Sou um incondicional da fotografia a preto e branco. Sempre que faço fotografia de rua, faço-o a preto e branco - e, mesmo quando não fotografo na rua, há sempre motivos que resultam melhor a preto e branco que a cores.
Com efeito, o preto e branco tem atributos que, em determinadas circunstâncias, servem melhor a fotografia artística que a cor. Desde logo, porque quando se fotografa a cores, estas tornam-se no elemento visual preponderante da imagem; ora, quando o elemento cor é eliminado, a atenção crítica concentra-se nas formas, texturas, tonalidades e contrastes. O preto e branco tem o potencial de gerar fotografias que apelam mais ao intelecto que aos sentidos, favorecendo uma fotografia mais conceitual - ao passo que a fotografia a cores se dirige a uma percepção mais imediata.
Há, contudo, um pressuposto que me parece essencial referir: hoje é muito fácil fotografar a cores e converter a imagem em preto e branco na pós-produção. Há até quem faça esta conversão por não ter ficado satisfeito com a cor da imagem. Isto é um erro. A fotografia deve ser pensada a preto e branco antes de se premir o botão de disparo. Nem todas as fotografias têm condições para resultar bem a preto e branco: a título de exemplo, as fotografias de paisagens, bem como as de motivos da natureza, nas quais a cor é um elemento essencial, raramente são interessantes quando tiradas (ou convertidas) em preto e branco. A fotografia a preto e branco exige contrastes acentuados, texturas nítidas e linhas fortes.
Uma vez que a fotografia deve ser pensada a preto e branco desde o início, penso que o ideal é seleccionar o modo preto e branco na própria câmara antes de fotografar - o que implica, naturalmente, planear a sessão fotográfica para que se use apenas o preto e branco. Isto é preferível à conversão na pós-produção, uma vez que predispõe e prepara o cérebro para fotografar motivos que resultam melhor em preto e branco (claro que há sempre a opção de reverter para a configuração a cores se surgir um motivo em que a cor seja um elemento fundamental).
O fotógrafo deve resistir à tentação de rejeitar o preto e branco por ser um modo de fotografia anacrónico. Esta ideia é falsa. A fotografia a preto e branco é tão válida hoje como antes do advento do Kodachrome, e é usada por milhares de fotógrafos. Acima de tudo, o preto e branco ajuda a conferir mais expressão à fotografia, ao revelar aspectos da imagem que a cor dissimula e favorecendo linhas que, na fotografia a cores, se tornariam secundárias. Está para a fotografia como o desenho a carvão para as artes plásticas: revela a forma, as sombras e os contrastes de uma forma que é impossível reproduzir quando se usa a cor.
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