No tempo da fotografia analógica, uma fotografia com altas luzes proeminentes era uma fotografia mal feita, em que o fotógrafo não teve habilidade para controlar a exposição; hoje, com a fotografia digital, a maior parte das câmaras tende a sobre-expor as altas luzes - umas mais que as outras, diga-se: a minha E-P1, por exemplo, é terrível neste particular, produzindo clipping sempre que fotografo em condições de céu limpo e sol intenso. (Clipping é um termo que se aplica em fotografia quando uma curva do histograma excede o limite superior.)
O excesso das altas luzes tem efeitos prejudiciais sobre as fotografias. Embora possa ser usado com intenção, quando se quer transmitir a percepção de uma luz intensa e ofuscante, este excesso de sobre-exposição da luz torna a imagem baça e plana, dessatura as cores, favorece o surgimento de clarões e oculta o pormenor. E, quando o clipping ultrapassa o limite (dizendo-se, neste caso, que as altas luzes estão estouradas), esse pormenor perde-se irreversivelmente, apenas ficando uma porção branca na imagem que faz desaparecer todos os objectos que estavam nessa área do enquadramento. Não há edição que valha a uma fotografia em que parte da imagem ficou estourada.
Exemplo de histograma com excesso (clipping) de altas luzes |
Como este é um problema de sensibilidade do sensor, cuja resposta linear tende a produzir sobre-exposição, são poucos os recursos que permitem evitar por completo o excesso de altas luzes. Usar um para-sol é uma boa ideia, mas este só é eficaz quando a luz intensa incide obliquamente sobre a lente. Os principais cuidados a ter, quando se fotografa sob sol intenso, para evitar o estouro das altas luzes, são recorrer à compensação da exposição, atenuando esta última entre -0,3 e -0,7 EV. Quando se fotografa no modo manual, em que não é possível accionar a compensação da exposição, deve-se optar por aumentar a velocidade do obturador na mesma proporção, mantendo a imagem sub-exposta. (Deve-se jogar com a velocidade do disparo, e não com a abertura, uma vez que estreitar esta última pode causar difracção e aumenta a profundidade de campo.) É mais fácil corrigir uma imagem sub-exposta do que uma com excesso de altas luzes, e deste modo evita-se que partes da fotografia fiquem estouradas. Deve notar-se, contudo, que mesmo com esta precaução poderá haver uma tendência para estourar as altas luzes.
Outra possibilidade é jogar com o controlo da medição, medindo a exposição na área mais luminosa do enquadramento através da medição pontual ou usando a função AE-L, mas esta forma de proceder tem o inconveniente de favorecer as sombras. De qualquer modo, como é mais fácil recuperar sombras do que altas luzes, esta é uma técnica que evita eficazmente o clipping.
Os programas mais eficazes de edição de imagem também podem contribuir para resolver o excesso de altas luzes, mas não convém deixar de tomar as precauções referidas acima por se confiar que aqueles programas vão recuperar o pormenor escondido sob as altas luzes. Até porque, como já referi, se estas últimas estourarem, a informação ocultada perde-se irreversivelmente. Contudo, o Adobe Lightroom e o DxO Pro 7 são tremendamente eficazes no tratamento de casos em que as altas luzes não chegaram ao ponto de estourar. O Lightroom é mais intuitivo, bastando deslocar um botão (slider) na horizontal para obter resultados altamente satisfatórios; o Pro 7 implica seleccionar uma de três opções (prioridade às altas luzes ligeira, média e forte) no menu de compensação da exposição, embora nos casos mais graves seja necessário compensar ainda mais a exposição, o que se faz de forma manual num slider. Em ambos os programas as áreas afectadas pelas altas luzes são mostradas através de cores falsas, o que torna a correcção mais fácil do que se se tivesse de confiar apenas no histograma. Contudo, como disse atrás, o facto de estes programas serem tão bons no tratamento das altas luzes não dispensa que se tomem precauções antes de premir o botão de disparo, porque os efeitos da sobre-exposição podem ser irreversíveis.
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