domingo, 1 de abril de 2012

Raw, a Olympus e restaurantes

escrevi aqui um texto em que comparava o raw e o JPEG, mas muita água correu debaixo da ponte desde então. Hoje resolvi fazer algumas fotografias em raw+JPEG para confirmar ou infirmar as conclusões a que tinha chegado nessa altura. Vou reservar as minhas conclusões para o fim, começando por dizer quais as vantagens de fotografar em raw.
Raw processado no Olympus Viewer 2
JPEG (não editado)
A principal vantagem é, evidentemente, a quantidade de informação que o ficheiro - no caso das Olympus recebe a extensão .orf, que significa, como é óbvio, «Olympus Raw File» - contém. A resolução de um ficheiro .orf anda à volta de 11.50 MB, contra os 3 - 4 dos JPEGs. Mais surpreendente ainda é o número de cores: à volta dos 16 milhões. É preciso dizer que o ficheiro raw contém toda a informação que o sensor é capaz de captar, enquanto no JPEG o processador comprime essa informação. O objectivo dos ficheiros raw é, justamente, o de fornecer ao fotógrafo uma base de processamento da imagem tão ampla quanto possível, de maneira a conservar a resolução intacta (ou tão intacta quanto possível, se me é permitido um pequeno deslize na lógica, uma vez que há sempre limitações à quantidade de informação captada: basta usar uma lente inferior).
A outra vantagem é decorrente da primeira: as possibilidades de manipulação da imagem são extensas, especialmente se for usado software especial de desenvolvimento de ficheiros raw. (No meu caso usei o Olympus Viewer 2, que é rudimentar quando comparado com alguns «desenvolvedores».) As possibilidades são enormes, o que confere ao fotógrafo uma liberdade quase ilimitada de edição da imagem. O que não é mau, convenhamos.
Excepto se o fotógrafo tiver uma Olympus. É que, se for esse o caso, podemos questionar-nos acerca da necessidade e utilidade do raw. E, com isto, entramos nas desvantagens do formato. Para usar uma citação que li num texto de Ken Tanaka, fotógrafo que escreve uns textos para o The Online Photographer, o raw é como ir a um restaurante e comprar os ingredientes para depois os cozinhar em casa. Há aqui várias hipóteses: se formos bons cozinheiros e o restaurante for bom, é indiferente usar raw ou JPEG; se formos maus cozinheiros e o restaurante for bom, é um desperdício estúpido (e fazemos figura de parvos diante do chef); só se formos bons cozinheiros e o restaurante não for grande coisa é que o raw vale a pena. (Se restaurante e cozinheiro forem ambos maus, é altura de mudar de câmara - ou de hobby.) Convertendo isto numa linguagem mais óbvia, longe de subtilezas, direi que há câmaras cujo processamento dos ficheiros JPEG é tão bom que o raw é uma mera perda de tempo: afinal de contas, aquilo com que ficámos, depois de processar a imagem, é um ficheiro JPEG: os ficheiros raw não podem ser descarregados - nem, por consequência, impressos - antes de serem convertidos em JPEG, sendo a informação comprimida para valores da ordem dos 3 - 4 MB.
Raw processado no Olympus Viewer 2
JPEG (não editado)
Há câmaras, porém, cujos processadores não produzem resultados brilhantes com JPEGs: as Nikon e as Panasonic são dois exemplos. Os JPEGs destas câmaras são, salvo algumas excepções, baços e de cores mortiças. Com estas câmaras vale a pena fotografar raw. Canon - a partir da 60D -, Olympus e Pentax têm bons processadores JPEG, que tornam o uso do raw redundante. Até porque - e este é um dos grandes defeitos do formato - os ficheiros raw ocupam muito espaço e demoram uma eternidade a escrever para o cartão da memória (e depois a descarregar para o computador). Isto pode ser impeditivo, a menos que se usem cartões muito rápidos e de grande capacidade. Estes existem, mas custam os olhos da cara.
No caso da Olympus, a conclusão que retiro é que o incremento na qualidade da imagem não merece o esforço que fotografar e processar uma imagem raw constitui. A melhoria na qualidade da imagem, comparando directamente os ficheiros tal como são descarregados da câmara, é notória, mas não esmagadora. E o JPEG pode ser editado, atingindo um padrão de qualidade comparável ao raw - mesmo depois de este ter sido processado. Olhando para as imagens que ilustram este texto, é notório que as obtidas a partir de ficheiros raw são melhores, mas esta melhoria não é substancial, e o fosso pode ser transposto mediante retoques simples nos JPEGs. A questão é se o que fica, depois de processado o JPEG, justifica as desvantagens do raw. Em meu entender - e no meu caso particular -, a resposta é negativa. O acréscimo de qualidade da imagem é meramente marginal.
De resto, a resolução superior e a ausência de processamento na câmara deixam patentes algumas aberrações da imagem quando se fotografa no formato raw: o ruído é mais evidente e, numa das fotografias que fiz hoje nos dois formatos, o ficheiro raw apresentava um nível de moiré que não existia no formato JPEG. Preocupante. 
Deste modo, se eu for ao restaurante, prefiro ter a refeição cozinhada pelo chef. Se o processador de JPEG da Olympus fosse um restaurante, receberia três estrelas Michelin. Comprar os ingredientes para os cozinhar em casa ficaria mais caro e seria um desperdício de tempo. Aliás, nem sequer sei o que vou fazer às fotografias que fiz hoje no formato raw: só estão a ocupar espaço no frigorífico - perdão, no disco rígido.

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