneta desproporcionada, concebidas à pressa para tentar explorar aquilo que os consumidores desinformados viram como o calcanhar de Aquiles do sistema Micro 4/3 - a dimensão do sensor.
Sem comentários:
Enviar um comentário