Há algumas semanas atrás conversava com um amigo no jardim do Cálem, aqui no Porto, antes de irmos para o trabalho. Eram duas da tarde, o sol estava a pique e não havia uma nuvem no céu. «Esta é uma boa altura para fotografar...», sugeriu o R., conhecedor da minha predilecção por fotografia. Fiquei embaraçado: não queria ser demasiado abrupto na resposta. Expliquei-lhe que não era uma boa hora porque, estando o sol a pique, as sombras projectadas tornavam as fotografias desinteressantes - tal como o céu limpo, uma vez que as nuvens tornam o céu mais interessante. O que não lhe disse foi que a luz dessa hora impedia uma boa visibilidade do ecrã da minha câmara destituída de visor. (O VF-1 está arrumado numa gaveta; devo ter tirado quatro ou cinco fotografias com ele, não suporto tanta paralaxe!) Não quis que a conversa se tornasse demasiado técnica, porque ainda tenho sensibilidade suficiente para perceber quando a conversa corre o risco de se tornar maçadora. (Isto não se aplica aos meus blogues...)
O que lhe disse é verdade, mas tal não significa que, à semelhança de todas outras as regras, não comporte excepções. Pode acontecer que o objectivo seja precisamente o de fotografar céus muito azuis, como o que estava nessa tarde, mas a verdade é que há sempre um excesso de luminosidade que pode criar artefactos na imagem quando a luz incide directa ou obliquamente sobre a lente.
Outro problema do excesso de luminosidade é a dificuldade em obter uma exposição correcta. A tendência, quando se fotografa sob muita luz, é para a sobre-exposição. Os céus tendem a ficar brancos, ou podem surgir clarões brancos na imagem quando se fotografa contra o sol. A menos que se tenha um pára-sol - e eu não tenho -, é impossível evitar estes clarões (flares), que arruínam a fotografia por completo.
Vejam o que pode acontecer quando se fotografa contra a luz:
Eu devia ter vergonha de mostrar publicamente um falhanço destes, mas serve como ilustração do que pode acontecer quando se tenta fotografar com excesso de luz. Devo adicionar, em minha defesa, que tentei proteger a lente com a mão, e que o fotómetro anunciava 0.0, insinuando que era esta a exposição correcta.
Diria, deste modo, que, tal como para ir à praia, se deve evitar os horários em que o sol é mais agressivo, i. e. entre o meio-dia e as dezassete. Mas também são de evitar as horas que precedem este período e as que lhe sucedem, uma vez que o sol está oblíquo. Por duas razões: a primeira é, como referi, a dificuldade em atingir uma exposição correcta, bem como o risco implícito de surgirem aberrações luminosas como a que ilustrei. A outra é a sombra. As sombras oblíquas podem ter o seu encanto quando, por ex., se fotografa uma duna ou a própria sombra é pretendida como objecto da fotografia, mas criam zonas mistas de luz e sombra que em regra não resultam bem.
Restam-nos o amanhecer - que, para mim, é completamente impraticável: não posso levantar-me às seis da manhã por causa do trabalho - e o anoitecer. O anoitecer é, de longe, a melhor hora para fotografar. No Verão, a melhor altura é entre as 20h00 e as 21h30. É nessa altura que costumo tirar as minhas melhores fotografias: não há sombras indesejáveis, pelo que a distribuição da luz na imagem é homogénea; o sol, ao estar a pôr, dá ao céu uma cor fabulosa, e os objectos surgem com muito mais contraste, permitindo fotografar silhuetas escuras contra fundos (ainda) claros. E as cores não perdem vivacidade: pelo contrário, surgem menos duras e agressivas.
Depois há a fotografia à noite, a qual, por já ter escrito sobre ela, me escuso a referir aqui. Se me perguntarem qual é a minha hora preferida, porém, direi, sem hesitar, que é o fim da tarde. Não é impossível fotografar a outras horas - quando faço fotografia de rua qualquer hora serve, até porque o uso do preto-e-branco resolve muitas dificuldades de exposição e elimina a necessidade de correcção das cores -, mas se há uma boa hora para fotografar, é o anoitecer.
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