quinta-feira, 10 de maio de 2012

Os problemas da luz e da cor

É assim que a lente vê a cor da iluminação pública
No texto de ontem aludi ao facto de as lentes não captarem as cores da mesma forma que as percebemos. Isto pode parecer um truísmo - se as lentes fossem capazes de reproduzir fielmente as cores, não haveria distinções qualitativas entre elas -, mas tem implicações na qualidade da imagem. As lentes tendem a captar a totalidade do espectro cromático, o que inclui comprimentos de onda que os nossos olhos filtram naturalmente, como os infravermelhos e ultravioletas. O sensor faz a filtragem destas últimas, mas não atenua a intensidade das cores. Quando olhamos para a iluminação pública, não nos apercebemos da verdadeira intensidade da cor emitida pelas lâmpadas: aquilo que nos parece uma tonalidade amarelada é, na verdade, um cor-de-laranja bastante vivo e carregado de uma tonalidade avermelhada. Se passássemos abruptamente da claridade ou da escuridão total para esta luz, aperceber-nos-íamos deste tom, mas como as transições e a adaptação são progressivas, apenas vemos uma tonalidade amarela suave. A lente não - a lente o laranja avermelhado (*).
A fotografia digital trouxe um instrumento importante para aproximar a imagem da nossa visão: o equilíbrio dos brancos. É esta ferramenta, que pode ser configurada na câmara ou no processamento de ficheiros raw, que permite ajustar a temperatura da cor à forma como percebemos as cores.
O que escrevi quanto à cor também é aplicável à intensidade da luz. Com diferenças importantes: os nossos olhos não filtram o excesso de luz - se o fizessem, os óculos de sol nunca teriam sido inventados -, e a lente também não. Contudo, a verdade é que a câmara capta muito mais luz do que os nossos olhos, o que por vezes se repercute em erros de medição da quantidade de luz. É por este motivo que surgem os céus brancos ou as sombras demasiado escurecidas.
JPEG não processado: imagem baça, céu branco
Este problema levou a indústria fotográfica a desenvolver diversos métodos de medição da luz na imagem, que já eram empregues no domínio analógico mas cujo grau de sofisticação aumentou com a fotografia digital. Por vezes a única maneira de se obter a imagem uma imagem próxima da pretendida é usar a medição pontual, uma vez que é impossível que a câmara mantenha a totalidade das altas luzes e das sombras quando os contrastes são demasiado elevados. As câmaras reagem de maneira diferente aos erros de medição: umas tendem a sobre-expor a imagem, exagerando as altas luzes; isto pode ser visto no programa de edição de imagem, sendo representado por uma curva demasiado acentuada do lado direito do histograma; outras tendem para a sub-exposição, criando imagens demasiado escuras. Em ambos os casos, são compromissos com que se tentam atenuar as limitações da câmara.
Os programas mais evoluídos de edição de imagem procuram corrigir estes problemas, aproximando a imagem daquilo que foi visto pelo fotógrafo. Em certa medida, estes programas devolvem ao fotógrafo a intenção que este teve ao fotografar, levando a correcção da imagem a níveis de que a câmara não é capaz. Quase todas as fotografias sofrem de deficiências da imagem: a maioria delas tem uma opacidade, resultante do excesso de captação da intensidade da luz. Por vezes tentamos compensar este excesso sub-expondo a imagem, quer através do aumento da velocidade do disparo no modo M, quer usando a compensação de exposição nos modos P, A e S. O resultado disto é a ocultação dos pormenores, que ficam submergidos em zonas de sombra. Estes problemas são facilmente corrigidos por programas de edição básicos, mas as possibilidades de correcção aumentam quando se usam programas mais evoluídos e se fotografa em formato raw. Neste último as possibilidades de correcção são bastante superiores, uma vez que os ficheiros JPEG, tendo sido processados pela câmara, são objectos pré-definidos cujos parâmetros podem não ser os desejados pelo fotógrafo. Muitas vezes os resultados do processamento pela própria câmara são próximos do ideal (e a Olympus é um bom exemplo), mas o normal é que apresentem divergências sérias entre o que é captado e a percepção que temos dos objectos. No processamento de ficheiros raw através de programas evoluídos de edição é possível apercebermo-nos das limitações da câmara e das deficiências da exposição, o que torna a correcção mais fácil. Tanto o Lr4 como o Pro 7 são capazes de expor todos os problemas da imagem - os ficheiros raw mostram-nos com alguma crueldade -, pelo que a correcção é deixada ao critério do fotógrafo/editor. Foi neste sentido que referi, num texto anterior, que a edição de imagem num bom programa estende o controlo sobre o processo fotográfico à edição da imagem: as possibilidades são infinitamente superiores.
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(*) V. Michael Freeman, Mastering Digital Photography, Ilex, pp. 80-81          

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