quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Pensar

Agora que já temos uma boa câmara, uma ou mais boas lentes e noções de composição e enquadramento, já temos condições para fazer grandes fotos. Ou não.
Fotografar exige um trabalho cerebral intensivo. Não basta olhar para uma pessoa ou objecto e tirar uma fotografia. Há que pensar, antes de mais, na composição: o que queremos que surja na imagem? E há que pensar, de imediato, no enquadramento: como queremos que aquilo que escolhemos surja na imagem? Algumas escolhas terão de ser feitas: vamos enquadrar apenas o motivo principal, ou outros? Vamos esbater o fundo para destacar o sujeito, ou manter tudo nítido? E onde vai o motivo surgir na imagem: ao centro? À esquerda? Em cima?
E, antes de tudo o mais, há que fazer um planeamento: onde vou tirar fotografias? A quê? A que horas? E, se for ao escurecer, devo ou não levar o tripé? E que lentes levo?
Depois há as opções técnicas. Ao contrário do que acontece com as compactas, com uma câmara séria não basta apontar e disparar: é necessário escolher a distância focal mais apropriada - o que tem consequências não apenas no tamanho relativo dos motivos, mas também na focagem - e as configurações da exposição mais apropriadas. Não há duas condições de luz iguais, e às vezes basta deslocarmo-nos alguns centímetros para que a exposição mude drasticamente. O que obriga a ser criterioso na escolha dos três valores que determinam a exposição: a abertura, a velocidade e a sensibilidade.
Mesmo com a exposição ideal - que é a que queremos, o que nem sempre coincide com a que o fotómetro indica -, há que ter em atenção outras configurações: a medição de luz, se houver na imagem disparidades muito grandes de luminosidade (pode-se determinar que a câmara meça a luz apenas numa área ou ponto), e o equilíbrio dos brancos. Esta função, que nasceu na era digital, ajuda a encontrar a temperatura da cor ideal para cada exposição. Normalmente, a selecção automática funciona bem, mas nem sempre: se, por ex., tirarmos fotografias de noite a motivos iluminados artificialmente, é natural que a câmara compense a falta de luz natural com valores de abertura maiores, o que deixa os motivos iluminados artificialmente sobreexpostos e satura excessivamente a temperatura da cor. Nestas condições, importa escolher bem qual a temperatura da cor indicada.
E, já depois de tirada a fotografia e descarregada para o computador, há um trabalho de edição que pode obrigar a novas escolhas: Será necessário cortar porções supérfluas da imagem, ou recortá-la para melhorar o enquadramento? Estamos satisfeitos com a tonalidade, o contraste, a nitidez e a definição? Podemos reduzir o ruído e corrigir uma eventual distorção causada pela lente? Tudo isto pode ser melhorado - desde que não estejamos a criar uma fotografia nova, adicionando o que não estava na imagem e adulterando o que os nossos olhos viram e entendemos ser merecedor de ser fotografado.
Não é minha intenção dizer que a fotografia é uma coisa complicadíssima, com laivos de esoterismo. Não é. Uma vez compreendida a exposição e dominada a técnica, tudo surge de uma maneira intuitiva e simples. A experiência tem um papel essencial nesta aprendizagem, pelo que nada substitui o tirar muitas fotografias até ficarmos satisfeitos com os resultados.

Entretanto...
Hoje este blogue atingiu 1000 visualizações. Obrigado a todos os leitores: isto constitui um enorme estímulo, e demonstra que o que escrevo não é em vão. Oxalá tenham tanto gosto nestas leituras como o que tenho ao escrever!

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