sábado, 2 de julho de 2011

Olympus PEN E-P1: clássico ou falhanço?

Escrevo isto um dia depois de ter sido apresentada a nova Pen E-P3. É possível que, com a continuidade da família E-P, a minha câmara se torne num clássico da fotografia, como o foram a OM-1 ou a Trip 35. É possível que a substituição da Pen E-P1 pela E-P2 ao fim de apenas cinco meses, e o lançamento da E-P3 depois de um ano e meio de produção da E-P2, signifiquem que a E-P1 foi um fracasso. Ambas as proposições são plausíveis. O formato Micro Quatro Terços parece ter vindo para ficar, o que pode conferir à E-P1 o estatuto de futuro clássico - por ter sido a primeira -, mas parece-me que o mais provável é que tenha sido um falhanço.
É preciso ser justo e começar por dizer que a Olympus Pen E-P1 é uma câmara extremamente capaz em termos de qualidade de imagem, rivalizando, mediante determinadas condições, com câmaras como a Canon 1000D. Esteticamente é a câmara mais bonita que a Olympus já fez, e o seu design só é superado pelo da FujiFilm X100 e pelas Leicas M8 e M9. Por vezes ainda me acontece ficar a olhá-la embevecido, admirando a coerência do design, a harmonia das linhas e a perfeição dos acabamentos. É uma câmara divertida de utilizar, ergonomicamente bem pensada (aquele comando vertical, que uso para regular a abertura, é simplesmente genial) e tirar fotografias com ela é um verdadeiro prazer. As cores da Olympus são magníficas, muito vivas mas sem perderem a naturalidade, e a definição é verdadeiramente excepcional. É também uma câmara com a qual se pode ser criativo, já que tem os mesmos comandos e modos que as reflex de acesso. Na verdade, há algumas semanas fui ao Centro Português de Fotografia com um amigo que tem uma 1000D. Comparando as fotografias que tirámos, as únicas em que a Canon tinha vantagem eram aquelas tiradas em lugares pouco iluminados, em que o meu amigo usou o flash; em todas as outras, a E-P1 mostrou-se, no mínimo, igual. (Para dizer a verdade, estou a ser simpático e humilde: as fotos que tirei trucidam as do meu amigo!)
Centro Português de Fotografia, antiga Cadeia da Relação, Porto
A falta de um flash não me perturba - o máximo que poderia instalar seria um flash com um GN 14, o que é pouco melhor que o GN 12 da maioria dos flash incorporados nas reflex -, e também não sinto muito a falta de um visor (outra omissão criticada à E-P1). O que me perturba, na minha câmara, é o ruído na imagem quando a luz é escassa, e este é um problema que a afecta até quando se usa o ISO no mínimo. E não há maneira de remediar este problema: o uso do redutor do ruído ou a regulação do filtro para o máximo ajudam a eliminar algum excesso de ruído - à custa dos pormenores subtis, que ficam esbatidos e indefinidos. Há dias fui fotografar à noite e esqueci-me de regular o ISO para o mínimo - dois dias depois de ter estado a fotografar uma cascata com ISO 400. O resultado foi um verdadeiro desastre: todas as fotografias ficaram inutilizadas pelo nível de ruído!
O outro grande problema é a focagem. Com a pancake de 17mm, a focagem é bastante rápida, mas com a 40-150 é desesperante. Se a velocidade fosse o único problema da focagem, nem sequer seria grande motivo de queixa, mas a Pen E-P1 recusa-se a focar automaticamente quando a luz natural começa a desaparecer. É um espectáculo patético ver a lente andar para trás e para diante à procura de um ponto contrastado para focar, e no fim acabar por se recusar a fazê-lo. (Curiosamente, já utilizei o disparo sequencial e o desempenho da câmara é bastante aceitável: vá lá perceber-se isto...) É necessário referir que a primeira coisa que fiz com a câmara, depois de carregar a bateria - o que também não é nada rápido... -, foi ligá-la ao computador e descarregar a última versão de firmware (1.4), que pretensamente melhorou a focagem. Nem quero imaginar como seria o desempenho da E-P1 com a versão 1.0!
Prefiro encarar a minha relação com a Pen como as relações humanas e aceitar as suas imperfeições, tal como aceito os defeitos das pessoas. A questão que devo ponderar é até quando vou poder viver com estes defeitos: será o divórcio inevitável, ou aprenderei a ser tolerante e a conviver com a minha parceira de aventuras fotográficas? Uma coisa é certa - a paixão já arrefeceu. O prazer de fotografar mantém-se, mas com uma nuvem carregada pairando sobre ele.
A Pen E-P3
Quanto à E-P3, não me parece que valha a pena substituir a E-P1 por ela. Andei pela Internet e dei com as famosas comparações em estúdio da Digital Photography Review. O desempenho da E-P3 com níveis elevados de ISO é simplesmente lamentável. Provavelmente a culpa é do tamanho do sensor, ou de um filtro de ruído deliberadamente pouco intrusivo para não se perder demasiado pormenor - não sei dizer ao certo. O que sei é que não se justifica fazer o upgrade, até porque a qualidade da imagem não constitui uma evolução da noite para o dia em relação à E-P1. Pelo contrário, é difícil descobrir diferenças entre as imagens produzidas por ambas. O problema está, provavelmente, no próprio formato Micro Quatro Terços, que é, sem dúvida, uma evolução notória em relação às câmaras compactas, mas tem limitações indisfarçáveis. A minha próxima câmara será uma reflex. E não sei se será uma Olympus - a menos que façam uma DSLR com um estilo reminiscente da OM-1. 

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