quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Que se passa com a Olympus? (actualização)

A desvalorização das acções da Olympus Corp. já vai em 40%. Desde Sexta-feira, data do despedimento de Michael C. Woodford, que o valor não pára de cair. Não sei o que pode acontecer se isto continuar; o mais provável é que as acções vão parar às mãos de especuladores sem escrúpulos e que a Olympus acabe nas mãos de um grupo económico que não nutra qualquer respeito pela história da marca. O capitalismo é isto mesmo: a única coisa sagrada é o dinheiro. 
Não é apenas pela probabilidade forte de desaparecer uma das marcas de material fotográfico mais estimadas em todo o mundo que a notícia tem corrido desta maneira, a ponto de encher páginas no Financial Times e no Bloomberg. De acordo com os analistas, este escândalo está a abalar a credibilidade das corporações japonesas, que já tinham a reputação de opacas e fechadas. Mais ainda, é a própria reputação do Japão que sai prejudicada.
Eu não sei quem tem razão. Continuo a não saber, e provavelmente só daqui a muitos anos se saberá a verdade sobre o que está a acontecer. O que é seguro, no momento em que escrevo, é o seguinte (*):
a) A Olympus Corp. pagou 36% do valor do negócio a duas empresas de consultoria - uma delas com sede nas Ilhas Caimão, que desapareceu logo de seguida - antes da aquisição da Gyrus;
b) A Olympus Corp. adquiriu três pequenas empresas - uma delas fabrica recipientes do género dos Tupperware! - por 773.000.000 USD, que sofreram uma desvalorização (impairment charge) de 586.000.000 USD logo após o último pagamento. Estas empresas são inúteis para as actividades da Olympus;
c) Três dias antes de ser despedido, Michael C. Woodford escrevera uma carta ao actual presidente executivo, Tsuyoshi Kikukawa, na qual expunha estes negócios e exigia a destituição de Kikukawa e de um vice-presidente do conselho de administração de apelido Mori;
d) Kikukawa-san mentiu quanto aos honorários pagos às consultoras aquando do negócio da Gyrus, tendo admitido o pagamento de apenas cerca de metade do valor realmente pago.
Certamente mais factos vão ser descobertos, especialmente se o Serious Fraud Office descobrir movimentações ilícitas de dinheiro. Para mim tudo isto é um choque: não que imaginasse que os executivos da Olympus fossem amantes da fotografia que se dedicassem ao negócio para dar a possibilidade aos fotógrafos de adquirir excelente material, mas por mais esta prova da enorme desonestidade e corrupção que existe nos meios financeiros - sejam eles norte-americanos, portugueses ou japoneses. O mundo atingiu um grau de amoralidade tal na prossecução do lucro que já não subsiste qualquer espécie de ética ou escrúpulo na mente de certos administradores.
Outro pensamento chocante é a possibilidade de a Olympus, uma das marcas de equipamento fotográfico com maior factor de estima junto dos seus consumidores, poder estar a despoletar uma crise financeira de consequências imprevisíveis. Não é bem aquele lugar-comum do bater de asas da borboleta na China - é mais o disparo de um obturador no Japão que pode provocar uma catástrofe financeira no mundo todo. Como se o mundo precisasse de mais uma crise financeira!
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(*) Fonte: Financial Times

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