quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Obter nitidez na focagem

Hoje reparei, ao consultar o Statcounter com que equipei este blogue, que há muita gente a procurar os meus textos através do Google à procura de indicações práticas, como qual é a melhor hora para fotografar ou como manter a focagem nítida. Isto significa que já não posso olhar este blogue como um veículo do meu diletantismo, uma vez que tenho a responsabilidade de dar indicações correctas a quem o consulta. Tenho o dever, para quem veio ter a esta página em busca de conhecimento, de fornecer informações precisas, que não induzam em erro. Apesar de haver áreas francamente subjectivas, dependentes do gosto de cada um, há aspectos que são suficientemente objectivos. A nitidez da focagem é uma delas.
Quando o tema é a focagem, há que dizer, antes de mais, que esta depende da abertura e da profundidade de campo. Já me referi a isto por diversas vezes, designadamente aqui e aqui. Por outro lado, embora o normal seja querer fotografias nítidas em toda a extensão da imagem, isto nem sempre é possível ou desejável. É relativamente fácil obter uma focagem homogeneamente nítida ao longo de toda a imagem com lentes de distância focal reduzida, como as grande-angulares, porque a sua profundidade de campo (*) é relativamente extensa. Como a profundidade de campo se reduz à medida que aumenta a distância focal, nas teleobjectivas é mais difícil manter uma focagem homogénea. Isto é algo que tem de se aceitar como uma inevitabilidade: as lentes com mais de 80mm não são concebidas para manter uma nitidez constante ao longo da imagem. Estas lentes servem, acima de tudo, para comprimir perspectivas, de maneira a fotografar objectos distantes, e não para obter uma visão panorâmica (como as grande-angulares). Isto implica um compromisso em termos de concepção óptica, com o resultado de a focagem se concentrar num determinado ponto e deixar tudo o resto desfocado.
Exemplo de compressão da perspectiva: a estátua e o edifício por trás parecem estar quase no mesmo plano, quando na realidade distam mais de 300 metros um do outro. A teleobjectiva diminui a percepção de profundidade.
E o que se entende por «comprimir perspectivas»? As teleobjectivas diminuem as dimensões de largura e profundidade; como se destinam a obter grandes planos de motivos longínquos, o seu ângulo de visão é diminuto - e tanto menor quanto maior a distância focal -, pelo que a largura da imagem obtida é bastante reduzida. Por outro lado, a noção de profundidade dada pela dimensão de uns objectos relativamente a outros é consideravelmente menor que nas grandes-angulares.
Como referi, esta é uma questão de concepção das lentes; como a teleobjectiva é concebida para ir buscar objectos distantes, é um compromisso aceitável que ela não foque o espaço entre a câmara e o motivo, nem o que está para lá deste último, assim obtendo o máximo de nitidez no plano em que a focagem incide.  
Há, contudo, uma maneira de manter a nitidez da imagem entre o plano mais próximo e o mais afastado; simplesmente, esta técnica implica compromissos que o fotógrafo pode ou não considerar aceitáveis. A maneira de conservar a nitidez em toda a extensão da imagem com uma teleobjectiva é reduzir a abertura para próximo do valor mínimo. Simplesmente, a redução da abertura diminui a quantidade de luz que atinge o sensor, pelo que a maneira de compensar esta menor exposição é diminuir a velocidade do disparo. E nós já temos obrigação de saber que o resultado de velocidades de disparo lentas é fotografias tremidas. (E não há estabilização de imagem que lhes valha!) Com efeito, as teleobjectivas são concebidas para trabalhar com valores de abertura elevados, uma vez que, pela sua própria concepção, são lentas: as suas aberturas mínimas começam, regra geral, em f4 (**). Há também a possibilidade de aumentar o ISO, mas já sabemos que há um preço a pagar na quantidade de ruído presente na imagem. Tudo isto significa que é impossível obter uma nitidez homogénea com uma teleobjectiva sem recurso a um tripé, ou pelo menos a um suporte estável (como quando vemos fotógrafos com as suas enormes teleobjectivas pousadas sobre o próprio saco do equipamento).
Imagem a 100mm de distância focal. Foi necessário regular a abertura para f11 para manter a nitidez em todos
os planos Note-se a escassa largura da imagem, consequência de um ângulo de visão reduzido.
Contudo, nem tudo é mau quando se trata de fotografar com lentes de profundidade de campo reduzida, como as teleobjectivas: estas são as melhores lentes para a focagem selectiva, em que apenas uma parte da fotografia surge em foco. Por vezes é mais importante conhecer e dominar esta técnica do que tentar obter uma nitidez homogénea ao longo da imagem.
Na fotografia como em qualquer outro aspecto da vida, não se pode ter tudo: não podemos tirar fotografias com um ângulo de visão amplo com uma teleobjectiva, nem captar motivos distantes com uma grande-angular. Nenhuma lente  - nem as zoom - pode fazer tudo bem. As lentes para fotografia são o resultado de uma evolução que conduziu a uma cada vez maior especialização, havendo lentes específicas para ângulos abertos e outras para grandes distâncias. Por outro lado, há limites impostos pelas próprias leis da óptica: se focarmos o olhar num ponto distante, tendemos a perder a percepção de tudo o que está em volta (mesmo que não nos apercebamos). Por que haviam as lentes de ter um desempenho melhor que os nossos olhos? Do mesmo modo, é impossível escapar ao facto de que o ângulo de visão das lentes é tanto menor quanto maior a distância focal, e que a profundidade de campo varia na proporção inversa da distância focal. Uma solução para evitar a frustração é encarar estas realidades como factos da vida e usar cada lente - ou, no caso das zoom, cada distância focal - de acordo com o que pretendemos, estando preparados para aceitar os respectivos compromissos. Como disse, não se pode ter tudo - tal como não podemos querer que um automóvel desportivo tenha o conforto de uma limusina, ou que esta curve com a precisão de um carro de competição. Mas podemos escolher os melhores compromissos.
________________________
(*) A profundidade de campo é a distância ao longo da qual a imagem se mantém nítida.
(**) Há teleobjectivas com aberturas amplas - da ordem dos f2.0 ou f2.8 -, mas são extremamente caras e volumosas.

Sem comentários: