terça-feira, 24 de abril de 2012

Lightroom 4: impressões iniciais

A maior das abominações fotográficas é o ruído. Não suporto ver uma fotografia com ruído, por mais subtil que este seja. No meu caso, tenho ultimamente fotografado a preto-e-branco e, mesmo com o ISO nos 100, surgem áreas verdes nas zonas de sombra. A fotografia perde de imediato a credibilidade.
O programa de processamento de imagem que uso, o Olympus Viewer 2, ajuda a reduzir o ruído, mas fá-lo à custa do esbatimento dos pormenores, matando a resolução da imagem. E nem por isso as áreas verdes desaparecem. Julgando que esta era uma limitação do programa, resolvi descarregar uma cópia de avaliação do Adobe Lightroom 4. O meu julgamento sobre a manipulação da imagem, a que muitos recorrem para suprir a sua evidente falta de capacidade técnica para usar uma câmara, não me impediu de fazer a experiência com um produto que faz parte da suite Photoshop. Não sou preconceituoso.
Mal instalei a cópia, que é válida por 30 dias, comecei de imediato a processar imagens. Em concreto duas fotografias feitas no formato raw. Embora o programa reconheça os ficheiros .orf da Olympus e a E-P1, não reconhece aquela que é a segunda lente mais usada com esta câmara - a Pancake 17mm. Logo aqui surge um óbice, uma vez que me ficou vedada uma função importante do Lr, que é a correcção da lente.
Trabalhar com o Lr é razoavelmente intuitivo, e a quantidade de ferramentas e opções de edição de imagem impressiona; mas o que me interessa, pessoalmente, é os resultados - o que um programa de edição pode fazer para melhorar a imagem. O resto é trabalhos gráficos, o que é de respeitar mas não é a área em que estou interessado. Depois de apenas duas fotografias tratadas, ainda sem tempo para estudar a fundo as possibilidades do programa, é porventura demasiado cedo para obter conclusões, mas posso dizer que os resultados me impressionaram favoravelmente. Com tantas opções, não podemos deixar de ficar maravilhados com as possibilidades que a fotografia digital oferece. Por exemplo, poder modificar a matiz e as sombras é interessante, mas, a menos que não tenha percebido nada, as alterações da imagem parecem-me demasiado subtis, apenas visíveis em tamanhos em que a pixelização da imagem começa a ser um problema. Em todo o caso, as possibilidades de edição são inimagináveis para quem até agora apenas tiver usado os programas do fabricante da câmara (como é o meu caso). As funções e ferramentas são interessantes, mas levantam uma dúvida - serão verdadeiramente úteis?
É aqui que surgem as minhas dúvidas. Os efeitos práticos de todas estas funcionalidades são, como referi, demasiado subtis, e não fazem nada que eu não consiga fazer com o Viewer 2: o que são é mais versáteis no seu uso. É necessário referir que trabalho com a última evolução deste programa, que acrescentou algumas funções, como o unsharp mask, que eram típicas do Photoshop e não existiam no básico Master 2, nem no Viewer 1, nem no programa que precedeu este último, o Studio 2. A imagem final depois de tratada com o Viewer e com o Lr apresenta algumas diferenças, sendo a primeira impressão favorável ao Lr, mas basta ampliar a imagem para se perceber que as diferenças não são aquilo que parecem. A imagem tratada com o Lr parece mais nítida, mas, quando se aumenta, notam-se alguns artefactos estranhos: quando se usam as ferramentas de aumento da nitidez, a imagem surge com alguns espectros que não são aparentes quando se usa o Viewer, lembrando o «fantasma» da televisão analógica que nos obrigava a levantar e rodar a antena. A redução do ruído produz estes artefactos, mas de forma ainda mais grave: o resultado é totalmente artificial, notando-se bem a natureza digital da imagem. O Viewer não consegue ir tão longe como o Lr na nitidez e na redução do ruído, mas este desempenho é, aparentemente, propositado, evitando as aberrações dos pixéis que surgem no Lr.
Ficheiro raw processado com Olympus Viewer 2
O mesmo ficheiro, «revelado» com o Lightroom 4
O resultado final da imagem tratada com o Lr é agradável, e em muitos aspectos superior ao que o modesto Viewer 2 obtém - mas só se não se for demasiado exigente com grandes tamanhos, caso em que estes fenómenos digitais se tornam demasiado conspícuos. Eu não mandaria imprimir as imagens que tratei com o Lr. Contudo, devo dizer que ainda não tenho experiência com o Lr - não ia decerto aprender um programa tão complexo num só dia -, e que é possível que tenha cometido alguns erros para obter os resultados a que me referi. Posso ter exagerado na redução do ruído e na acentuação da nitidez para além dos níveis que manteriam a imagem aceitável. Vou continuar a fazer experiências e a aprender a usá-lo, mas há desde já uma confirmação das minhas ideias quanto à manipulação da imagem: esta deve ajudar a tornar a imagem melhor, sendo acessória em relação à fotografia. Quando esta última é tomada por um mero objecto a submeter ao tratamento da imagem, algo está muito errado: já não estamos no domínio da fotografia. O meu prazer é obter boas imagens com a câmara, e não processar a imagem. Devo dizer, também, que o Lr me deixa um pouco enfastiado: não vejo qual é a necessidade de tantas ferramentas, a não ser que se seja um profissional. O Viewer é manifestamente mais limitado - digamos que não seria a minha primeira opção se eu tivesse uma gráfica -, mas tem uma enorme virtude: a simplicidade. Um professor que deixou uma marca profunda na minha maneira de raciocinar repetia-me: «as pessoas inteligentes são as que resolvem os problemas mais difíceis pelos processos mais simples». E o Lr é muito complicado - pelo menos para as minhas necessidades. 
Acresce que, como escrevi no início, o que eu queria era um software que me ajudasse a tornar o ruído visualmente aceitável. O Lr não passou no teste da redução do ruído: o resultado não é melhor, apenas diferente: enquanto o Viewer suaviza os contornos das zonas afectadas sem disfarçar o ruído, o Lr é demasiado agressivo e induz artefactos digitais. E a tonalidade verde não desaparece, o que significa, não que o Lr é mau (ou o Viewer 2, já agora), mas que o problema do ruído é insolúvel.
Repito que estas são apenas as impressões iniciais. A Adobe dá-me um mês para experimentar e formular as minhas conclusões. É possível que consiga superar as dificuldades com que me deparei e que o Lr seja o que muitos o dizem - uma forma de revelação digital das fotografias. Quando tiver mais experiência com o programa, voltarei a este tema.  

