domingo, 12 de fevereiro de 2012

A democratização da fotografia (3)

Foto encontrada em The Online Photographer. Sorry, Mike...
Até agora referi-me aos malefícios da democratização da fotografia, mencionando apenas os aspetos negativos: a deformação das mentes que leva alguns a pensar que são grandes fotógrafos apenas porque se deixam iludir pelo que as câmaras fazem por eles. O advento da fotografia digital trouxe também benefícios, tornando a fotografia acessível a pessoas que, intimidadas pela dificuldade em controlar uma câmara analógica, se abstinham de fotografar momentos importantes das suas vidas. A estes designo por fotógrafos casuais. Têm a particularidade de ser os menos atingidos por neuroses e stress relacionados com equipamentos, técnicas e conteúdos. São, por outras palavras, os mais felizes dos fotógrafos. São também o grupo mais amplo: vemo-los todos os dias, de compacta ou bridge na mão, apenas gozando o prazer de capturar um momento, uma paisagem ou alguém que tem um significado especial; vemo-los nas zonas históricas das nossas cidades e nos jardins públicos, sorrindo felizes e despreocupados, sem que por uma única vez sejam perpassados por preocupações sobre a compensação da exposição, o equilíbrio dos brancos, a medição pontual, a abertura ou a velocidade do disparo.
A verdade deve ser dita: todas as câmaras, com exceção das de nicho como as Leica (as autênticas, não as Panasonic rebatizadas), as médio formato ou as Fujifilm da série X, estão programadas para exposições automáticas que, embora não atinjam os resultados obtidos com o controlo manual, são contudo aceitáveis. Apesar de nunca ter experimentado o modo iAuto da minha E-P1, usei frequentemente o modo P, e os resultados são corretos, embora nem sempre ideais.
Não há nada de mal em tirar fotografias despreocupadamente e em reunir a família e os amigos para partilhar as fotografias de umas férias, de uma festa ou do nascimento de um filho. Pelo contrário, este é até um dos benefícios mais importantes da fotografia. Há qualquer coisa de mágico na maneira como uma imagem pode trazer recordações de momentos do passado, e as pessoas tendem a fotografar aqueles em que se sentem felizes por algo de bom que lhes aconteceu: umas férias, uma viagem, um acontecimento pessoal importante. Claro que, se olharmos criticamente para estas fotografias, vamos encontrar defeitos, quer quanto à técnica, quer quanto à composição e enquadramento - mas isso que importa? Essas questões tornam-se absolutamente secundárias quando confrontadas com o sorriso, ou mesmo o riso e a comoção, que iluminam o rosto destas pessoas ao olhar as fotografias que tiraram. E, com a fotografia digital, podem tirar milhares de fotografias, sendo a única preocupação técnica a de verificar o espaço disponível no cartão de memória e o nível de carga da bateria. Isto é mau? Claro que não! É verdade que muitas dessas fotografias podem falhar - mas isto não acontece até com os profissionais, que fazem dezenas de imagens até atingir aquela que tencionaram?
O que é saudável, nestas pessoas, é que não têm qualquer tipo de pretensão. Fotografar é, para elas, muito mais divertido que para os elementos de qualquer dos outros grupos: é sobretudo mais espontâneo e natural. Os fotógrafos casuais não se sentem compelidos a tirar grandes fotografias, embora estas possam acontecer; podem nunca vir a sentir a satisfação interior extrema de fazer uma fotografia conseguida do ponto de vista estético e técnico, mas a verdade é que não sentem essa necessidade. Por vezes invejo-os.

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