segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Interessante

O adjectivo «interessante» é, possivelmente, aquele que mais uso neste blog quando me refiro a fotografias. Talvez não devesse; afinal de contas, este é um conceito extremamente subjectivo. O que é interessante para mim pode não o ser para outra pessoa qualquer.
Acresce que é difícil dizer, em concreto, em que consiste o interesse em fotografia. Um tema pode ser maravilhoso, e a fotografia ser profundamente desinteressante. Contudo, penso ser possível ter em mente algumas noções que podem tornar a fotografia interessante. O leitor notará que isto é completamente casuístico, não sendo possível sistematizar o que confere interesse a uma fotografia precisamente por estarmos no domínio do subjectivo. Uma fotografia cujo motivo, enquadramento, composição ou ângulo sejam originais será sempre, em princípio, interessante, mas há pormenores que ajudam a despertar o interesse de quem a vê.
De um modo geral, a presença de objectos estranhos ou curiosos no enquadramento pode conferir interesse à fotografia. É o caso da sombra na foto acima, sem a qual estaríamos na presença de uma imagem banal. A presença de pessoas, desde que bem enquadradas, também ajuda: as pessoas resultam sempre bem em fotografia e o espectador tende a valorá-las.
Nas fotografias de paisagens, monumentos ou edifícios, deve evitar-se a tentação de ser literal e de procurar que a fotografia seja um mero documento que testemunhe literalmente aquilo que os olhos vêem. Uma fotografia tirada assim pode ter valor como ilustração, mas artisticamente o seu interesse é muito reduzido. Há pormenores que ajudam a fixar o olhar do espectador: o enquadramento, desde logo. A regra dos terços pode ser um auxiliar importante, uma vez que o espectador vai procurar o que está nos pontos de intersecção das rectas. O objecto sobre o qual pretendemos que a atenção incida deve ser colocado num desses pontos - mas, como referi no texto anterior, as regras existem para ser transgredidas, pelo que não há aqui uma obrigatoriedade: o que tem de haver é a consciência dessa regra e um intuito deliberado de a infringir com um propósito artístico. Caso contrário o observador estará apenas a contemplar uma fotografia mal tirada. O céu é também fundamental para conferir interesse a este tipo de fotografia: os céus completamente limpos são de evitar, tal como os nublados em que as nuvens são homogéneas, sem qualquer textura. Devem procurar-se nuvens carregadas e com textura, de preferência se estiverem tingidas pelo vermelho característico do nascer e pôr do sol. Isto serve dois propósitos: evitar a monotonia de um céu demasiado homogéneo e preencher melhor o enquadramento. Acresce, ainda quanto às fotografias de paisagens, monumentos e edifícios, que devem ser usadas lentes grande-angulares, uma vez que ajudam a conferir profundidade às paisagens e a sua tendência para favorecer as diagonais beneficia a fotografia de monumentos e edifícios, conferindo-lhe ângulos similares aos que os olhos vêem.
Na fotografia de natureza e em retratos, deve procurar-se destacar o motivo principal. Isto é obtido mantendo o motivo em foco e desfocando o plano de fundo. Este efeito é extremamente simples de obter, embora exija uma câmara e lente de qualidade razoável: escolhe-se o modo de prioridade à abertura (A, ou Av nas Canon e Pentax), regula-se a abertura para o máximo e, a uma distância próxima do objecto, selecciona-se o ponto de focagem sobre o motivo que se quer destacar. Obtém-se, deste modo, o efeito bokeh. Note-se que, nalgumas reflex, é possível determinar a profundidade de campo, que deverá ser superficial para obter este efeito, através de um comando próprio. Também é possível obter fotografias interessantes usando o efeito inverso, ou focando um objecto a meio da imagem.
Naturalmente, o mais importante para conferir interesse a uma fotografia é o motivo. Nenhuma das sugestões que indiquei resulta se o motivo for intrinsecamente desinteressante...

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