sábado, 14 de janeiro de 2012

João Silva

Hoje fui ver mais uma exposição ao Centro Português de Fotografia, mas não era uma exposição qualquer. Era do fotojornalista João Silva.
Este fotógrafo de nacionalidade sul-africana e portuguesa era membro do The Bang Bang Club, juntamente com Kevin Carter. A fotografia deste grupo era intervencionista: todos estavam convictos que as suas fotografias serviam um propósito, fosse denunciar a desumanidade do apartheid ou a fome no Sudão. E todos eles eram grandes fotógrafos. Em reportagem no Afeganistão, ao serviço do The New York Times, João Silva teve um acidente que o fez perder as duas pernas. Nem este infortúnio o fez perder o amor pela fotografia: munido de próteses, procurou recuperar o andar e voltou a fotografar. Porque a fotografia é assim mesmo: algo que nos faz mover para além do que julgávamos possível.
As fotografias expostas não mostravam apenas o lado intervencionista da fotografia de João Silva. O que vi no Centro Português de Fotografia foi imagens maravilhosamente compostas, mesmo quando os objectos eram tão exigentes como um disparo de bazooka. Trabalhos de composição, note-se bem, muitas vezes obtidos sob as condições mais exigentes - por vezes debaixo de fogo, outras vezes em circunstâncias em que mal se tem tempo para disparar o botão do obturador. Só um grande fotógrafo pode fazer fotografias como aquelas. Outro aspecto excelente da fotografia de João Silva é a cor. A cor é um elemento dominante nas imagens do Afeganistão que estão expostas no CPF. Cores vibrantes, magnificamente combinadas. Acima de tudo, a fotografia de João Silva é um relato visual da condição humana - daquela condição que André Malraux tão bem descreveu num dos melhores livros jamais escritos. A riqueza da forma é ultrapassada, na fotografia de João Silva, pela profundeza do conteúdo. 
Saí do CPF com vontade de voltar e rever outra e mais outra vez aquelas fotografias extraordinárias - mas também com o sentimento de revolta por aquela guerra estúpida e inútil ter limitado a carreira de um dos melhores fotógrafos do mundo. Não deixem que estas fotografias vos passem ao lado: vão ver esta exposição.

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