Ontem decidi caminhar, actividade que tenho praticado esparsamente nos últimos tempos. Fui de casa até Miragaia, porque queria fazer fotografia de rua nas arcadas de Miragaia, depois subi até à Praça da República e fui à Rua de Santa Catarina, passando pela Rua dos Mártires da Liberdade. (As fotografias das arcadas não ficaram grande coisa, mas o leitor pode avaliá-las no meu Flickr.) Uma caminhada em que devo ter completado dez quilómetros.
Descobri que na Rua dos Mártires da Liberdade, por onde cortei caminho para chegar até à Praça da República (tinha de resolver um assunto profissional na Rua de Santa Catarina, no quarteirão entre as ruas Gonçalo Cristóvão e Guedes de Azevedo), há duas lojas de material fotográfico: uma, Câmaras & Companhia, comercializa material fotográfico antigo e novo; a outra, Máquinas de Outros Tempos, especializa-se, como o nome sugere, em material usado. Na primeira dessas lojas pude ver ao vivo, pela primeira vez, a famosa antecessora da minha câmara, a Olympus Pen F. Na outra andei à procura de lentes usadas, mas infelizmente não encontrei nenhuma que satisfizesse as minhas necessidades: experimentei uma Pentax fisheye, mas a distância focal equivalente, quando montada na E-P1, é de 34mm, o que impede a distorção característica das fisheye ao endireitar as linhas.
As visitas a estas lojas induziram-me mais respeito pelo passado. Embora a minha escolha seja a fotografia digital, não deixo de sentir o maior respeito por quem opta pela fotografia analógica. Não me sinto tentado a comprar uma câmara analógica - que seria sempre uma Olympus OM, pela razão simples de já ter três objectivas desse sistema - por duas razões: a primeira, de ordem bastante comezinha, é a despesa e as limitações do formato: os rolos não são tão baratos como isso, o número de fotografias que poderia fazer seria limitado (o que decerto me obrigaria a fotografar melhor) e, a estes problemas, acresceria a despesa com a revelação e a espera pelas fotografias.
De resto, demoraria certamente muito tempo a obter resultados satisfatórios. Fotografar com filme obriga a ter um conhecimento preciso da lei da reciprocidade e a saber jogar com a abertura e o tempo de exposição para obter exposições correctas - embora seja certo que as câmaras analógicas mais recentes têm um fotómetro, que indica a exposição correcta. Neste aspecto a fotografia digital é muito mais cómoda e prática: vejo os resultados imediatamente e, se quiser, posso consultar o histograma para saber se a fotografia está correctamente exposta.
Nada disto significa, como disse, que não respeite quem se dedica à fotografia analógica. O material antigo não é necessariamente sucata: as câmaras analógicas duram muito mais do que as digitais, são geralmente mais bem construídas e têm um apelo estético superior (só as Olympus Pen E-P3 e OM-D, as Leica M e as Fuji X100 e X-Pro 1 constituem, actualmente, excepções a esta regra: a E-P1 já não se fabrica há dois anos...). E uma lente antiga, quando em bom estado, pode ser usada com bons resultados cinquenta anos depois de ter sido fabricada. Aliás, as lentes usadas, salvo em alguns aspectos em que são incompatíveis com o domínio digital, são uma excelente opção para quem não pode ou não quer gastar fortunas com objectivas novas, desde que se supere o receio de focar manualmente.
O facto de estas lojas existirem levou-me a especular se não haverá um revivalismo em tudo semelhante ao que existe na indústria discográfica, com o ressurgimento do vinil. Se o houver, parece-me natural, e interpreto-o como uma reacção à ditadura digital em que vivemos, na qual o material fotográfico é cada vez mais temporário e ficou reduzido a uma condição de bens perecíveis. Muitos preferem a segurança de ter bens duradouros, que podem estimar, em lugar de bens que estão destinados a durar alguns anos. De resto, ainda não dou por adquirido que a fotografia digital seja melhor: é certamente mais prática e cómoda, mas tal não significa, necessariamente, mais qualidade. Tal como o som de um CD, por mais upsampling que seja usado, permanece abaixo do que se consegue obter com um bom vinil tocado num gira-discos decente. Há pessoas que preferem a qualidade, em lugar de se deixarem prender nas malhas do consumismo que caracteriza, cada vez mais, os tempos que vivemos. E esta atitude, porque em parte a partilho, merece-me o maior respeito.
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