terça-feira, 23 de agosto de 2011

Retro, parte 2

Esta lente veio ter comigo directamente da Idade das Trevas da fotografia, quando a fotografia digital ainda não passava da fase experimental, a focagem automática não existia e o comando da abertura era feito na própria lente. Um mundo velho que é inteiramente novo e inexplorado para mim. Como seriam os resultados? Que poderia esperar da G.Zuiko 28mm?
Depois de algumas experiências inconclusivas em casa, pude finalmente experimentá-la num ambiente mais adequado. A primeira conclusão a que cheguei foi a de que preciso de dominar a técnica da focagem manual. A ratio de fotografias mal focadas diminuiu muito do primeiro para o segundo dia, mas ainda é demasiado elevada. O ecrã da E-P1 também não ajuda: tem pouca resolução, o que por vezes torna o resultado da focagem aleatório, e não dá o mesmo retorno que um visor. Contudo, as fotografias em que acertei com a focagem demonstraram bem as capacidades desta lente.
A G.Zuiko 28mm é uma lente capaz de produzir imagens de enorme beleza. A sua resolução é também excelente, com níveis de pormenor que levam a pôr em questão se os progressos efectuados com a fotografia digital foram realmente necessários, ou apenas uma estratégia de marketing para vender mais câmaras e lentes. Não há nada de antiquado nas imagens captadas pela 28mm: os níveis de definição são excelentes, pelo menos tão bons como os das suas irmãs concebidas para o domínio da fotografia digital. Não é a lente mais luminosa que existe, nem a mais rápida, mas noto que a forma como apreende a luz torna as cores mais naturais, embora diferentes do que vemos hoje com a fotografia digital. (Reparem que escrevi «diferentes», e não «piores» ou «melhores».) Esta não é, contudo, a lente que escolheria para fotografar de noite sem flash: dei por mim a diminuir a velocidade de disparo em dois stops para compensar a perda de luminosidade em motivos mais escuros. E, nas ampliações de fotografias mais expostas, notam-se algumas aberrações cromáticas, mas são mais benignas que as que se produzem nas fotografias tiradas com a Pancake.
Uma área em que a 28mm sobressai é no bokeh - nas imagens em que o plano de fundo surge desfocado para fazer sobressair o objecto da imagem. É desconcertantemente fácil produzir este efeito, e o anel de regulação da abertura torna tudo ainda mais simples e intuitivo.
Apesar de a Pen E-P1 não ser a câmara mais indicada para obter este efeito, é possível obter um bom bokeh com esta lente. Não, nunca será aquele fundo totalmente diluído que se obtém com as boas DSLRs, mas o resultado é imensamente satisfatório, deixando a sensação de que a câmara é o limite à obtenção de fotografias ainda melhores.
A sua performance em contra-luz também me pareceu muito interessante, não se verificando alguns dos fenómenos de manchas na imagem que são evidentes com a Pancake. Isto significa, salvo opinião mais avisada, que o vidro empregue no fabrico desta lente é de qualidade superior. Tenho agora uma lente que, apesar da idade e do preço, pertence a um escalão claramente superior ao da minha 17mm. Houve tempos em que a menção made in Japan era sinónimo de pechisbeque, mas isto não se aplica às lentes da Olympus. Hoje essa conotação inferior pertence ao made in China, e o made in Japan é um garante de qualidade. Afinal de contas, a Olympus vai fazer cem anos (em 2015) de experiência em óptica. E isso nota-se bem na 28mm! 
Quanto a defeitos, para além das aberrações cromáticas a que já me referi, parece haver também alguma «vinhetagem» - uma perda de luminosidade à medida que o olhar se desloca do centro para os cantos da imagem. Na fotografia da igreja de S. Martinho de Lordelo do Ouro pode ver-se que o céu, nos cantos superiores, é ligeiramente mais escuro que no centro da imagem. Esta é, ao que parece, uma característica das lentes grande-angulares, pelo que hesito em qualificá-lo como um problema sério.
Aparentemente, acertei em cheio na minha escolha. Tenho uma lente prime de alta qualidade por um preço ridiculamente baixo. A 28mm encaixa perfeitamente entre as lentes que já tenho, e não é só no domínio dos números: a dimensão da imagem é exactamente aquela de que necessitava para preencher o hiato. O único obstáculo que me separa da felicidade absoluta é ainda não dominar a técnica da focagem manual, mas estou certo de que vou fazê-lo. A 28mm é uma lente que me vai ensinar a fotografar; com ela vou aprender tudo o que não sei acerca da focagem, da abertura e da profundidade de campo. E vou também divertir-me mais quando fotografo: dá muito mais gozo procurar obter boas fotografias com esta lente. O desafio é muito maior.

Sem comentários: