sexta-feira, 27 de abril de 2012

Aniversário

Já narrei aqui, por várias vezes, os motivos que me levaram a adquirir a minha câmara actual. Andava profundamente descontente por ter uma compacta, mas não queria dar o salto para uma reflex. Não queria porque as DSLR a) são caras, b) são feias, c) são mastodônticas e d) precisava de gastar fortunas em lentes. Nos meses que precederam a compra da E-P1 informei-me exaustivamente acerca de câmaras; as DSLR eram apelativas, e tive algumas na minha lista de possíveis aquisições: a Pentax K-x, que me foi desaconselhada, não pela falta de qualidade, mas pela incerteza acerca do futuro da marca (que pertencia ainda à Hoya), a Nikon D3000, porque o meu mentor Fernando Aroso me aconselhou a comprar uma Nikon, e a Canon EOS 1000D, ainda que nunca tivesse encarado seriamente a sua compra porque a minha compacta era... uma Canon. O que eu queria era uma câmara pequena que me desse mais controlo e, sobretudo, desse para mudar lentes; imaginava que apenas se podia optar entre compactas e DSLRs, mas descobri que havia outra opção - as hoje universalmente denominadas mirrorless.
Horas infindas de pesquisas na Internet levaram-me a descobrir a E-P1. A beleza desta câmara cativou-me imediatamente - a E-P1 é um daqueles objectos que apetece ter mesmo que não se precise dele -, mas uma câmara precisa de ser mais que bonita: tem de ter uma boa qualidade de imagem. Havia, nos websites de equipamento fotográfico, unanimidade de opiniões quanto à E-P1: grande qualidade da imagem, controlo da exposição equiparável a uma DSLR e qualidade de construção impecável, do lado das vantagens; os defeitos eram o nível de ruído (em comparação com DSLRs com sensor APS-C), a lentidão da focagem automática e a falta de visor e de flash incorporados. Contudo, nunca li nenhuma crítica que sobrepusesse os defeitos às qualidades: pelo contrário, era uma câmara universalmente aplaudida pela sua qualidade. Decidi que passava bem sem o flash e o visor; o ruído e a lentidão, esses, não podiam ser piores do que o de uma compacta. A E-P2 também era interessante, mas era também mais cara, e ao seu custo acrescia a compra de um visor electrónico (único factor que tornaria a sua compra vantajosa em relação à E-P1; não fazia sentido ter uma E-P2 sem o VF-2).
Estive para comprar a E-P1 em Novembro de 2010, na versão kit com lente 14-42mm/f3.5-5.6, mas um cliente deu-me o calote, o que me obrigou a esperar. Quase a desesperar: já não conseguia suportar a compacta: sentia-me ridículo a fotografar com ela, os níveis de distorção da imagem eram escandalosos, o ruído assustador e a resolução (ou a sua falta) confrangedora. Tinha cores bonitas, nada mais. Ou melhor - para ser justo, devo dizer que tinha algo que me facilitou a transição: um modo P, que dava acesso ao ISO, à compensação da exposição, ao controlo da medição e ao equilíbrio dos brancos.
Há males que vêm por bem: graças ao calote, e ao tempo de espera que implicou, surgiu entretanto a oportunidade de comprar uma E-P1 por um preço irrisório, com a 17mm/f2.8 e o visor óptico VF-1. O que me poupou o embaraço de ter a lente 14-42, que mais tarde experimentei: usei-a um dia e devolvi-a no seguinte. Lembro-me bem do dia 27 de Abril de 2011: saí mais cedo do trabalho para ir levantar a E-P1 à Pixmania; depois voltei ao escritório, onde trabalhava uma rapariga que é fotógrafa de casamentos e baptizados nas horas livres e usa uma Canon 5D. A L. percebeu de imediato que estava a ver uma câmara a sério quando descobriu o célebre controlo secundário, aquele cilindro no lado superior direito do painel traseiro que hoje uso para controlar a abertura (ou a compensação de exposição quando uso os modos A e S.) Regressei a casa eufórico: tinha esperado tanto tempo por aquele momento!
A E-P1 ensinou-me a fotografar; mostrou-me a diferença entre apontar e disparar e fotografar com domínio da técnica fotográfica, e como este, não sendo tudo, é importante para exprimir a intenção fotográfica. Porque não basta ter boas noções de composição e enquadramento, nem ter critérios estéticos desenvolvidos, para fazer boas fotografias. A compacta era uma limitação que me exasperava; a E-P1 deitou esses limites por terra e trouxe-me mais próximo dos meus ideais fotográficos. Sei que tenho ainda um longo caminho a percorrer, mas hoje estou mais perto do que estava no dia 26 de Abril de 2011.
Eu sei que a E-P1 é criticada (quando não é ridicularizada) por muitos, incluindo gente que sabe infinitamente mais de fotografia do que eu. E são várias, de facto, as limitações da E-P1: o ruído, as altas luzes com tendência a estourar, a focagem automática errática (a despeito da evolução substancial que o firmware 1.4 trouxe) e a falta de um visor que mostre o que a lente vê. Em contrapartida, tem um fotómetro preciso que me faz esquecer a existência da medição pontual, um equilíbrio automático dos brancos que dispensa os outros modos e, sobretudo, uma qualidade de imagem digna de uma boa DSLR - que é confirmada nas impressões - e a maneira como trabalha com lentes antigas, como as minhas OM. O uso do Lr4 fez-me perceber que o ruído é um problema mais grave do que eu pensava, e este pode vir a determinar a aquisição de outra câmara - mas não vai ser tão cedo. Afeiçoei-me à E-P1. Os franceses diziam, a propósito dos Citroën DS, que on n'achète pas une Citroën, on l'épouse; o mesmo comigo e a E-P1.

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