sexta-feira, 4 de maio de 2012

Compreendendo melhor a fotografia através da edição

Experimentar programas de edição de imagem tão evoluídos como o Lightroom 4 e o DxO Pro 7 tem sido divertido - embora não tanto como fotografar. E o uso de ficheiros raw, cujas possibilidades de edição são claramente maiores, tem contribuído, em conjunto com o uso daqueles programas, para me fazer compreender algumas realidades acerca da fotografia digital.
A primeira destas realidades é o efeito nocivo do ruído na qualidade de imagem. Um ficheiro raw revela todo o ruído de que uma câmara como a minha é capaz, por menor que seja o valor ISO utilizado. Os níveis de ruído, que se manifestam essencialmente - mas não em exclusivo - nas zonas de sombra, chegam a ser surpreendentes pela sua magnitude. Mesmo, repito, quando se usam os valores de sensibilidade mais baixos. Programas como o Lr4 e o Pro 7 expõem as deficiências da câmara (ou, se quisermos, do sensor) sob uma luz particularmente nua e cruel.
Não é apenas no ruído que os problemas da câmara se manifestam: é também na exposição. A Olympus E-P1, que é a única câmara sobre a qual me posso pronunciar por ser a única que tenho (ainda não perdi a esperança de um dia este blogue ser lido por distribuidores de material fotográfico que me cedam material para fazer recensões...), tem uma tendência irritante para estourar as altas luzes. É certo que posso contornar este problema usando a medição pontual para obter a exposição correcta nas altas luzes, usando posteriormente o controlo das sombras, clareando-as, na edição da imagem, mas preferia que a câmara não tivesse esta tendência. A nova E-M5 tem um botão para controlo da gama dinâmica, cuja utilidade me escapava - até descobrir estes programas de edição de imagem. Bem gostaria que a Olympus tivesse pensado nisto quando lançou a E-P1, mas, como alguém me referiu, esta câmara é uma espécie de versão Alpha para as que se lhe seguiram.
Também as deficiências das tonalidades são mostradas impiedosamente pelo Lr4 e pelo Pro 7. O azul - o famoso azul da Olympus! - tem um predomínio do ciano que torna os céus claros esverdeados e os escuros pouco naturais - algo que não é perceptível nos ficheiros JPEG, que são processados (e muito bem, diga-se) pela câmara.
Raw processado com o Viewer 2
Com o DxO Pro 7
Por outro lado, imagens que eu imaginava belíssimas e perfeitas são tudo menos isso quando as abro nos programas da Adobe e da DxO. Há algumas semanas andava pelas ruas do Porto, num domingo à tarde - em frente à minha casa há um café cujos exploradores organizam um «karaoke dançante» nas tardes de domingo, cuja música, pelo volume e pelo mau gosto execrável, me faz fugir de casa -, e, nessas deambulações, deparei-me com uma cena kitsch que atraiu a minha curiosidade: dois bonecos, aprimoradamente vestidos, expostos numa janela. Eu nunca poria aqueles bonequinhos na janela da minha casa, mas fotograficamente pareceram-me interessantes e fotografei-os. Quando cheguei a casa, a fotografia resultante entusiasmou-me pela nitidez dos pormenores, pela precisão e beleza das cores e abundância do pormenor. Ontem abri o ficheiro raw com o DxO Pro 7: o JPEG que fiz com o Viewer 2 a partir do ficheiro raw era, afinal, sub-exposto, com um nível de pormenor reduzido e cores excessivamente saturadas. Neste aspecto, posso dizer que estes programas me abriram os olhos: as fotografias que tenho feito são, em geral, demasiado sub-expostas, perdendo por esta via uma quantidade impressionante de pormenores e reduzindo a resolução. Quando abro ficheiros raw nos programas de edição - especialmente no Pro 7, mas também no Lr4 -, fico maravilhado com a claridade e a exuberância da resolução. A sub-exposição resulta bem na fotografia a preto-e-branco, mas nem por isso na fotografia a cores.
Tudo isto quanto ao desempenho do sensor. Mas os programas de edição também mostram os problemas das lentes, levando-me a concluir que a única das minhas objectivas que tem padrões de qualidade verdadeiramente elevados é a OM de 50mm. A Pancake de 17mm produz aberrações cromáticas de um nível que parece aceitável nos JPEGs, mas os raws, quando abertos com o Lr4 ou o Pro 7, mostram que estas aberrações são simplesmente horríveis. O mesmo quanto à distorção da imagem: esta lente, que me dá prazer usar pela sua versatilidade, rapidez e simplicidade, é péssima neste aspecto (tal como a OM de 28mm, diga-se). Nem a correcção da câmara evita que esta aberração surja patente nas fotografias. E a falta de resolução nos cantos da imagem, defeito que todos apontam à 17mm mas que me passou largamente despercebido durante todo este tempo, é afinal bem real. Nada, diga-se, que me vá impedir de continuar a utilizá-la, mas esta é, em definitivo, uma lente barata que não merece ostentar o nome prestigioso «Zuiko».
Os programas de edição que estou a experimentar suprem facilmente, e com resultados muito satisfatórios, estas deficiências. Não há nenhum parâmetro da exposição, tonalidade ou resolução que não possa ser melhorado na pós-produção. Ambos os programas são utilíssimos: eles ajudam-me a olhar as minhas fotografias com olhos mais imparciais e atentos, levando-me a perceber melhor os erros em que tenho incorrido nas minhas escolhas quanto à qualidade estética das fotografias. Por exemplo, agora compreendo que o contraste, de que normalmente abusava, imaginando que assim obtinha imagens mais interessantes, prejudica a nitidez e esconde a resolução da imagem. E finalmente compreendi a utilidade - inestimável, diga-se - do histograma. Os programas de edição podem, neste sentido, ajudar-me, não apenas a produzir melhores fotografias, mas também a fotografar melhor. Tal é o poder do Lr4 e do Pro 7. 

Sem comentários: