domingo, 21 de agosto de 2011

Edição de imagem, parte 2

O título e a ilustração do texto de ontem podem ter induzido em erro, levando o leitor a pensar que iria abordar o tema do tratamento de imagens com o Photoshop. Em lugar disso depararam com mais um manifesto anti-Photoshop.
A verdade, porém, é que não tenho nada contra o processamento de imagens. Muitas das fotografias que mostro no Flickr e no Facebook são retocadas, uma vez que são muitos os casos em que a imagem produzida pela câmara não corresponde à intenção com que a capturei. Há sempre algo a corrigir ou a melhorar, e eu faço-o sem hesitações ou reservas. O que me causa a objecção que nutro em relação ao Photoshop - e ao tratamento de imagem em geral - é a virtualidade de tornar a imagem em algo completamente diferente daquilo que vi e quis capturar quando tirei a fotografia. Infelizmente, é neste sentido que muita gente tem utilizado o pós-processamento. E aqui já estamos num domínio diverso do da fotografia.
O software fornecido com as câmaras mais evoluídas contém inúmeras soluções de retoque que permitem melhorar a fotografia sem a manipular. O Olympus Viewer 2 - que é aquele que melhor conheço - deixa-me corrigir deficiências da imagem, mas não me permite suprimir ou acrescentar objectos que não foram captados pela câmara. É tudo quanto basta para as minhas necessidades e para a minha concepção de fotografia. Com o software é possível efectuar diversas correcções, que enunciarei sem, contudo, esgotar o assunto:
Curva de cores: faz tudo o que a manipulação de canais do Adobe Photoshop faz sem que se tenha de pagar um preço que só se justifica numa abordagem profissional da fotografia. O ajuste da curva de cores é, essencialmente, subtractivo: se reduzirmos uma das cores básicas, as outras duas serão realçadas. Se diminuirmos o vermelho, o azul e o verde serão mais expostos. É uma ferramenta útil para tratamento de imagens que foram digitalizadas, nomeadamente aquelas fotografias antigas a preto-e-branco nas quais predomina um tom castanho. Aumentando a intensidade do azul e reduzindo as curvas do vermelho e do verde é possível obter uma tonalidade mais neutra.
Contraste e nitidez, ajuste de tom, saturação e luminosidade: Nem todas as fotografias saem com o grau de definição que queremos. Esta é certamente uma realidade conhecida de todos os fotógrafos. Acresce que, quando se confia no ecrã para fazer a composição, as cores mostradas neste último podem não corresponder à imagem descarregada para o computador. Estes ajustes providenciam correcções que farão a fotografia corresponder melhor à intenção do fotógrafo, restituindo equilíbrio tonal, nitidez e contraste à imagem.
Unsharp mask: não há palavras que permitam descrever a utilidade desta ferramenta. Com ela pode transformar-se uma fotografia baça numa fotografia nítida, mas há que ter duas precauções. A primeira é a de apenas usar o unsharp mask em fotografias nas quais a perda de contraste e nitidez não seja demasiado acentuada. A outra, que está relacionada com a primeira, é a de não abusar do threshold (limiar). O uso do unsharp mask em fotografias com uma evidente perda de nitidez (por ex. uma fotografia sobreexposta) pode levar a uma compensação excessiva que produzirá uma imagem com uma qualidade abaixo do aceitável, com orlas artificiais em torno dos objectos e um equilíbrio de sombras que nada tem que ver com uma imagem real. O mesmo quando se abusa do unsharp mask, em especial quando se aplica demasiado threshold: não aconselho que se ultrapasse um limiar de 20 ou 25, caso contrário teremos a sensação de existirem duas imagens sobrepostas.
Corte: o corte é, possivelmente, a forma mais simples e eficaz de retocar uma imagem. Com ele podem eliminar-se objectos indesejados, redimensionar a fotografia e reordenar a composição e enquadramento. Já me referi a esta ferramenta aqui.
Correcção da distorção: como vimos nos textos sobre lentes, as grande-angulares tendem a causar uma distorção divergente, na qual as linhas junto às margens das imagens se tornam circulares (a chamada barrel distortion), enquanto as teleobjectivas produzem a distorção inversa, pela qual as linhas convergem para o centro da imagem. O software de imagem fornecido com a câmara é tudo quanto basta para corrigir estes problemas. Curiosamente, no meu caso, nem sequer necessito desta ferramenta porque a própria câmara efectua as correcções necessárias. O Olympus Viewer 2 (e, sem dúvida, os equivalentes da Canon, Nikon, Pentax e Sony) permite também corrigir a distorção de paralelograma, proceder à correcção trapezoidal e ajustar a inclinação - o que é particularmente útil nas câmaras que não têm indicador de nível, ou quando não é possível usar este último.
Redução do ruído: útil no caso de a fotografia ter mais ruído que o esperado. O ideal é, como já disse centenas de vezes, tirar fotografias com o menor ISO possível. Nas exposições longas, deve usar-se a redução do ruído da câmara. Estas advertências são importantes porque, quando se aplica a redução do ruído na pós-produção, o resultado nem sempre é satisfatório: normalmente o ruído é atenuado à custa da perda de pormenor. Nenhum trabalho de edição pode salvar uma fotografia com demasiado ruído.
Exemplo do que o Viewer 2 pode fazer por uma fotografia
O software permite também redimensionar a imagem, corrigir olhos vermelhos - o efeito mais nocivo dos flashes que não se podem orientar - ou transformar uma fotografia a cores em preto-e-branco. Há que ter em conta que uma fotografia correctamente tirada dispensa muitos destes ajustes, pelo que eles servem, antes de mais, para suprir deficiências e opções técnicas erradas do fotógrafo. O que estas ferramentas não fazem, contudo, é tornar a fotografia - ou o seu objecto - em qualquer coisa completamente diferente do que a câmara e o fotógrafo viram e captaram. Como já referi, quando se entra neste grau de manipulação, já não estamos no domínio da fotografia, mas numa arte gráfica que tem uma fotografia por objecto. Não tenho nada contra as artes gráficas, mas a manipulação da imagem é algo que ultrapassa a fotografia. Há uma fronteira entre a correcção da imagem e a sua manipulação. O que não se deve, na minha opinião, é usar a manipulação da imagem para suprir conhecimentos deficientes das técnicas fotográficas: uma má fotografia será sempre uma má fotografia, e uma fotografia intrinsecamente desinteressante será sempre desinteressante, por mais que se manipulem as camadas ou os canais RGB. Como dizem os anglo-saxónicos, you can't polish a turd. Mais vale aprender a usar bem a câmara e encontrar motivos interessantes que perder horas sentado em frente a um computador a editar a imagem.     

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