terça-feira, 2 de agosto de 2011

Intenção

O zénite do tédio...!
Fotografar apenas pelo gosto de fotografar não resulta. Fotografar por desfastio torna-se fastidioso e cansativo. Hoje aconteceu-me: como tinha o dia livre (estou de férias), peguei no saco e fui fotografar. Fiz-me à estrada sem nenhum programa estabelecido, parei num local que me pareceu interessante e tirei algumas fotografias. Nenhuma me satisfez. Apenas uma ou duas saíram aceitáveis.
Aceitável, nada mais...
Em contrapartida, no Domingo fui a Amarante com um propósito bem definido: queria fotografar a ponte e o mosteiro de S. Gonçalo à noite, com a iluminação artificial e os reflexos no Tâmega. Ter visto fotografias que Joel Santos tirou do mesmo local espevitou-me a vontade de fotografar aquele lugar, que considero um dos mais interessantes do nosso país - pelo menos dos que conheço -, pelo que resolvi criar a minha própria versão fotográfica daquele local.
Os resultados foram plenamente satisfatórios. As fotografias que tirei saíram exactamente como queria. Tinha planeado a viagem antecipadamente e estava preparado para ficar em Amarante até à noite; como conheço razoavelmente bem o local, não demorei muito a encontrar o melhor lugar para montar o tripé (ou pelo menos o melhor possível, porque a distância focal equivalente de 34 mm, a mínima que posso usar, obrigou a planos mais aproximados do que aqueles que queria); fiz diversas experiências com o enquadramento e a composição antes de me decidir pelo melhor local e, quando as luzes municipais finalmente acenderam, estava pronto para fotografar. Não houve grande lugar à improvisação. Experimentei a melhor abertura, a melhor velocidade de disparo, o melhor compromisso com o ISO e o equilíbrio de brancos mais apropriado.
O resultado de um bom planeamento
Quando se quer fotografar a um determinado nível criativo, tem de haver sempre uma intenção. Fotografar ao acaso não leva a lado nenhum, a não ser à desmotivação, ao cansaço e à frustração. Mesmo no estilo mais espontâneo - a fotografia de rua -, o fotógrafo deve estar preparado: deve estar bem atento a tudo o que está a acontecer à sua volta, de maneira a tomar decisões em fracções de segundo. Aquilo que parece improvisado não o é verdadeiramente: implica um trabalho de preparação psicológica que não é despiciendo e um planeamento devidamente antecipado. Para tirar fotografia de rua escolho lugares que conheço e onde sei que há sempre muita gente e cenas interessantes à espera de ser colhidas pela minha câmara. Há, deste modo, uma preparação a anteceder cada fotografia - e em todos os estilos, não apenas nas cenas de rua. Só assim se obtêm resultados satisfatórios. É necessário, numa palavra, saber o que se vai fotografar. Onde, como (a cores? A preto-e-branco? Com que lente?) e quando (de manhã muito cedo? Ao anoitecer?). E, sobretudo, porquê. (Gosto deste tipo de fotografia? Tenho algo a dizer aos que a vão ver?) Ter temas previamente definidos simplifica o trabalho de preparação.
Para além destes, há outros aspectos a ter em conta: se o céu está nublado ou limpo, por exemplo. As câmaras digitais têm extrema dificuldade em recolher imagens de céus encobertos mas com bastante luz, sendo o resultado um céu branco, pelo que esses dias são de evitar.
Estes são os elementos fundamentais da preparação de uma sessão fotográfica. Nada disto significa, porém, que o fotógrafo se deva tornar um obcecado que só tira fotografias depois de consultar a meteorologia, que tenha assinalado no calendário os dias em que quer fotografar ou saiba a posição do sol no céu para os próximos seis meses. Demasiada preparação pode tornar-se castradora por retirar o elemento de prazer da fotografia, substituindo-o por uma rotina que mais tarde ou mais cedo se tornará estéril. (A menos, claro, que se seja um profissional!)

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