sexta-feira, 9 de março de 2012

O que é isso da «obsolescência»?

Toda a gente que se interessa por equipamento sabe o que são os (ou já ouviu falar dos) DxO Labs. E, em particular, conhece os testes DxOMark. Estes testes são a referência absoluta, em virtude da sua metodologia, para muitos especialistas em fotografia. Embora não seja um frequentador assíduo do website da DxO, hoje deu-me para visitá-lo, atraído pela curiosidade de saber como se comporta uma determinada lente, neste caso a nova Olympus 12-50mm f3.5/6.3. Já calculava, depois de uma péssima experiência com a detestável zoom 14-42mm, que a classificação fosse menos que boa, mas ainda é pior do que esperava: à beira do péssimo. Eu cá gosto é de primes, por isso esta classificação não teve qualquer influência em mim porque nunca me passou pela cabeça comprar essa lente.
A curiosidade levou-me a ver testes de outras lentes - estou a considerar, se a vida me correr muito bem, comprar a Panasonic-Leica 25mm/f1.4 -, e a ir daí para as câmaras: fui dar comigo a uma análise à Olympus E-P3, e descobri uma página onde se podem comparar até três câmaras. Deu-me a curiosidade para comparar a E-P3 com a predecessora E-P2 - para descobrir que a E-P3 não é superior aos modelos que a precederam. Escolhi a comparação com a E-P2 por imaginar que a E-P1, já não sendo produzida, não figuraria nas listas da DxOMark, mas enganei-me. Ainda está lá. Comparei as três EPs lado a lado e - surpresa das surpresas! - a E-P1, que tem virtualmente o mesmo desempenho que a E-P2 (como seria de esperar), supera a E-P3!
Se pensam que estou a mentir, podem ver o comparativo aqui. A E-P1 supera a E-P3 em cor e gama dinâmica, e o seu desempenho com sensibilidades ISO elevadas é melhor do que o da E-P2 (e igual ao da E-P3).
Qual é, então, a vantagem de comprar uma câmara como a E-P3 (ou mesmo a E-P2) em lugar da E-P1? A possibilidade de montar um visor electrónico. Nada mais. A E-P3 tem um flash integrado, mas é tão fraquinho que não tem grande utilidade: quem quiser fazer um uso sério do flash tem sempre de comprar um flash externo. Contudo, a E-P3 foi publicitada (e difundida pelos websites e blogues da especialidade) como um salto enorme em qualidade. Este comparativo demonstra que, no que verdadeiramente conta - a qualidade da imagem -, a E-P1 (que já foi «descontinuada» há dois anos) ainda é uma belíssima câmara.
O que significa que, visor electrónico à parte, a E-P1 é uma excelente câmara. O resto é marketing enganoso. Quando a E-P1 foi lançada, toda a gente clamou que não prestava porque - ó sacrilégio!, ó infâmia! - não tinha flash nem visor. E a Olympus, prontamente, substituiu-a pela E-P2, que permite a montagem de um visor electrónico - mas continou a faltar o flash, pelo que a E-P2 cedeu tranquilamente o seu lugar à E-P3. E os consumidores, atordoados pelo pecado de uma câmara sem flash integrado, correram a substituir as suas E-P1 e E-P2 pelo novo modelo - sem que a tal despesa (a E-P3 é estupidamente cara) corresponda qualquer melhoria sensível na qualidade da imagem. E esta é - ou devia ser - o critério n.º 1 na escolha de uma câmara. Em consequência, a E-P1 é hoje considerada obsoleta. Estou convencido que se passou o mesmo com as OM, e a verdade é que hoje as OM-1 são as mais caras e mais procuradas das OM no mercado das câmaras usadas. Este não é um fenómeno novo, a diferença está no volume de vendas. O conceito de obsolescência é, como se vê, muito relativo: neste caso é uma invenção do marketing que nos induz a consumir cada vez mais e mais cegamente.
É preciso ser muito criterioso na escolha de uma câmara - ou de outro produto qualquer. A novidade não pode ser um critério que se baste a si mesmo e justifique a aquisição de um produto. Por vezes, aquilo que nos é anunciado como the next big thing não apresenta mais que evoluções marginais em relação ao modelo precedente (como quem tem material da Apple sabe muito bem). Por vezes pode acontecer que não exista evolução nenhuma e seja tudo uma questão de adereços. Pode, até, acontecer que o novo produto seja, na verdade, pior que aquele que o antecedeu. O consumidor prudente deve ponderar muito bem a sua aquisição e resistir à tentação de se deixar influenciar pelo marketing. A E-P3 não é melhor do que a E-P1: o que tem é mais extras que, contudo, em nada contribuem para a qualidade da imagem. O mesmo se diga, por exemplo, quanto às Canon e as 550 e 600D, cujas diferenças estão na disposição de alguns botões. Ou as Nikon D3 e D4, que têm o mesmo desempenho apesar dos mais pixéis desta última.  Consumidores, abram os olhos!

I shout at times that nothing stays
Nothing lasts and damned to change
Though then I read a book, a line
Which says we sleep in blind sublime...

(Peter Murphy, Blind Sublime

1 comentário:

João disse...

Cheguei a este blog por acaso e, por acaso, encontrei este post... Entusiasmado pelas conclusões (que em muito coincidem com aquilo que penso sobre o estado actual do mercado de material fotográfico), fui visitar o site. Estava particularmente interessado em ver os resultados da pen epl1 (que tenho). Fiquei agradavelmente surpreendido com os resultados. Comprei esta máquina porque era a mais barata das Pens e vejo agora que não, de todo, das piores (resultado global de 54, contra 55 da epl1)