É muito raro ver uma empresa de fotografia ser notícia e, quando tal acontece, raramente é pelos produtos que lança. Na Sexta-feira, 14 de Outubro, Michael C. Woodford, CEO (presidente executivo) da Olympus Corporation - o primeiro não japonês a desempenhar essas funções - foi despedido. Os membros do Conselho de Administração deliberaram destituí-lo sem sequer o ouvir. Disseram-lhe para apanhar um autocarro para o aeroporto, segundo o próprio. Para o seu lugar foi designado Tsuyoshi Kikukawa, que acumulará o cargo com o de presidente do conselho de administração.
A história por trás do despedimento de Woodford é confusa e de contornos obscuros. Aparentemente, Michael C. Woodford escrevera uma carta a Kikukawa na qual denunciava algumas aquisições potencialmente ruinosas e totalmente desnecessárias, o que terá feito o conselho de administração reagir despedindo Woodford. Contudo, o conselho de administração publicou uma nota invocando um conflito de culturas entre Woodford e o conselho, sugerindo que os seus métodos eram incompatíveis com a política da empresa. A verdade é que, nos oito meses em que Michael C. Woodford exerceu o cargo, os resultados líquidos da Olympus Europa GmbH se tornaram positivos, mas alguns especularam que a referência à diferença de culturas significava que Woodford se preparava para enveredar por uma política, tipicamente ocidental, de downsizing e despedimentos colectivos, à qual os membros do conselho de administração - todos eles japoneses - se opunham. Esta tese não tem fundamento em qualquer publicação ou declaração entretanto patenteada, embora seja plausível: afinal de contas, a Olympus alienara, ainda há pouco tempo - embora antes de Michael C. Woodford ter tomado o cargo de CEO - o importante negócio de imagiologia clínica.
Michael C. Woodford |
Não sei quem diz a verdade, uma vez que ambas as versões são plausíveis. Sei que as acções da Olympus Co. desceram 24% entre Sexta-feira e hoje, e que o escândalo tem recebido mais atenções na imprensa mundial do que o lançamento das novas PEN. O que significa que anda nas bocas do mundo pelos piores motivos possíveis, e isto não costuma ser prenúncio de coisas boas. Espero que esta história seja tirada a limpo: assim como as diferentes versões de Woodford e do conselho de administração parecem plausíveis (embora antagónicas), também não me custa admitir que Michael Woodford tenha resolvido vingar-se do despedimento através do lançamento de suspeitas infundadas (o que patentearia baixeza de carácter), tal como não me parece impossível aceitar que os membros do conselho de administração tenham despedido Michael C. Woodford por ter exposto negócios escuros (o que significaria que o conselho de administração pode ser um gang de delinquentes, quem sabe uma espécie de yakuza). Simplesmente, esta última hipótese seria demonstrativa de estupidez, uma vez que seria mais que previsível que Woodford denunciasse o que sabia quando fosse despedido.
Francamente, não sei que pensar. Sei que a Olympus tem cometido inúmeros erros ao longo da sua história, e as aquisições desastrosas seriam apenas mais um acréscimo ao rol. Espero que isto não afecte a continuidade da subsidiária Olympus Imaging Corporation, porque seria uma pena que os erros dos administradores levassem ao fim de uma marca com quase cem anos. Seria também lamentável que a Olympus terminasse envolta em tamanha sordidez.
Mais sobre o olympusgate aqui:
http://video.ft.com/v/1223228352001/Ex-Olympus-boss-alerts-UK-authoritieshttp://www.bloomberg.com/quote/7733:JP
http://www.agenciafinanceira.iol.pt/mercados/olympus-accoes-bolsa-toquio-asia-mercado-accionista/1289881-1727.html
http://www.nytimes.com/2011/10/15/business/global/in-rare-move-olympus-fires-its-chief.html
http://graphics8.nytimes.com/packages/pdf/business/20111018/letter-text.pdf
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