sábado, 8 de outubro de 2011

O Bokeh

Por vezes é importante isolar o objecto fotografado do plano de fundo. Deste modo podemos concentrar-nos no motivo da fotografia sem que outros objectos compitam pela atenção do olhar. Para o fazer, o ideal é concentrar a focagem no objecto, deixando que o fundo surja desfocado. Esta técnica, denominada bokeh, não serve apenas o propósito utilitário de destacar o motivo na imagem; é também um instrumento criativo capaz de produzir imagens de enorme beleza. Com efeito, é mesmo a única forma de conferir criatividade àquilo que, de outro modo, seria uma imagem meramente documental.
Tecnicamente, não existe qualquer dificuldade na obtenção deste efeito. É uma questão de escolher a distância adequada - o bokeh é usado, essencialmente, em close-ups - e a abertura indicada. Tudo o que é necessário é afastar ou aproximar a câmara do objecto até que este surja perfeitamente nítido e o fundo esbatido e seleccionar o ponto de focagem no objecto que se pretende manter em foco. 
Tecnicamente, os requisitos são uma lente com uma distância focal elevada - pode ser uma teleobjectiva ou uma prime, mas não uma grande-angular -, uma vez que a profundidade de campo varia na proporção inversa da distância focal. Diria que os melhores efeitos se obtêm a partir de 50-100mm, sendo certo que esta distância se afere, não pelo valor indicado na lente, mas pela equivalência desta na câmara a usar: numa câmara como a minha, do formato micro quatro terços, a distância focal da lente é multiplicada por 2: uma lente de 50mm equivale a 100mm. Numa reflex com sensor APS-C, a equivalência é de xX1,58, pelo que a mesma lente de 50mm equivale a 79mm.
Este efeito, por depender largamente da abertura, é obtido, quer no modo de exposição A, quer no M (este último obriga a regular a velocidade do disparo). A abertura deve ser a maior possível, mas não tão grande que torne a imagem sobreexposta, o que a deixaria plana e indefinida. Aberturas entre f2 e f4 dão os melhores resultados, com a vantagem de se poder usar velocidades de disparo elevadas.
Não é apenas com flores que o bokeh resulta: este efeito pode ser empregue com qualquer objecto, mas há um género de fotografia em que é especialmente interessante: o retrato. Aqui é essencial que o olhar se concentre no rosto, sem quaisquer elementos que desviem a atenção. Contudo, o fundo pode ser importante para conferir um contexto ao retrato - como na imagem acima, na qual o fundo informa acerca da luminosidade intensa da manhã. O que o fundo não pode é competir com o motivo principal, disputando a atenção do olhar.
Um último parágrafo para referir que o close-up, ou grande plano, não se confunde com o macro: este último é um modo de ampliação de um motivo para além da dimensão que o olhar permite. O macro exige lentes específicas, não sendo possível obtê-lo com lentes convencionais. Algumas câmaras incluem, no selector de modos de exposição ou num menu, um comando macro, geralmente assinalado por uma flor, mas os resultados não são os mesmos que aquilo que se pode obter com uma lente macro. Acresce que este modo não é o indicado para close-ups e retratos: a única maneira de obter um bom bokeh é a que indiquei: escolher uma abertura ampla e aproximarmo-nos do objecto escolhido até que o motivo fique em foco e o fundo esbatido.

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