quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Photoshop e eu

É uma das minhas grandes angústias na fotografia: dou ou não o salto para o Photoshop? O meu mentor, Fernando Aroso, avisou-me: «tem de ter o Photoshop», mas também me disse para comprar uma reflex Nikon e eu, olimpicamente, ignorei-o. (Perceberam o trocadilho? «olimpicamente»... e eu comprei uma Olympus... oh, esqueçam!) E não foi só Fernando Aroso: aliás, hoje em dia mais parece que toda a gente considera o Photoshop uma ferramenta imprescindível para o fotógrafo.
Tenho, até hoje, resistido ao seu uso por uma miríade de razões: antes de mais, o preço. Por que hei-de dar uma fortuna por um programa quando as minhas necessidades se resumem a um pouco mais de contraste e menos brilho nesta ou naquela fotografia, algo que posso fazer com o software que veio com a câmara (no caso o Olympus Master 2.3), e que poderei não voltar a necessitar, se o filtro polarizador que comprei hoje mesmo der os resultados que espero? O software que vem com a câmara é gratuito; um filtro custa menos de €40, o Photoshop custa bem mais. A única necessidade de edição que verdadeiramente sinto é endireitar as fotografias que saem desniveladas - tenho a impressão que os indicadores de nível da E-P1 não são muito exactos -, mas isso posso fazer com software livre, como o Gimp.
A minha grande objecção quanto ao Photoshop é que ele nega a necessidade de aperfeiçoar a técnica fotográfica. Tenho o receio de, se tiver o Photoshop, cair na tentação de estagnar tecnicamente por saber que o Ps estará lá para suprir as deficiências da fotografia e da câmara. O Ps levanta a questão da necessidade de uma boa câmara, e de aprender a controlá-la e a dominar as técnicas da fotografia: para quê tanto trabalho e despesa se, mesmo fotografando com uma compacta qualquer, se consegue manipular uma fotografia de maneira a obter resultados espectaculares?
Não nego a necessidade do Ps em determinadas circunstâncias: na fotografia profissional, concedo que o Ps é uma ferramenta indispensável. Para as minhas necessidades (que tenho a certeza de serem as mesmas de 80% dos fotógrafos), é supérfluo. Os meus conceitos de fotografia não incluem a manipulação da imagem a ponto de a tornar em algo de completamente diferente daquilo que vi. Claro que o Ps também é útil para remover objectos inestéticos ou indesejáveis da fotografia e, tanto quanto sei, tem ferramentas que removem o ruído e as aberrações cromáticas, mas, a despeito de estas funções serem de uma utilidade indiscutível, não é nada que o software livre não consiga fazer: na fotografia acima havia um cabo eléctrico ligando o farol a um edifício adjacente, que ficaria ridículo e estragaria a imagem por completo se não o tivesse removido; mas isso - essa remoção do que está lá na realidade - não será, quando levado ao extremo, a negação da fotografia? A fotografia é uma ilusão; deverá ser também uma mentira?
A verdadeira razão de ser que, quanto a mim, justifica a existência do Ps, é a possibilidade que este dá de recuperar fotografias únicas que, por qualquer motivo, saíram mal. Pode dar-se o caso de se tirar uma fotografia que imaginámos belíssima quando a captámos e, uma vez descarregada, descobrirmos que ela ficou com demasiado ruído, subexposta ou com aquele halo de luz típico de quando se usam aberturas excessivas. Neste tipo de casos consigo conceber o uso do Ps. Vou mais longe: em situações como estas o Ps pode salvar uma fotografia.
É possível que venha a aderir ao Photoshop, pelo simples motivo de que não sou dogmático: não faço questão de morrer como o único fotógrafo do mundo que não usava o Ps. Mas, se o usar, de certeza que não vai ser para falsear aquilo que os meus olhos viram e a câmara captou.

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