quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Que se passa com a Olympus? (Continuação)

Naquela altura era tudo sorrisos...
O folhetim Olympus Corporation promete desenvolver-se. Agora descobriu-se que a companhia pagou qualquer coisa como quinhentos milhões de euros em honorários a consultores antes da aquisição da Gyrus ACMI, empresa britânica que agora pertence ao grupo Olympus. Esta quantia é cerca do dobro do que o actual presidente executivo, Kikukawa-san, admitiu apenas há alguns dias. Tudo leva a crer, deste modo, que Michael C. Woodford tinha razão ao advertir o conselho de administração e pedir a exoneração de Kikukawa e de outro vice-presidente, e parece agora plausível que Woodford tenha sido afastado por saber demais. O conselho de administração invoca, para consubstanciar os conflitos culturais a que aludira, o facto de Michael Woodford ter o hábito de tomar decisões sem ouvir o conselho de administração e de comunicar directamente com os empregados, ignorando a cadeia hierárquica. Ainda bem que o fazia, pois de outro modo seria impossível tomar decisões.
Por outro lado, o modo como Woodford foi tratado depois do afastamento foi humilhante: minutos depois da deliberação de despedi-lo, informaram-no que já não tinha direito a automóvel da empresa, pelo que deveria tomar um autocarro para o aeroporto, obrigaram-no a entregar o apartamento e exigiram-lhe o cartão de crédito. Aviltante. Não sabia que a mentalidade empresarial japonesa era assim. Corrijo: espero que este tipo de atitude não seja característico das empresas japonesas.
Entretanto, Michael C. Woodford entregou os elementos que tinha em seu poder ao Serious Fraud Office, no Reino Unido, para que as transacções da Olympus fossem investigadas. Este expediente é de eficácia duvidosa, uma vez que me parece improvável que o SFO tenha poderes de acção contra os membros do conselho de administração da Olympus Corporation, cuja sede é em Tóquio, mas sempre poderemos ficar a saber melhor o que se está a passar.
Diante de tudo isto, quase sinto vergonha de ter uma Olympus. Pensar que parte do que gastei com material fotográfico da marca pode ter sido usado em negócios escuros! Claro que os cérebros que conceberam a E-P1 não têm culpa nenhuma, e, na verdade, a Olympus Imaging Corporation pesa apenas 16% no volume de negócios da Olympus Corporation - mas, mesmo assim, custa-me ver este escândalo a acontecer. Até à semana passada, esperava que a Olympus não vendesse a divisão de imagem; agora parece-me que essa venda era o melhor que podia acontecer à marca Olympus.

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