3 comentários:

Questiuncas disse...

Nunca utilizei o lightroom, do photoshop pouco percebo e utilizo-o de uma forma muito básica nas minhas fotografias.
Mas fiquei curioso com a opinião que vai ter com o uso do lightroom, fico à espera de mais conclusões.

Nuno Ferreira disse...

Caro Manuel,

Fico muito satisfeito por saber que resolveu deixar a sua teimosia de lado e experimentar o LR4. Vai ver que apesar da sua relutância, a forma como edita as suas imagens irá mudar e muito.

Há algum tempo que sigo o seu blog e leio as suas palavras e sinto sempre que ainda está preso ao "passado" e tem ideias muito fixas sobre o que deve ser a Fotografia, mas é bom ver que isso poderá mudar. Respeito, como é lógico, a sua posição.

Se acha o LR complicado de usar, nem quero imaginar o que pensa sobre o Photoshop.

Em relação ao ruído digital que encontra nos seus ficheiros, o problema poderá estar na sua Olympus E-P1 e na forma como o sensor lida com as exposições e não no software que usa. Basta comparar os ficheiros da E-P1 com a E-P3 ou com a nova OM-D5. O LR tem desde a sua versão 3, o melhor algoritmo para eliminação do ruído digital do mercado, comprovado pela maioria dos fotógrafos profissionais.

Experimente "brincar" com os sliders da Luminosidade, Detalhe e Contraste no módulo "Detalhe" até encontrar valores que sejam do seu agrado, mas sem abusar. Por vezes, trabalho fotografias que foram tiradas com ISO 5000 através da minha 5D MKII e o LR faz um trabalho fantástico a eliminar parte do ruído.

Manuel Vilar de Macedo disse...

Olá Nuno Ferreira.
É bem verdade que, quando quero, posso ser teimoso. Não direi «teimoso como uma mula», por estar certo que há mulas bastante mais sensatas e complacentes...
Fora de brincadeiras, a minha objecção quanto ao Photoshop está no seu uso para transformar a fotografia em algo que não tem qualquer verosimilhança com a realidade, mas se leu também com atenção alguns dos textos anteriores, terá reparado que entendo o uso do Ps por profissionais como algo indispensável.
Num próximo texto verá que estou a divertir-me com o Lr4. Posso ser teimoso e parecer arreigado ao passado, mas, como se costuma dizer, para melhor muda-se sempre. E tem razão quanto ao ruído: ele é produzido pela câmara e não há milagres.
Quanto à complicação, na verdade não acho que o Lr4 o seja. Como disse no texto, é até bastante intuitivo.
Cmps