quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Que futuro para a Olympus?

The Online Photographer é um dos blogues que visito diariamente. É mantido por um norte-americano de nome Mike Johnston, cujos interesses, para além da fotografia, passam também por automóveis e alta fidelidade. Não desdenharia uma boa conversa in persona com ele, iria decerto ser interessante. Além destes interesses comuns, Mike é uma pessoa atenta ao que se passa no mundo e com ideias lúcidas e sãs - o que, atento o nível de sarjeta para que os republicanos atiraram o debate político com o seu ódio por Barack Obama, é algo de assinalável.
Ontem Mike Johnston escreveu um texto notável - onde há até uma analogia com a situação económica da Grécia, embora sem conhecer ainda o plano de resgate aprovado na terça feira - que remete para um artigo da Reuters em que se dá conta do receio que os investidores estrangeiros têm de que os principais credores da Olympus Corporation - alguns dos maiores bancos japoneses - forcem a uma composição do futuro conselho de administração que lhes permita controlar a sociedade. Ora, isto significaria que a empresa ficaria nas mãos dos credores, o que configuraria uma verdadeira liquidação do património. Tal como Mike, não me parece que uma administração influenciada pelos credores vá zelar pelos interesses da empresa - vai, outrossim, atender aos interesses dos credores.
Compreendem agora a analogia com a Grécia? Tal como o país ao qual devemos a nossa civilização ocidental (civilização de que tanto nos orgulhamos, apesar de ter espalhado os males do mercantilismo pelo mundo inteiro) ficou definitivamente nas mãos da Troika, não sendo exagero dizer que perdeu a sua soberania, também a Olympus Corporation vai ser administrada, não pelos acionistas, mas pelos credores. E estes estão interessados no negócio dos endoscópios, cujo mercado a Olympus domina por uns astronómicos 70% do mercado. Tudo o resto, i. e. o áudio e a imagem, serão secundários. A divisão de imagem é particularmente vulnerável, já que, a despeito do sucesso da série Pen, tem acumulado prejuízos. Na verdade, a Olympus Imaging Corporation tem acumulado erros de gestão grosseiros desde os anos 90, altura em que teimosamente se recusou a aderir à focagem automática.
Curiosamente, mesmo o negócio dos endoscópios pode estar em risco. Um conselho de administração dominado pelos bancos poderia determinar a liquidação da Olympus Corporation para que os bancos vissem os seus créditos satisfeitos. Michael C. Woodford, o CEO que foi despedido por ter denunciado o escândalo Olympus, tentou contrariar esta assunção da administração pelos bancos, tendo o apoio de uma corporação denominada Southeastern e outros investidores japoneses e estrangeiros, mas teve de recuar diante da força dos credores. Agora a dissolução da Olympus pode ser irreversível. Os banqueiros estão-se borrifando no legado de Yoshihisa Maitani, nas lentes OM ou na qualidade da E-M5; mesmo que o negócio da endoscopia resista, as demais divisões são descartáveis. Seja o que for que venha a acontecer, a divisão de imagem estará em sério risco no caso de os credores tomarem conta do conselho de administração da Olympus Corporation.
Curiosamente, fala-se com cada vez maior insistência no interesse da Sony em adquirir participações na Olympus Corporation. O mínimo que posso dizer é que, depois de saber o que a Sony fez com a Minolta, estes rumores não me deixam nada tranquilo.      

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