sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Mais novidades da indústria fotográfica

Enquanto a Pentax lançava a câmara mais grotesca do século sem pré-aviso - e qualquer pessoa com um mínimo de bom gosto tinha de estar preparada para a exibição de atrocidade que a K-01 é -, a Olympus vem seguindo uma campanha de marketing baseada em fugas de imagens (teasers) que, ao que parece, vai culminar na apresentação do modelo da série OM-D na próxima quarta-feira, dia 8.
Ao contrário da Pentax, a Olympus optou por se inspirar no passado para conceber a nova câmara, a E-M5. Não sei se isto é bom ou mau: a OM-1 foi uma das câmaras que mudou a face da indústria fotográfica: era muito mais pequena que qualquer outra SLR da época, tinha uma qualidade de imagem, ao que se diz, fora do comum, e introduziu inovações que fazem hoje parte de qualquer câmara que se preze, como o indicador da exposição da O-M1n. E a Olympus não se limitou a copiar o estilo das OM: o número do modelo (5) significa que quer retomar a numeração das OM de alta qualidade, que foi interrompida com o fim da produção da OM-4. (Entretanto foram lançados outros modelos, com dois algarismos, para consumidores não profissionais, mas diz quem sabe que não tinham a mesma qualidade.) Isto significa que a Olympus quer continuar a série OM depois de uma interrupção de dez anos.
A Olympus OM-4
O que é, convenhamos, uma estratégia arriscada. Para ter sucesso e não envergonhar a tradição das OM, esta nova câmara tem de ser um produto da mais alta qualidade. Pelo que circula na Internet, a E-M5 vai ter o mesmo sensor que as Panasonic G3 e GX1 - um CMOS de 16 megapixéis -, uma nova evolução do processador duplo das Pen, um visor eletrónico que, ao que parece, é o VF-2 embutido no corpo da câmara, e o sistema de focagem automática mais rápido do mercado. Isto pode não ser o suficiente num meio em que os consumidores foram sujeitos a uma lavagem cerebral que os convenceu que qualquer sensor que seja mais pequeno que os APS-C, ainda que por um milímetro quadrado, é um péssimo sensor cheio de ruído, com uma gama dinâmica limitadíssima e uma profundidade de campo demasiado ampla. Eu apenas ponho as minhas dúvidas se a contagem de megapixéis não redundará numa deterioração da relação sinal/ruído, degradando a qualidade geral da imagem em favor de um pouco mais de resolução.
A fazer fé na veracidade da imagem do topo do texto - ainda não ponho de lado que seja uma montagem -, a estética é a continuação da linha das OM analógicas. O que me levanta uma dúvida: será que a Olympus vai abandonar por completo as câmaras do formato DSLR, construindo uma linha de produtos que inclui uma gama de acesso - as Pen - e outra (as OM) num patamar superior, substituindo esta as câmaras do formato 4/3? Há muita gente que vai ficar dececionada se isto acontecer. As lentes para 4/3 incluem alguns dos melhores modelos produzidos pela Olympus, mas são incompatíveis com a baioneta do sistema micro 4/3 por 6 mm. Quem adquiriu lentes 4/3 poderá ficar sem um corpo onde as montar, e os sistemas mirrorless ainda não atingiram o nível de desempenho das DSLR. Imaginem como se sentirá quem gastou €1.700,00 com uma Olympus E-5 ao saber que a marca não vai fazer mais nenhuma DSLR e que no futuro, quando a sua câmara necessitar de substituição, vai ter, para continuar a usar o seu arsenal de lentes, de comprar uma OM-D e um adaptador - que não lhe garante acuidade na focagem automática - e prescindir do visor óptico.
A política da Olympus está a tornar-se quase tão errática como a da Pentax, embora com a diferença de ainda saber fazer câmaras bonitas. Não sei onde os administradores da Olympus esperam chegar com estas opções, mas desiludir consumidores fiéis não me parece uma boa política para um fabricante que depende do entusiasmo dos olympianos fervorosos. Se forem estas as ideias da Olympus, vamos decerto ver muitas lentes 4/3 no eBay e um acréscimo de vendas das reflex da Canon e da Nikon.
Não me sinto particularmente compelido para comprar a E-M5. Para que a ambicionasse, esta câmara teria de constituir uma enorme evolução em relação às Pen. Mas posso estar a agir como a raposa da fábula, que desdenha as uvas por estarem verdes. Quero ver que tal é a câmara - e, sobretudo, como me corre a vida -, para saber se a minha esplêndida E-P1 vai ter uma sucessora. Se os progressos em qualidade de imagem forem apenas marginais, a E-P1 fica...

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